domingo, 2 de abril de 2023

CRUZ E DISCIPLINA

103
CRUZ E DISCIPLINA

E constrangeram um certo Simão Cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz”.

MARCOS (15:21).

Muitos estudiosos do Cristianismo combatem as recordações da cruz, alegando que as reminiscências do Calvário constituem indébita cultura de sofrimento.

Asseveram negativa a lembrança do Mestre, nas horas da  crucificação, entre malfeitores vulgares.

Somos, porém, daqueles que preferem encarar todos os dias do Cristo por gloriosas jornadas e todos os seus minutos por divinas parcelas de seu ministério sagrado, ante as necessidades da alma humana.

Cada hora da presença dele, entre as criaturas, reveste-se de beleza particular e o instante do madeiro afrontoso está repleto de majestade simbólica.

Vários discípulos tecem comentários extensos, em derredor da cruz do Senhor, e costumam examinar com particularidades teóricas os madeiros  imaginários que trazem consigo.

Entretanto, somente haverá tomado a cruz de redenção que lhe compete aquele que já alcançou o poder de negar a si mesmo, de modo a seguir nos passos do divino Mestre.

Muita gente confunde disciplina com iluminação espiritual.

Apenas depois de havermos concordado com o jugo suave de Jesus Cristo, podemos alçar aos ombros a cruz que nos dotará de asas espirituais para a vida eterna.

Contra os argumentos, quase sempre ociosos, dos que ainda não compreenderam a sublimidade da cruz, vejamos o exemplo do Cireneu, nos momentos culminantes do Salvador. A cruz do Cristo foi a mais bela do mundo, no entanto, o homem que o ajuda não o faz por vontade própria e, sim, atendendo a requisição irresistível. E, ainda hoje, a maioria dos homens aceita as obrigações inerentes ao próprio dever, porque a isso é constrangida.

NOSSA REFLEXÃO

Belíssima página, essa de Emmanuel. Simbolicamente, traduz a cruz num salto espiritual, se ela não se torna um estorvo pra quem a carrega.

Em nossa vida, em geral, queremos facilidades pra seguir tranquilamente. Contudo, nossa vida não é um passeio de férias. Não. É uma estrada em direção a um Reino de luz e amor. Uma estrada cheia de obstáculos, como aqueles que os maratonistas tem que superar pra chegar ao ponto de chegada, onde lhe aguardam seus admiradores, batendo palmas pela sua conquista.

Nós precisamos ter em mente que, de alguma sorte, escolhemos o caminho mais promissor pra termos, pra com muito esforço alçarmos o pódio da vitória. Cada um escolhe o seu e todos chegam no destino. Nesse caso, na maratona da vida, ninguém compete com ninguém, mas consigo mesmo. Devemos vencer a nós mesmos pra chegarmos onde almejamos chegar: o Reino dos Céus.

Na estrada da vida, não poderemos nos comportar como o Cireneu, que precisou ser intimado a ajudar a carregar a cruz de alguém. Com certeza, na nossa caminhada, encontraremos alguém como aquele que foi assaltado por ladrões e deixado ferido na estrada. Muitos passaram por ele, ignorando-o, pois estavam apressados com os seus compromissos, mas só um bom samaritano (Lucas, 10:25 a 37)[1] teve piedade do assaltado e, caridosamente, deteve a sua caminhada pra ajudar alguém necessitado de seguir a sua. A Parábola do Bom Samaritano foi contada por Jesus quando um Doutor da Lei lhe perguntou: “Quem é o meu próximo?”

A. Kardec faz uma alusão ao samaritano quando interpreta a Parábola do Juízo Final (Mateus, 25:31 a 46):

Naquele julgamento supremo [o juízo final], quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. (grifos nossos).[2]

Então, o laurel de nossa maratona, a nossa medalha, não é a nossa chegada, mas o que fizemos pra chegar a ela. Se nos importamos com todos que cruzaram o nosso caminho. Isto é, se ajudamos a carregar suas cruzes, dentro de nossas limitações que são potencializadas pela espiritualidade que nos acompanham, nossos técnicos, torcendo pelo nosso sucesso moral ao longo do nosso caminho. Uma das dicas que nos darão é apresentando (intuitivamente, não de forma ostensiva, como ocorreu com Simão Cirineu) uma pessoa (ou mais) que necessita de alguém que lhe ajude a carregar a sua cruz, como muitas vezes precisamos também.

A cada dia, devemos fazer nosso diário (nem sempre fazemos) como Santo Agostinho nos ensinou, pra que no dia seguinte, possamos fazer correções, ajustar os nossos passos, não pensando exclusivamente em nós, mas no semelhante também[3]. Nesse diário, devemos lembrar como nos comportamos com os problemas das pessoas que observamos ao longo do dia.

Que não sejamos qual o Simão Cireneu, mas como o bom samaritano, em nossas vidas.

Que Deus nos ajude e nossos anjos guardiães, também.

Domício.

Ofereço aos leitores um checklist pra pensarmos ao fim do dia, elaborado por mim, mas assinado com meu pseudônimo (L. Angel).

 Aos modos de Santo Agostinho

Por L. Angel

09/05/2022

(O Livro dos Espíritos, Parte Terceira (Das Leis Morais), Cap. XII, Questão 919)

Pensemos as seguintes questões quando formos nos deitar ao fim do dia:

·         Fui empático ao responder uma demanda de uma pessoa? Não coloquei dificuldades para ajudar?

·         Cumpri meu dever como trabalhador?

·         Dialoguei com paciência quanto a uma necessidade/dificuldade de uma pessoa?

·         Expulsei pensamentos maliciosos, desesperançosos, estagnantes?

·         Contribuí em processos familiares com paciência, tolerância e benevolência?

·         Fui indulgente para com as faltas das pessoas?

·         Pensei/desejei mal à uma pessoa má?

·         Não coloquei minhas necessidades na frente das de outras pessoas que me procuraram?

·         Cuidei com paciência e resignação minhas doenças?

·         Não exigi das outras pessoas mais do que elas possam dar?

·         Não exigi de mim mais do que eu posso dar?

·         Perdoei-me ao lembrar de uma falta minha no passado?

·         Agradeci a Deus por tudo que tenho ou que perdi?

Conhecer é patrocinar a libertação de nós mesmos, colocando-nos a caminho de novos horizontes (Emmanuel-Chico Xavier – Pensamento e Vida (Instrução)).

E pra de modo poético, ofereço outra reflexão, também de L. Angel.

Nenhum peso se carrega sozinho

L. Angel        06/09/2019

A vida se torna uma pesada cruz,
Difícil de, com ardor, carregar.
Mas a busca de uma luz
Foi a força para, ao Gólgota, chegar.

A vida se torna algo insuportável,
Difícil de, com louvor, encarar.
Mas a busca de uma pessoa amável
É um passo para deixar a vida continuar.

Caiu em estado de letargia?
Levanta e entrega a mão a quem te oferece ajuda.
A fraternidade é o remédio que, qualquer dor, alivia.

O que antes era um peso insuportável,
Não será mais, de uma planta, uma muda.
Seremos fortes e, juntos, teremos uma vida aceitável.



[1] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, Item 3.
[2] Idem.
[3] Vide orientações em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira (Das Leis Morais), Cap. XII, Questão nº 919. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário