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PIEDADE
Mas é grande ganho a piedade
com contentamento.
Paulo (I TIMÓTEO, 6:6).
Fala-se muito em piedade na Terra, todavia, quando assinalamos referências
a semelhante virtude, dificilmente discernimos entre compaixão e humilhação.
– Ajudo, mas este homem é um viciado.
– Atenderei; entretanto, essa mulher é ignorante e má.
– Penalizo-me; contudo, esse irmão é ingrato e cruel.
– Compadeço-me; todavia, trata-se de pessoa imprestável.
Tais afirmativas são reiteradas a cada passo por lábios que se afirmam cristãos.
Realmente, de maneira geral, só encontramos na Terra essa compaixão de voz
macia e mãos espinhosas.
Deita mel e veneno.
Balsamiza feridas e dilacera-as.
Estende os braços e cobra dívidas de reconhecimento.
Socorre e espanca.
Ampara e desestimula.
Oferece boas palavras e lança reptos hostis.
Sacia a fome dos viajores da experiência com pães recheados de fel.
A verdadeira piedade, no entanto, é filha legítima do amor.
Não perde tempo na identificação do mal.
Interessa-se excessivamente no bem para descurar-se dele em troca de
ninharias e sabe que o minuto é precioso na economia da vida.
O Evangelho não nos fala dessa piedade mentirosa, cheia de ilusões e
exigências. Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã, encontra
recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica destrutiva
e sabe semear o bem, fortificar-lhe os germens, cultivar-lhe os rebentos e
esperar-lhe a frutificação.
Diz-nos Paulo que a “piedade com contentamento” é “grande ganho” para a
alma e, em verdade, não sabemos de outra que nos possa trazer prosperidade ao
coração.
NOSSA REFLEXÃO
Ser piedoso é sinal de elevação, pois quem doa, do que já conseguiu amealhar
de elevação espiritual, doa sem humilhar[1].
De nada adianta humilhar quem já sofre, só por ter que pedir ou necessitar
da ajuda de terceiros (as). A caridade material deve ser complementada com a
caridade moral.[2]
Com relação à piedade, sabemos que quem sofre por necessidade material,
também pode estar sofrendo moralmente na hora de pedir. E isto deve ser uma prova ou expiação
na vida atual do necessitado.
O Cristo nos ensinou a dar a atenção aos mais pequeninos, pois isso seria
levado em conta, ao deixarmos o plano material, como falou pra nós na Parábola
do Juízo Final (MATEUS, 25:31 a 46). A. Kardec nos oferece a seguinte
reflexão sobre essa Parábola:
Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles.[3]
Emmanuel, nessa mensagem, ora refletida, traz um corroboração sua com essa interpretação
de A. Kardec: “Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã,
encontra recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica
destrutiva [...]”.
Devemos aprofundar, então, sobre o significado moral da virtude piedade. O
Espírito Miguel, colaborador da Codificador da Doutrina Espírita, a define e
nos motiva a exercê-la:
A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais![4]
Sejamos, então, piedosos, pois já necessitamos e ainda necessitamos da piedade
de Deus, de Jesus, do nosso Anjo da Guarda e de irmãos encarnados verdadeiramente
piedosos.
Que nos ajude.
Domício.
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