domingo, 23 de abril de 2023

HÁ MUITA DIFERENÇA

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HÁ MUITA DIFERENÇA

E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou.

(ATOS, 3:6).

É justo recomendar muito cuidado aos que se interessam pelas vantagens da política humana, reportando-se a Jesus e tentando explicar, pelo Evangelho, certos absurdos em matéria de teorias sociais.

Quase sempre, a lei humana se dirige ao governado, nesta fórmula: – “O que tens me pertence.”

O Cristianismo, porém, pela boca inspirada de Pedro, assevera aos ouvidos do próximo: – “O que tenho, isso te dou.”

Já meditaste na grandeza do mundo, quando os homens estiverem resolvidos a dar do que possuem para o edifício da evolução universal?

Nos serviços da caridade comum, nas instituições de benemerência pública, raramente a criatura cede ao semelhante aquilo que lhe constitui propriedade intrínseca.

Para o serviço real do bem eterno, fiar-se-á alguém nas posses perecíveis da Terra, em caráter absoluto?

O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades com os necessitados do seu caminho, entretanto, não fixará em si mesmo a luz e a alegria que nascem dessas dádivas, se as não realizou com o sentimento do amor, que, no fundo, é a sua riqueza imperecível e legítima.

Cada individualidade traz consigo as qualidades nobres que já conquistou e com que pode avançar sempre, no terreno das aquisições espirituais de ordem superior.

Não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de ajudar a si próprio.

NOSSA REFLEXÃO

Tudo na Terra, materialmente falando, é provisório para o Espírito encarnado. Ninguém possui nada que temporariamente administra. Na verdade, muitos perdem ou lhes é tirado por não ter administrado bem. Nada nos é dado, ao longo da vida, para apenas nosso usufruto. Temos que multiplicar, como está grafado na Parábola dos Talentos (Mateus, 25:14 a 30.)[1]

Portanto, o que vamos passando a ter ao longo da nossa vida espiritual é de natureza espiritual. Se temos o “ouro”, é muito caridoso doar a quem precisa. Trata-se da caridade material. Contudo, esta deve ser acompanhada da caridade moral. Mas podemos não ter nada de natureza material, mas podemos de ter de espiritual.

O Espírito Irmã Rosália no faz a diferença entre as duas.

A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral. Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra.[2]

A caridade moral é o que de fato podemos dar em qualquer situação possível na relação com o nosso semelhante.

Mas é interessante entendermos mais profundamente qual é a nossa verdadeira propriedade.

O Espírito Pascal nos ilumina:

O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura (grifos nossos).[3]

É notório que não conseguimos levar nada pra o plano espiritual, sem não nós mesmos, com a bagagem que fomos arrumando ao longo da vida. Ao deixar o nosso invólucro, passamos a ser a nossa mala e o conteúdo. De repente, só uma mala (como dizem no popular: a pessoa é uma mala). Conteúdo que é bom, nada.

Devemos, como Emmanuel nos faz atentar, nesta página, ora refletida: “não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de ajudar a si próprio”.

Corroborando consigo mesmo, Emmanuel em Possuímos o que damos[4], do livro Fonte Viva, nos faz pensar:

Sem dúvida, em nos reportando aos bens materiais, há sempre mais alegria em ajudar que em ser ajudado, contudo, é imperioso não esquecer os bens espirituais que, irradiados de nós mesmos, aumentam o teor e a intensidade da alegria em torno de nossos passos.

E corroborando com Pedro, na mesma obra acima citada, afirma: “Possuímos aquilo que damos.”

Então, é muito oportuno que tenhamos em mente que estejamos preparado pra doar do que já possuímos e refletir sobre o que já possuímos, pra podermos doar sempre mais do que uma moeda. Nem sempre temos uma moeda. Então, que possamos doar o que possuímos ou temos realmente, conforme os Espíritos aqui citados.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, a partir do Item 7.
[2] Vide mensagem na íntegra em em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 7.
[3] Vide mensagem na íntegra em em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Item 9.
[4]
Neste link, temos nossa reflexão à mensagem sob esse título.

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