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HÁ MUITA DIFERENÇA
E disse Pedro: Não tenho prata nem
ouro, mas o que tenho, isso te dou.
(ATOS, 3:6).
É justo recomendar muito cuidado aos
que se interessam pelas vantagens da política humana, reportando-se a Jesus e
tentando explicar, pelo Evangelho, certos absurdos em matéria de teorias
sociais.
Quase sempre, a lei humana se dirige
ao governado, nesta fórmula: – “O que tens me pertence.”
O Cristianismo, porém, pela boca
inspirada de Pedro, assevera aos ouvidos do próximo: – “O que tenho, isso te
dou.”
Já meditaste na grandeza do mundo,
quando os homens estiverem resolvidos a dar do que possuem para o edifício da
evolução universal?
Nos serviços da caridade comum, nas
instituições de benemerência pública, raramente a criatura cede ao semelhante
aquilo que lhe constitui propriedade intrínseca.
Para o serviço real do bem eterno,
fiar-se-á alguém nas posses perecíveis da Terra, em caráter absoluto?
O homem generoso distribuirá
dinheiro e utilidades com os necessitados do seu caminho, entretanto, não
fixará em si mesmo a luz e a alegria que nascem dessas dádivas, se as não
realizou com o sentimento do amor, que, no fundo, é a sua riqueza imperecível e
legítima.
Cada individualidade traz consigo as
qualidades nobres que já conquistou e com que pode avançar sempre, no terreno
das aquisições espirituais de ordem superior.
Não olvides a palavra amorosa de
Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro
ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra
distante da possibilidade de ajudar a si próprio.
NOSSA REFLEXÃO
Tudo na Terra, materialmente falando,
é provisório para o Espírito encarnado. Ninguém possui nada que temporariamente
administra. Na verdade, muitos perdem ou lhes é tirado por não ter administrado
bem. Nada nos é dado, ao longo da vida, para apenas nosso usufruto. Temos que
multiplicar, como está grafado na Parábola dos Talentos (Mateus,
25:14 a 30.)[1]
Portanto, o que vamos
passando a ter ao longo da nossa vida espiritual é de natureza espiritual. Se
temos o “ouro”, é muito caridoso doar a quem precisa. Trata-se da caridade
material. Contudo, esta deve ser acompanhada da caridade moral. Mas
podemos não ter nada de natureza material, mas podemos de ter de espiritual.
O Espírito Irmã Rosália
no faz a diferença entre as duas.
A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral. Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra.[2]
A caridade moral é o que de fato podemos
dar em qualquer situação possível na relação com o nosso semelhante.
Mas é interessante entendermos mais
profundamente qual é a nossa verdadeira propriedade.
O Espírito Pascal nos ilumina:
O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura (grifos nossos).[3]
É notório que não conseguimos levar
nada pra o plano espiritual, sem não nós mesmos, com a bagagem que fomos
arrumando ao longo da vida. Ao deixar o nosso invólucro, passamos a ser a nossa
mala e o conteúdo. De repente, só uma mala (como dizem no popular: a pessoa é
uma mala). Conteúdo que é bom, nada.
Devemos, como Emmanuel nos faz
atentar, nesta página, ora refletida: “não olvides a palavra amorosa de Pedro e
dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela
prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra
distante da possibilidade de ajudar a si próprio”.
Corroborando consigo mesmo, Emmanuel em Possuímos o que damos[4],
do livro Fonte Viva, nos faz pensar:
Sem dúvida, em nos reportando aos bens materiais, há sempre mais alegria em ajudar que em ser ajudado, contudo, é imperioso não esquecer os bens espirituais que, irradiados de nós mesmos, aumentam o teor e a intensidade da alegria em torno de nossos passos.
E corroborando com Pedro, na mesma obra acima
citada, afirma: “Possuímos aquilo que damos.”
Então, é muito oportuno que tenhamos em mente
que estejamos preparado pra doar do que já possuímos e refletir sobre o que já possuímos,
pra podermos doar sempre mais do que uma moeda. Nem sempre temos uma moeda.
Então, que possamos doar o que possuímos ou temos realmente, conforme os
Espíritos aqui citados.
Que Deus nos ajude.
Domício.
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