domingo, 30 de abril de 2023

PIEDADE

 

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PIEDADE

Mas é grande ganho a piedade com contentamento.

Paulo (I TIMÓTEO, 6:6).

Fala-se muito em piedade na Terra, todavia, quando assinalamos referências a semelhante virtude, dificilmente discernimos entre compaixão e humilhação.

– Ajudo, mas este homem é um viciado.

– Atenderei; entretanto, essa mulher é ignorante e má.

– Penalizo-me; contudo, esse irmão é ingrato e cruel.

– Compadeço-me; todavia, trata-se de pessoa imprestável.

Tais afirmativas são reiteradas a cada passo por lábios que se afirmam cristãos.

Realmente, de maneira geral, só encontramos na Terra essa compaixão de voz macia e mãos espinhosas.

Deita mel e veneno.

Balsamiza feridas e dilacera-as.

Estende os braços e cobra dívidas de reconhecimento.

Socorre e espanca.

Ampara e desestimula.

Oferece boas palavras e lança reptos hostis.

Sacia a fome dos viajores da experiência com pães recheados de fel.

A verdadeira piedade, no entanto, é filha legítima do amor.

Não perde tempo na identificação do mal.

Interessa-se excessivamente no bem para descurar-se dele em troca de ninharias e sabe que o minuto é precioso na economia da vida.

O Evangelho não nos fala dessa piedade mentirosa, cheia de ilusões e exigências. Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã, encontra recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica destrutiva e sabe semear o bem, fortificar-lhe os germens, cultivar-lhe os rebentos e esperar-lhe a frutificação.

Diz-nos Paulo que a “piedade com contentamento” é “grande ganho” para a alma e, em verdade, não sabemos de outra que nos possa trazer prosperidade ao coração.

NOSSA REFLEXÃO

Ser piedoso é sinal de elevação, pois quem doa, do que já conseguiu amealhar de elevação espiritual, doa sem humilhar[1].

De nada adianta humilhar quem já sofre, só por ter que pedir ou necessitar da ajuda de terceiros (as). A caridade material deve ser complementada com a caridade moral.[2]

Com relação à piedade, sabemos que quem sofre por necessidade material, também pode estar sofrendo moralmente na hora de pedir. E isto deve ser uma prova ou expiação na vida atual do necessitado.

O Cristo nos ensinou a dar a atenção aos mais pequeninos, pois isso seria levado em conta, ao deixarmos o plano material, como falou pra nós na Parábola do Juízo Final (MATEUS, 25:31 a 46). A. Kardec nos oferece a seguinte reflexão sobre essa Parábola:

Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles.[3]

Emmanuel, nessa mensagem, ora refletida, traz um corroboração sua com essa interpretação de A. Kardec: “Quem revela energia suficiente para abraçar a vida cristã, encontra recursos de auxiliar alegremente. Não se prende às teias da crítica destrutiva [...]”.

Devemos aprofundar, então, sobre o significado moral da virtude piedade. O Espírito Miguel, colaborador da Codificador da Doutrina Espírita, a define e nos motiva a exercê-la:

A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais![4]

Sejamos, então, piedosos, pois já necessitamos e ainda necessitamos da piedade de Deus, de Jesus, do nosso Anjo da Guarda e de irmãos encarnados verdadeiramente piedosos.

Que nos ajude.

Domício.


[1] Refletimos sobre a mensagem anterior a essa, que traz pra nós o verdadeiro sentido de doar do que tem. Vide em Há muita diferença.
[2] Tratamos dessa complementariedade dessas duas caridades na mensagem Há muita diferença.
[3] Vide a íntegra da dissertação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV (Fora da Caridade não há Salvação), Item 3.
[4]
Vide a íntegra da Orientação do Espírito Miguel em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 17.

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