domingo, 30 de abril de 2023

PIEDADE

 

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PIEDADE

Mas é grande ganho a piedade com contentamento.

Paulo (I TIMÓTEO, 6:6).

Fala-se muito em piedade na Terra, todavia, quando assinalamos referências a semelhante virtude, dificilmente discernimos entre compaixão e humilhação.

– Ajudo, mas este homem é um viciado.

– Atenderei; entretanto, essa mulher é ignorante e má.

– Penalizo-me; contudo, esse irmão é ingrato e cruel.

– Compadeço-me; todavia, trata-se de pessoa imprestável.

Tais afirmativas são reiteradas a cada passo por lábios que se afirmam cristãos.

Realmente, de maneira geral, só encontramos na Terra essa compaixão de voz macia e mãos espinhosas.

Deita mel e veneno.

Balsamiza feridas e dilacera-as.

Estende os braços e cobra dívidas de reconhecimento.

Socorre e espanca.

Ampara e desestimula.

Oferece boas palavras e lança reptos hostis.

Sacia a fome dos viajores da experiência com pães recheados de fel.

A verdadeira piedade, no entanto, é filha legítima do amor.

Não perde tempo na identificação do mal.

Interessa-se excessivamente no bem para descurar-se dele em troca de ninharias e sabe que o minuto é precioso na economia da vida.

O Evangelho não nos fala dessa piedade mentirosa, cheia de ilusões e exigências. Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã, encontra recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica destrutiva e sabe semear o bem, fortificar-lhe os germens, cultivar-lhe os rebentos e esperar-lhe a frutificação.

Diz-nos Paulo que a “piedade com contentamento” é “grande ganho” para a alma e, em verdade, não sabemos de outra que nos possa trazer prosperidade ao coração.

NOSSA REFLEXÃO

Ser piedoso é sinal de elevação, pois quem doa, do que já conseguiu amealhar de elevação espiritual, doa sem humilhar[1].

De nada adianta humilhar quem já sofre, só por ter que pedir ou necessitar da ajuda de terceiros (as). A caridade material deve ser complementada com a caridade moral.[2]

Com relação à piedade, sabemos que quem sofre por necessidade material, também pode estar sofrendo moralmente na hora de pedir. E isto deve ser uma prova ou expiação na vida atual do necessitado.

O Cristo nos ensinou a dar a atenção aos mais pequeninos, pois isso seria levado em conta, ao deixarmos o plano material, como falou pra nós na Parábola do Juízo Final (MATEUS, 25:31 a 46). A. Kardec nos oferece a seguinte reflexão sobre essa Parábola:

Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles.[3]

Emmanuel, nessa mensagem, ora refletida, traz um corroboração sua com essa interpretação de A. Kardec: “Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã, encontra recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica destrutiva [...]”.

Devemos aprofundar, então, sobre o significado moral da virtude piedade. O Espírito Miguel, colaborador da Codificador da Doutrina Espírita, a define e nos motiva a exercê-la:

A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais![4]

Sejamos, então, piedosos, pois já necessitamos e ainda necessitamos da piedade de Deus, de Jesus, do nosso Anjo da Guarda e de irmãos encarnados verdadeiramente piedosos.

Que nos ajude.

Domício.


[1] Refletimos sobre a mensagem anterior a essa, que traz pra nós o verdadeiro sentido de doar do que tem. Vide em Há muita diferença.
[2] Tratamos dessa complementariedade dessas duas caridades na mensagem Há muita diferença.
[3] Vide a íntegra da dissertação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV (Fora da Caridade não há Salvação), Item 3.
[4]
Vide a íntegra da Orientação do Espírito Miguel em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 17.

domingo, 23 de abril de 2023

HÁ MUITA DIFERENÇA

106
HÁ MUITA DIFERENÇA

E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou.

(ATOS, 3:6).

É justo recomendar muito cuidado aos que se interessam pelas vantagens da política humana, reportando-se a Jesus e tentando explicar, pelo Evangelho, certos absurdos em matéria de teorias sociais.

Quase sempre, a lei humana se dirige ao governado, nesta fórmula: – “O que tens me pertence.”

O Cristianismo, porém, pela boca inspirada de Pedro, assevera aos ouvidos do próximo: – “O que tenho, isso te dou.”

Já meditaste na grandeza do mundo, quando os homens estiverem resolvidos a dar do que possuem para o edifício da evolução universal?

Nos serviços da caridade comum, nas instituições de benemerência pública, raramente a criatura cede ao semelhante aquilo que lhe constitui propriedade intrínseca.

Para o serviço real do bem eterno, fiar-se-á alguém nas posses perecíveis da Terra, em caráter absoluto?

O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades com os necessitados do seu caminho, entretanto, não fixará em si mesmo a luz e a alegria que nascem dessas dádivas, se as não realizou com o sentimento do amor, que, no fundo, é a sua riqueza imperecível e legítima.

Cada individualidade traz consigo as qualidades nobres que já conquistou e com que pode avançar sempre, no terreno das aquisições espirituais de ordem superior.

Não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de ajudar a si próprio.

NOSSA REFLEXÃO

Tudo na Terra, materialmente falando, é provisório para o Espírito encarnado. Ninguém possui nada que temporariamente administra. Na verdade, muitos perdem ou lhes é tirado por não ter administrado bem. Nada nos é dado, ao longo da vida, para apenas nosso usufruto. Temos que multiplicar, como está grafado na Parábola dos Talentos (Mateus, 25:14 a 30.)[1]

Portanto, o que vamos passando a ter ao longo da nossa vida espiritual é de natureza espiritual. Se temos o “ouro”, é muito caridoso doar a quem precisa. Trata-se da caridade material. Contudo, esta deve ser acompanhada da caridade moral. Mas podemos não ter nada de natureza material, mas podemos de ter de espiritual.

O Espírito Irmã Rosália no faz a diferença entre as duas.

A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral. Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra.[2]

A caridade moral é o que de fato podemos dar em qualquer situação possível na relação com o nosso semelhante.

Mas é interessante entendermos mais profundamente qual é a nossa verdadeira propriedade.

O Espírito Pascal nos ilumina:

O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura (grifos nossos).[3]

É notório que não conseguimos levar nada pra o plano espiritual, sem não nós mesmos, com a bagagem que fomos arrumando ao longo da vida. Ao deixar o nosso invólucro, passamos a ser a nossa mala e o conteúdo. De repente, só uma mala (como dizem no popular: a pessoa é uma mala). Conteúdo que é bom, nada.

Devemos, como Emmanuel nos faz atentar, nesta página, ora refletida: “não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de ajudar a si próprio”.

Corroborando consigo mesmo, Emmanuel em Possuímos o que damos[4], do livro Fonte Viva, nos faz pensar:

Sem dúvida, em nos reportando aos bens materiais, há sempre mais alegria em ajudar que em ser ajudado, contudo, é imperioso não esquecer os bens espirituais que, irradiados de nós mesmos, aumentam o teor e a intensidade da alegria em torno de nossos passos.

E corroborando com Pedro, na mesma obra acima citada, afirma: “Possuímos aquilo que damos.”

Então, é muito oportuno que tenhamos em mente que estejamos preparado pra doar do que já possuímos e refletir sobre o que já possuímos, pra podermos doar sempre mais do que uma moeda. Nem sempre temos uma moeda. Então, que possamos doar o que possuímos ou temos realmente, conforme os Espíritos aqui citados.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, a partir do Item 7.
[2] Vide mensagem na íntegra em em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 7.
[3] Vide mensagem na íntegra em em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Item 9.
[4]
Neste link, temos nossa reflexão à mensagem sob esse título.

domingo, 16 de abril de 2023

OBSERVAÇÃO PRIMORDIAL

 

105
OBSERVAÇÃO PRIMORDIAL

E Jesus respondeu-lhe: o primeiro de todos os mandamentos é: ouve, ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só.

(MARCOS, 12:29).

Replicando ao escriba que o interpelou, com  relação ao primeiro de todos os mandamentos, Jesus precede o artigo inicial do Decálogo de observação original que merece destacada.

Antes de todos os programas de Moisés, das revelações dos Profetas e de suas próprias bênçãos redentoras no Evangelho, o Mestre coloca uma declaração enérgica de princípios, conclamando todos os espíritos ao plano da unidade substancial. Alicerçando o serviço salvador que Ele mesmo trazia das esferas mais altas, proclama o Cristo à Humanidade que só existe um Senhor Todo-Poderoso – o Pai de infinita Misericórdia.

Sabia, de antemão, que muitos homens não aceitariam a verdade, que almas numerosas buscariam escapar às obrigações justas, que surgiriam retardamento, má vontade, indiferença e preguiça, em torno da Boa-Nova; no entanto, sustentou a unidade divina, a fim de que todos os aprendizes se convencessem de que lhes seria possível envenenar a liberdade própria, criar deuses fictícios, erguer discórdias, trair provisoriamente a Lei, estacionar nos caminhos, ensaiar a guerra e a destruição, contudo, jamais poderiam enganar o plano das verdades eternas, ao qual todos se ajustarão, um dia, na perfeita compreensão de que “o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só”.

REFLEXÃO

Emmanuel cuida, nesta mensagem, de nos chamar a atenção da unicidade de um criador de todos nós, que é Deus. Sim, não fomos criados por mais de um. E aos nos criar, Ele também estabeleceu Suas Leis, grafando-as em nossa consciência[1]. Desse modo, devemos guardar, cada vez mais, semelhança com Ele, a partir do conhecimento e cumprimento de Suas Leis. A ideia é que em estado de pureza espiritual (estado em que poderemos ver a Deus, como o Cristo o via/vê e guardava/guarda verdadeira sintonia)[2], teremos, conforme Emmanuel, nesta mensagem, a “[...] perfeita compreensão de que “o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só”.

O Cristo teve o zeloso cuidado que tivéssemos essa sintonia com o Pai. Em vário momentos ele se reportou a Deus como o nosso Pai e que Ele cumpria todas as suas vontades.

Ao resumir o Décalogo de Moiséis, Ele colocou o Pai na condição de Supremo, como A. Kardec nos esclarece:

Amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo”, e acrescentando: aí estão a lei toda e os profetas. Por estas palavras: “O céu e a Terra não passarão sem que tudo esteja cumprido até o último iota”, quis dizer Jesus ser necessário que a Lei de Deus tivesse cumprimento integral, isto é, fosse praticada na Terra inteira, em toda a sua pureza, com todas as suas ampliações e consequências.[3]

Isto mostrou-se ser compreendido pelos Espíritos Superiores quando responderam à primeira pergunta de O Livro dos Espíritos: 1) Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

Ao nos orientar a orar a Deus, o Cristo iniciou a prece dominical com a exaltação: “Pai Nosso[4], que estás no céu, santificado seja o teu nome!”[5]

Então, devemos ter a compreensão que temos uma Lei a cumprir, e que, a cumprindo, estaremos fadados à felicidade dos justos, merecedores de habitar o Reino dos Céus.

Que o Pai nos ajude.

Domício.


[1] Vide O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Cap. I (Das Leis Morais), Questão 621 - Onde está escrita a Lei de Deus? “Na consciência.”
[2] Vide Vide O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Cap. VI (Da vida espírita), Questão 244 – Os Espíritos veem a Deus? “Só os Espíritos superiores o veem e compreendem. Os inferiores o sentem e adivinham.”
[3] Vide na íntegra em O Evangelho Segundo o Espíritismo, Cap. I, Item 3.
[4] Vide mensagem de Emmanuel, intitulada Pai Nosso, do livro Fonte Vida, refletida por nós.
[5]
Vide desdobramento, por Allan Kardec, desse início da oração, em O Evangelho Segundo o Espíritismo, Cap. XXVIII, Item 3.

domingo, 9 de abril de 2023

DIREITO SAGRADO

 

104
DIREITO SAGRADO

Porque a vós foi concedido, em relação ao Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele.

Paulo (FILIPENSES, 1:29).

Cooperar pessoalmente com os administradores humanos, em  sentido direto, sempre constitui objeto da ambição dos servidores dessa ou daquela organização terrestre.

Ato invariável de confiança, a partilha da responsabilidade, entre o superior que sabe determinar e fazer justiça e o subordinado que sabe servir, institui a base de harmonia para a ação diária, realização essa que todas as instituições procuram atingir.

Muitos discípulos do Cristianismo parecem ignorar que, em relação a Jesus, a reciprocidade é a mesma, elevada ao grau máximo, no terreno da fidelidade e da compreensão.

Mais entendimento do programa divino significa maior expressão de testemunho individual nos serviços do Mestre.

Competência dilatada – deveres crescidos.

Mais luz – mais visão.

Muitos homens, naturalmente aproveitáveis em certas características intelectuais, mas ainda enfermos da mente, desejariam aceitar o Salvador e crer nele, mas não conseguem, de pronto, semelhante edificação íntima. Em vista da ignorância que não removem e dos caprichos que acariciam, falta-lhes a integração no direito de sentir as verdades de Jesus, o que somente conseguirão quando se reajustem, o que se faz indispensável.

Todavia, o discípulo admitido aos benefícios da crença, foi considerado digno de conviver espiritualmente com o Mestre. Entre ele e o Senhor já existe a partilha da confiança e da responsabilidade. Contudo, enquanto perseveram as alegrias de Belém e as glórias de Cafarnaum, o trabalho da fé se desdobra maravilhoso, mas, em sobrevindo a divisão das angústias da cruz, muitos aprendizes fogem receando o sofrimento e revelando-se indignos da escolha. Os que assim procedem, categorizam-­se à conta de loucos, porquanto, subtrair-se à colaboração com o Cristo, é menosprezar um direito sagrado.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, nesta mensagem, começa chamando a nossa atenção pra a relação entre inferiores e superiores numa relação trabalhista da administração no mundo de César.

Então, ele ressalta: “Ato invariável de confiança, a partilha da responsabilidade, entre o superior que sabe determinar e fazer justiça e o subordinado que sabe servir, institui a base de harmonia para a ação diária, realização essa que todas as instituições procuram atingir.”(grifos nossos).

Isto nos faz refletir que o pensamento de Emmanuel está consonante com a obra que ajudou a realizar: a Doutrina Espírita. Deste modo, o Espírito François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot nos faz refletir, também, que

A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade.[...] Se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem.[1]

Deste modo, tanto o superior, como o inferior, deve cumprir uma relação de dever e respeito um para com o outro. Isto, hoje, está previsto nas leis trabalhistas,  protegendo o funcionário dos abusos de autoridade do seu superior. Isto deve ser, sim, ressaltado pra que fatos de abusos não ocorram. Fruto de uma evolução na relação entre o empregador e o empregado.

Refletindo na relação com o Cristo, sabemos que Ele tinha uma relação muito íntima com o Pai. E assim, cumpriu sua missão na base do sofrimento, no final dela. Então, fazer o trabalho cristão, muitas vezes requer um compromisso muito íntimo com o Cristo e pode, também, significar sacrifício e até mesmo perseguição, como ainda hoje, existe, mundo afora, tendo começado nos primórdios do Cristianismo. Mas o Cristo não deixou seus seguidores desamparados e nem desperançados, pois garantiu que nenhum sofrimento vivido em seu nome seria em vão.[2]

Contudo, na atualidade, é notório ressaltar que, no Brasil, existe a Lei 14.532 de 11 de janeiro de 2023, que dá a toda pessoa a liberdade de culto.[3]

Portanto, a humanidade evoluiu em relação à proteção aos que se dedicam ao trabalho do Cristo, do modo que entende, cada um ou cada uma, conforme sua religião cristã, ou mesmo sem ser cristã (como denominação), mas mesmo assim, pratica o que o Cristo nos ensinou.

Que Deus nos ajude a sermos integrados com o Cristo, num tempo em que padecimentos já se encontram muito minizados. De muito longe, já viemos. Graças a Deus.

Domício.



[1] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 9.
[2] Bem-aventurados os famintos de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Ditosos sereis, quando os homens vos carregarem de maldições, vos perseguirem e falsamente disserem contra vós toda espécie de mal, por minha causa. Rejubilai-vos, então, porque grande recompensa vos está reservada nos céus, pois assim perseguiram eles os profetas enviados antes de vós (MATEUS, 5:6 e 10 a 12). Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII, item 51.
[3] “Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei do Crime Racial), e o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar como crime de racismo a injúria racial, prever pena de suspensão de direito em caso de racismo praticado no contexto de atividade esportiva ou artística e prever pena para o racismo religioso e recreativo e para o praticado por funcionário público”. Disponível em Lei 14.532 de 11 de janeiro de 2023. Acesso em 09 abr. 2023.

domingo, 2 de abril de 2023

CRUZ E DISCIPLINA

103
CRUZ E DISCIPLINA

E constrangeram um certo Simão Cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz”.

MARCOS (15:21).

Muitos estudiosos do Cristianismo combatem as recordações da cruz, alegando que as reminiscências do Calvário constituem indébita cultura de sofrimento.

Asseveram negativa a lembrança do Mestre, nas horas da  crucificação, entre malfeitores vulgares.

Somos, porém, daqueles que preferem encarar todos os dias do Cristo por gloriosas jornadas e todos os seus minutos por divinas parcelas de seu ministério sagrado, ante as necessidades da alma humana.

Cada hora da presença dele, entre as criaturas, reveste-se de beleza particular e o instante do madeiro afrontoso está repleto de majestade simbólica.

Vários discípulos tecem comentários extensos, em derredor da cruz do Senhor, e costumam examinar com particularidades teóricas os madeiros  imaginários que trazem consigo.

Entretanto, somente haverá tomado a cruz de redenção que lhe compete aquele que já alcançou o poder de negar a si mesmo, de modo a seguir nos passos do divino Mestre.

Muita gente confunde disciplina com iluminação espiritual.

Apenas depois de havermos concordado com o jugo suave de Jesus Cristo, podemos alçar aos ombros a cruz que nos dotará de asas espirituais para a vida eterna.

Contra os argumentos, quase sempre ociosos, dos que ainda não compreenderam a sublimidade da cruz, vejamos o exemplo do Cireneu, nos momentos culminantes do Salvador. A cruz do Cristo foi a mais bela do mundo, no entanto, o homem que o ajuda não o faz por vontade própria e, sim, atendendo a requisição irresistível. E, ainda hoje, a maioria dos homens aceita as obrigações inerentes ao próprio dever, porque a isso é constrangida.

NOSSA REFLEXÃO

Belíssima página, essa de Emmanuel. Simbolicamente, traduz a cruz num salto espiritual, se ela não se torna um estorvo pra quem a carrega.

Em nossa vida, em geral, queremos facilidades pra seguir tranquilamente. Contudo, nossa vida não é um passeio de férias. Não. É uma estrada em direção a um Reino de luz e amor. Uma estrada cheia de obstáculos, como aqueles que os maratonistas tem que superar pra chegar ao ponto de chegada, onde lhe aguardam seus admiradores, batendo palmas pela sua conquista.

Nós precisamos ter em mente que, de alguma sorte, escolhemos o caminho mais promissor pra termos, pra com muito esforço alçarmos o pódio da vitória. Cada um escolhe o seu e todos chegam no destino. Nesse caso, na maratona da vida, ninguém compete com ninguém, mas consigo mesmo. Devemos vencer a nós mesmos pra chegarmos onde almejamos chegar: o Reino dos Céus.

Na estrada da vida, não poderemos nos comportar como o Cireneu, que precisou ser intimado a ajudar a carregar a cruz de alguém. Com certeza, na nossa caminhada, encontraremos alguém como aquele que foi assaltado por ladrões e deixado ferido na estrada. Muitos passaram por ele, ignorando-o, pois estavam apressados com os seus compromissos, mas só um bom samaritano (Lucas, 10:25 a 37)[1] teve piedade do assaltado e, caridosamente, deteve a sua caminhada pra ajudar alguém necessitado de seguir a sua. A Parábola do Bom Samaritano foi contada por Jesus quando um Doutor da Lei lhe perguntou: “Quem é o meu próximo?”

A. Kardec faz uma alusão ao samaritano quando interpreta a Parábola do Juízo Final (Mateus, 25:31 a 46):

Naquele julgamento supremo [o juízo final], quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. (grifos nossos).[2]

Então, o laurel de nossa maratona, a nossa medalha, não é a nossa chegada, mas o que fizemos pra chegar a ela. Se nos importamos com todos que cruzaram o nosso caminho. Isto é, se ajudamos a carregar suas cruzes, dentro de nossas limitações que são potencializadas pela espiritualidade que nos acompanham, nossos técnicos, torcendo pelo nosso sucesso moral ao longo do nosso caminho. Uma das dicas que nos darão é apresentando (intuitivamente, não de forma ostensiva, como ocorreu com Simão Cirineu) uma pessoa (ou mais) que necessita de alguém que lhe ajude a carregar a sua cruz, como muitas vezes precisamos também.

A cada dia, devemos fazer nosso diário (nem sempre fazemos) como Santo Agostinho nos ensinou, pra que no dia seguinte, possamos fazer correções, ajustar os nossos passos, não pensando exclusivamente em nós, mas no semelhante também[3]. Nesse diário, devemos lembrar como nos comportamos com os problemas das pessoas que observamos ao longo do dia.

Que não sejamos qual o Simão Cireneu, mas como o bom samaritano, em nossas vidas.

Que Deus nos ajude e nossos anjos guardiães, também.

Domício.

Ofereço aos leitores um checklist pra pensarmos ao fim do dia, elaborado por mim, mas assinado com meu pseudônimo (L. Angel).

 Aos modos de Santo Agostinho

Por L. Angel

09/05/2022

(O Livro dos Espíritos, Parte Terceira (Das Leis Morais), Cap. XII, Questão 919)

Pensemos as seguintes questões quando formos nos deitar ao fim do dia:

·         Fui empático ao responder uma demanda de uma pessoa? Não coloquei dificuldades para ajudar?

·         Cumpri meu dever como trabalhador?

·         Dialoguei com paciência quanto a uma necessidade/dificuldade de uma pessoa?

·         Expulsei pensamentos maliciosos, desesperançosos, estagnantes?

·         Contribuí em processos familiares com paciência, tolerância e benevolência?

·         Fui indulgente para com as faltas das pessoas?

·         Pensei/desejei mal à uma pessoa má?

·         Não coloquei minhas necessidades na frente das de outras pessoas que me procuraram?

·         Cuidei com paciência e resignação minhas doenças?

·         Não exigi das outras pessoas mais do que elas possam dar?

·         Não exigi de mim mais do que eu posso dar?

·         Perdoei-me ao lembrar de uma falta minha no passado?

·         Agradeci a Deus por tudo que tenho ou que perdi?

Conhecer é patrocinar a libertação de nós mesmos, colocando-nos a caminho de novos horizontes (Emmanuel-Chico Xavier – Pensamento e Vida (Instrução)).

E pra de modo poético, ofereço outra reflexão, também de L. Angel.

Nenhum peso se carrega sozinho

L. Angel        06/09/2019

A vida se torna uma pesada cruz,
Difícil de, com ardor, carregar.
Mas a busca de uma luz
Foi a força para, ao Gólgota, chegar.

A vida se torna algo insuportável,
Difícil de, com louvor, encarar.
Mas a busca de uma pessoa amável
É um passo para deixar a vida continuar.

Caiu em estado de letargia?
Levanta e entrega a mão a quem te oferece ajuda.
A fraternidade é o remédio que, qualquer dor, alivia.

O que antes era um peso insuportável,
Não será mais, de uma planta, uma muda.
Seremos fortes e, juntos, teremos uma vida aceitável.



[1] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, Item 3.
[2] Idem.
[3] Vide orientações em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira (Das Leis Morais), Cap. XII, Questão nº 919.