domingo, 28 de abril de 2024

O FILHO EGOÍSTA

 157
O FILHO EGOÍSTA

Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo, há tantos anos, sem jamais transgredir um mandamento teu, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos.

(LUCAS, 15:29).

A parábola não apresenta somente o filho pródigo. Mais aguçada atenção e encontraremos o filho egoísta.

O ensinamento velado do Mestre demonstra dois extremos da ingratidão filial. Um reside no esbanjamento; o outro, na avareza. São as duas extremidades que fecham o círculo da incompreensão humana.

De maneira geral, os crentes apenas enxergaram o filho que abandonou o lar paterno, a fim de viver nas estroinices do escândalo, tornando-se credor de todas as punições; e raros aprendizes conseguiram fixar o pensamento na conduta condenável do irmão que permanecia sob o teto familiar, não menos passível de repreensão.

Observando a generosidade paterna, os sentimentos inferiores que o animam sobem à tona e ei-lo na demonstração de sovinice.

Contraria-o a vibração de amor reinante no ambiente doméstico; alega, como autêntico preguiçoso, os anos de serviço em família; invoca, na posição de crente vaidoso, a suposta observância da Lei divina e desrespeita o genitor, incapaz de partilhar-lhe o justo contentamento.

Esse tipo de homem egoísta é muito vulgar nos quadros da vida. Ante o bem-estar e a alegria dos outros, revolta-se e sofre, através da secura que o aniquila e do ciúme que o envenena.

Lendo a parábola com atenção, ignoramos qual dos filhos é o mais infortunado, se o pródigo, se o egoísta, mas atrevemo-nos a crer na imensa infelicidade do segundo, porque o primeiro já possuía a bênção do remorso em seu favor.

NOSSA REFLEXÃO

Eis uma situação singular: num mesmo contexto familiar encontramos dois seres que representam os extremos de atitudes em relação à riqueza – a prodigalidade e a avareza.

Um, como Emmanuel nos diz, foi abençoado pelo “[...] remorso em seu favor” e o outro iniciou sua infelicidade pelo egoísmo que revelou, cobrando sua servidão ao pai e se envenando pelo ciúme.

O remorso e o arrependimento são duas atitudes que nos ajustam perante a Lei de Deus. Como Deus é misericordioso, infinitamente, Ele, conforme nos esclarece o Espírito Lamenais: “O Pai vos estende os braços e está sempre pronto a festejar o vosso regresso ao seio da família.”[1] Isto que o Cristo quis nos ensinar com a Parábola, quando nós nos afastamos das Leis de Deus.

A riqueza, como a pobreza, são provas de ascensão para o Espírito.

A. Kardec, discorrendo sobre a riqueza, e confrontando com a pobreza, nos ilumina:

Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão.[2]

Mas sendo rico, que atitude deve ter aquele possuidor de uma riqueza? A prodigalidade seria um exemplo de desprendimento material?

Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, frequentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los (Larcodaire, 1863).[3]

Então, não devemos ser nem avarentos e nem pródigos. Quem muito abusa do que possui, acaba por ficar sem nada: pobre. Seja na existência em que abusou ou em existência futura.

Que sejamos bons usufrutuários do que temos e resignados, mas sem deixar de lutar por melhoria, quando nos faltar tudo.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide em O Livro dos Espíritos, Parte Quarta – Cap. II, Questão 1009 (Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?)
[2] Vide dissertação de A. Kardec, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), Item 7 (Utilidade providencial da riqueza. Provas da riqueza e da miséria).
[3] Vide dissertação do Espírito Lacordaire, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), Item 14 (Desprendimento dos bens terrenos).

domingo, 21 de abril de 2024

CÉU COM CÉU

 156
CÉU COM CÉU

Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam.

Jesus (MATEUS, 6:20).

Em todas as fileiras cristãs se misturam ambiciosos de recompensa que presumem encontrar, nessa declaração de Jesus, positivo recurso de vingança contra todos aqueles que, pelo trabalho e pelo devotamento, receberam maiores possibilidades na Terra.

O que lhes parece confiança em Deus é ódio disfarçado aos semelhantes.

Por não poderem açambarcar os recursos financeiros à frente dos olhos, lançam pensamentos de critica e rebeldia, aguardando o paraíso para a desforra desejada.

Contudo, não será por entregar o corpo ao laboratório da natureza que a personalidade humana encontrará, automaticamente, os planos da Beleza resplandecente.

Certo, brilham santuários imperecíveis nas esferas sublimadas, mas é imperioso considerar que, nas regiões imediatas à atividade humana, ainda encontramos imensa cópia de traças e ladrões, nas linhas evolutivas que se estendem além do sepulcro.

Quando o Mestre nos recomendou ajuntássemos tesouros no céu, aconselhava-­nos a dilatar os valores do bem, na paz do coração. O homem que adquire fé e conhecimento, virtude e iluminação, nos recessos divinos da consciência, possui o roteiro celeste. Quem aplica os princípios redentores que abraça, acaba conquistando essa carta preciosa; e quem trabalha diariamente na prática do bem, vive amontoando riquezas nos Cimos da Vida.

Ninguém se engane, nesse sentido.

Além da Terra, fulgem bênçãos do Senhor nos páramos celestiais; entretanto, é necessário possuir luz para percebê-­las.

É da Lei que o Divino se identifique com o que seja Divino, porque ninguém contemplará o céu se acolhe o inferno no coração.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, a partir de Lucas que nos apresenta uma fala de Jesus, nos lembra da necessidade de nos vigiarmos quanto a querer, nesse mundo, o que outras pessoas detém para si.

No plano espiritual os valores materiais não têm valor nenhum. O que cada um de nós detemos, devolveremos involuntariamente ao deixar o corpo físico, na volta a pátria espiritual. E lá, os valores que serão contados serão aquilo que, de fato, passamos a ter, em termos de valores morais na passagem efêmera pela vida física.

Emmanuel, nos lembra muito bem sobre isso na mensagem intitulada Esmola, grafada no livro Fonte Viva (Chico Xavier – FEB): “Dar o que temos é diferente de dar o que detemos”. Entendemos que isto é o que “[...] nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam” (MATEUS, 6:20).

Isto nos faz pensar sobre o que precisamos dar mais valor enquanto encarnados. Decerto que não são os bens materiais. O Cristo nos ensinou, orientando aos discípulos como deveriam se portar na divulgação do Seu Evangelho: “Não vos afadigueis por possuir ouro, ou prata, ou qualquer outra moeda em vossos bolsos” (MATEUS, 10:9), indicando-lhes que o Evangelho deveria sobrepor todos as facilidades materiais que quem os recebessem poderiam lhes dar.

Sobre isso, A. Kardec nos esclarece:

A par do sentido próprio, essas palavras guardam um sentido moral muito profundo. Proferindo-as, ensinava Jesus a seus discípulos que confiassem na Providência. Ademais, eles, nada tendo, não despertariam a cobiça nos que os recebessem. Era um meio de distinguirem dos egoístas os caridosos.[1]

Na volta ao plano espiritual, isto, também, é o que nos distinguirá dos demais Espíritos ainda presos aos bens materiais.

Que tenhamos a certeza que além das esmolas materiais, que constituem o que detemos, que distribuímos no dia a dia de nossas vidas, cujo ato é louvável, há que nos empenharmos em exercer a caridade moral, distribuindo o que de fato temos, enquanto Espíritos encarnados. Este é maior tesouro que podemos acumular.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXV (Buscai e Achareis), Item 11.

domingo, 14 de abril de 2024

SUSPENSÃO DA REFLEXÃO

 Caríssimos(as) estudiosos(as) da Doutrina Espírita,

Hoje por motivo profissional, não foi possível realizar a Nossa Reflexão.

No próximo domingo, retorno à essa gratificante atividade espírita.

domingo, 7 de abril de 2024

CONTRA A INSENSATEZ

 155
CONTRA A INSENSATEZ

Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?

Paulo (GÁLATAS, 3:3).

Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que iniciam o esforço na região superior, marchando em sentido inverso para os círculos da inferioridade. Dão, assim, a idéia de homens que partissem à procura de ouro, contentando-se, em seguida, com a lama do charco.

Semelhantes fracassos se fazem comuns, nos vários setores do pensamento religioso.

Observamos enfermos que se dirigem à espiritualidade elevada, alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. Alguns, depois de auxiliados por amigos das esferas sublimadas, em transcendentes questões da vida eterna, pretendem atribuir a esses mesmos benfeitores a função de policiais humanos, na pesquisa de objetivos menos dignos.

Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos do bem; contudo, eis que aparecem horas menos favoráveis e se entregam, inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados anos terrestres em que tentaram servir na lavoura do Mestre Divino e plenamente despreocupados dos períodos multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor.

Tais anomalias espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos procedem dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa.

Trabalhemos, pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa começada, em companhia da humildade, portadora de luz imperecível.

NOSSA REFLEXÃO

Temos na fala de Paulo e na corroboração de Emmanuel, a ele, uma indicação que muitos de nós não se comprometem com o grande arcabouço filosófico obtido com o contato com Espiritismo, a revivência do Evangelho do Cristo, o Consolador prometido pelo Ele.

Há muita fugas do itinerário já percorrido no sentido de compreender a Doutrina Espírita, por quem foge, por não se sentir plenamente contemplado no que diz respeito às aquisições materiais pelo contato com a santa Doutrina.

Há que se perguntar: por que muitos se afastam da Doutrina (não estamos nos referindo ao movimento espírita), depois do contato, estudo, participação em grupos de estudos?

A. Kardec faz a seguinte reflexão sobre a compreensão da Doutrina para um espírita se tornar um bom espírita:

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo. Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhe apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observam, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado (grifos nossos).[1]

Em tratando da aplicação da Parábola do Semeador, o Mestre da Codificação, nos ilumina, ainda, sobre os diversas categorias de espíritas:

Não menos justa aplicação encontra ela nas diferentes categorias espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma consequência tiram deles, porque neles mais não veem do que fatos curiosos? Os que apenas se preocupam com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si próprios? Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?[2]

Com exceção aos últimos, os demais podem ser incluídos entre os que iniciaram no Espírito e seguem presos aos caprichos da carne, da matéria.

Mas se muitos fogem do que o Espírito orienta, quais as caracteríscas de quem continua segundo o Espírito? O Espírito Erasto nos aponta as seguintes, respondendo à pergunta de A. Kardec, que segue:

Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho? Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de sua lei; os que seguem sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, anjo da guarda do médium. (Paris, 1863).[3]

Então, que possamos nos ater, sempre ao Espírito e não à Palavra[4]. Desse modo estaremos seguindo sem se preocupar com as recompensas advindas da aproximação com a Doutrina ou até, mesmo, do movimento espírita.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 4 (Os bons espíritas)
[2] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 6 (Parábola do Semeador)
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores da última hora), Item 4 (Missão dos espíritas)
[4]Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.” (PAULO, II CORÍNTIIOS, 3: 6)

domingo, 31 de março de 2024

OS CONTRÁRIOS

154
OS CONTRÁRIOS

Que diremos pois à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?

Paulo (ROMANOS, 8:31).

A interrogação de Paulo ainda representa precioso tema para a comunidade evangélica dos dias que correm.

Perante nosso esforço desdobra-se campo imenso, onde o Mestre nos aguarda a colaboração resoluta.

Muitas vezes, contudo, grande número de companheiros prefere abandonar a construção para disputar com malfeitores do caminho.

Elementos adversos nos cercam em toda parte.

Obstáculos inesperados se desenham ante os nossos olhos aflitos, velhos amigos deixam-nos a sós, situações favoráveis, até ontem, são metamorfoseadas em hostilidades cruéis.

Enormes fileiras de operários fogem ao perigo, temendo a borrasca e esquecendo o testemunho.

Entretanto, não fomos situados na obra a fim de nos rendermos ao pânico, nem o Mestre nos enviou ao trabalho com o objetivo de confundir-nos através de experiências dos círculos exteriores.

Fomos chamados a construir.

Naturalmente, deveremos contar com as mil eventualidades de cada dia, suscetíveis de nascer das forças contrárias, dificultando-nos a edificação; nosso dia de luta será assediado pela perturbação e pela fadiga. Isto é inevitável num mundo que tudo espera do cristão genuíno.

Em razão de semelhante imperativo, entre ameaças e incompreensões da senda, cabe-nos indagar, bem-humorados, à maneira do apóstolo aos gentios: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel traz-nos a reflexão de Paulo, que consta no caput dessa mensagem, nos lembrando que podemos estar entre diferentes e contrários, sem perder o equilíbrio.

A diferença entre as pessoas num mundo de provas e expiação[1], como o nosso, é o que o caracteriza. Então, ao reencarnarmos, somos chamados, naturalmente, a conviver com os contrários.

Essa relação, por vezes, é até angustiante, mesmo quando debate-se temas comuns a diferentes debatedores.

Segundo Um Espírito Protetor,

Sois chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.[2]

Ou seja, em contato com os diferentes, podemos ser, com a consciência tranquila, nos comportar como aquele que respeita o ponto de vista de qualquer pessoa e que deseja que seja respeitado o seu.

Aliás, é importante que estejamos com a fé do propósito justo em que defendemos, se for para contribuir para a melhoria de vida daqueles por quais defendemos.

Também, não podemos nos desesperançar na luta.

Segundo José, Espírito Protetor:

A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?[3]

A fé nos bons propósitos, pensando na vida futura, é que nos garante firmeza numa luta em um mundo de desiguais.

Desse modo, lembremos que Emmanuel nos exorta, nesta mensagem: “Fomos chamados a construir.”

Que saibamos, então, colaborar na construção de um mundo justo, a partir da nossa própria construção, enquanto espíritos em evolução.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III (Há muitas moradas na casa de meu Pai).
[2] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 10 (O homem no mundo).
[3] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Item 11 (A fé: mãe da esperança e da caridade). 

domingo, 24 de março de 2024

NÃO TROPECEMOS

 153
NÃO TROPECEMOS

Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo.

(JOÃO, 11:9).

O conteúdo da interrogativa do Mestre tem vasta significação para os discípulos da atualidade.

“Não há doze horas no dia?”

Conscientemente, cada qual deveria inquirir de si mesmo em que estará aplicando tão grande cabedal de tempo.

Fala-se com ênfase do problema de desempregados na época moderna. Entretanto, qualquer crise nesse sentido não resulta da carência de trabalho e,  sim, da ausência de boa vontade individual.

Um inquérito minucioso nesse particular revelaria a realidade. Muita gente permanece sem atividade por revolta contra o gênero de serviço que lhe é oferecido ou por inconformação, em face dos salários.

Sobrevém, de imediato, o desequilíbrio.

A ociosidade dos trabalhadores provoca a vigilância dos mordomos e as leis transitórias do mundo refletem animosidade e desconfiança.

Se os braços estacionam, as oficinas adormecem.

Ocorre o mesmo nas esferas de ação espiritual.

Quantos aprendizes abandonam seus postos, alegando angústia de tempo? quantos não se transferem para a zona da preguiça, porque aconteceu isso ou aquilo, em pleno desacordo com os princípios superiores que abraça?

E, por bagatelas, grande número de servidores vigorosos procuram a retaguarda cheia de sombras. Mas aquele que conserva acuidade auditiva ainda escuta com proveito a palavra do Senhor: ”Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia não tropeça.”

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel se refere a uma passagem que antecipou a ressurreição de Lázaro (JOÃO, 11).

A resposta do Mestre Jesus, foi à pergunta de seus discípulos sobre a ida à judeia onde Jesus já havia sido hostilizado.

Contudo, Jesus tinha uma missão muito importante a fazer lá, pois Lázaro, irmão de Marta e Maria (que ungiu os pés de Jesus (JOÃO, 11:2)) havia falecido.

Emmanuel faz, relativa a essa passagem de João, uma possível causa do desemprego: a preguiça ou falta de boa vontade do desempregado. Diz, Emmanuel, sobre isso: “[...] qualquer crise nesse sentido não resulta da carência de trabalho e,  sim, da ausência de boa vontade individual.” Isto que não coaduna com os tempos atuais. Falta, em verdade, postos de serviço. Vide, que há muitos trabalhadores informais que conseguem uma oportunidade de oferecer um serviço nas ruas, praças e transporte coletivo.[1] O que não acontece com todos e todas. Faz-se necessário uma análise sobre isso, para não cairmos na generalização. A sociedade deve fazer sua parte no sentido de criar mais oportunidades de trabalho.

Lembremos que o Cristo foi misericordioso com aqueles que não puderam trabalhar o dia todo por falta de oportunidade. Refiro-me aos trabalhadores da última hora (MATEUS, 20:1 a 16). Pode haver situações que foge a isso, mas não podemos generalizar. Pois emprego depende de ações públicas ou privadas que os geram. A parábola do Trabalhador da Última Hora nos remete, como os Espíritos Superiores nos mostraram, à várias análises constantes em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX. É um capítulo tão sensível, que Allan Kardec se absteve de comentar, pois temos tão somente as Instruções dos Espíritos.

Entendemos que o Emmanuel quis nos dizer, notadamente, que não devemos fugir ao trabalho por motivos externos a nós. Foi legítima a preocupação dos discípulos, sobre o perigo que Jesus corria. E, de fato, logo depois desse episódio, começou a via crucis do Mestre (MATEUS, 26:1-5; MARCOS, 14:1-2; LUCAS, 22:1-6). Lógico que o Mestre sabia o que ia acontecer, mas aproveitou a oportunidade para dar o exemplo aos discípulos, pois estes, depois que Ele se fosse, não teriam facilidade para pregar a Boa Nova. Boa parte deles foram imolado de alguma forma ou mortos no cumprimento de suas missões evangélicas.

Ficou para a nós o ensinamento, também.

Que saibamos cumprir nossas missões, irresolutos, a despeito das dificuldades para alcançar as metas que devem ser justas perante as Leis de Deus.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide que, no Brasil, 13,4 milhões de pessoas vivem do trabalho informal, sem carteira assinada. Disponível Agência Brasil (2024).

domingo, 17 de março de 2024

DE QUE MODO?

 152
DE QUE MODO?

Que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?

Paulo (I CORÍNTIOS, 4:21).

Por vezes, o apóstolo dos gentios, inflamado de sublimes inspirações, trouxe aos companheiros interrogativas diretas, quase cruéis, se consideradas tão somente em sentido literal, mas portadoras de realidade admirável, quando vistas através da luz imperecível.

Em todas as casas cristãs vibram irradiações de amor e paz. Jesus nunca deixou os seguidores fiéis esquecidos, por mais separados caminhem no terreno das interpretações.

Emissários abnegados do devotamento celestial espalham socorro santificante em todas as épocas da humanidade. A História é demonstração dessa verdade inconteste.

A nenhum século faltaram missionários legítimos do bem.

Promessas e revelações do Senhor chegam aos portos do conhecimento, através de mil modos.

Os aprendizes que ingressaram nas fileiras evangélicas, portanto, não podem alegar ignorância de objetivo a fim de esconderem as próprias falhas. Cada qual, no lugar que lhe compete, já recebeu o programa de serviço que lhe cabe executar, cada dia. Se fogem ao trabalho e se escapam ao testemunho, devem semelhante anomalia à própria vontade paralítica.

Eis por que é possível surja um momento em que o discípulo ocioso e pedinchão poderá ouvir o Mestre, sem intermediários, exclamando de igual modo: – “Que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?”

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos lembra da firmeza com que Paulo falou aos Coríntios, se referindo, naquela carta, sobre uma possível contenda que estava ocorrendo entre os membros do grupo a quem ele se dedicava.

Esta mensagem nos leva a refletir, quando focamos em um trabalho pessoal, social e cristão que depende de nós. Como Emmanuel nos diz: “Em todas as casas cristãs vibram irradiações de amor e paz. Jesus nunca deixou os seguidores fiéis esquecidos, por mais separados caminhem no terreno das interpretações”.

Desse modo, seremos, então, cada vez mais felizes se dermos conta dos serviços que recebemos por misericórdia e que devemos cumpri-los com espírito de lealdade, gratidão e companherismo.

No trabalho espírita, em que nos engajarmos, devemos agir de modo a não prejudicar o andamento da obra. Vale destacar a mensagem do Espírito de Verdade sobre isso:

Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!”[1]

Então, que tenhamos isto em mente quando nos dispormos ao trabalho coletivo em uma casa espírita em prol da divulgação do Espiritismo e suas consequências morais.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide a mensagem de O Espírito de Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores da última hora), Item 5 (Os obreiros do Senhor).