domingo, 30 de outubro de 2022

EM ESPÍRITO

 82
EM ESPÍRITO

Mas, se pelo espírito mortificardes as obras da carne, vivereis.

Paulo (ROMANOS, 8:13).

Quem vive segundo as leis sublimes do espírito respira em esfera diferente do próprio campo material em que ainda pousa os pés.

Avançada compreensão assinala­-lhe a posição íntima.

Vale­-se do dia qual aprendiz aplicado que estima na permanência sobre a Terra valioso tempo de aprendizado que não deve menosprezar.

Encontra, no trabalho, a dádiva abençoada de elevação e aprimoramento.

Na ignorância alheia descobre preciosas possibilidades de serviço.

Nas dificuldades e aflições da estrada recolhe recursos à própria iluminação e engrandecimento.

Vê passar obstáculos como vê correr nuvens.

Ama a responsabilidade, mas não se prende à posse.

Dirige com devotamento, contudo, foge ao domínio.

Ampara sem inclinações doentias.

Serve sem escravizar-­se.

Permanece atento para com as obrigações da sementeira, todavia, não se inquieta pela colheita, porque sabe que o campo e a planta, o sol e a chuva, a água e o vento pertencem ao eterno Doador.

Usufrutuário dos bens divinos, onde quer que se encontre, carrega consigo mesmo, na consciência e no coração, os próprios tesouros.

Bem­-aventurado o homem que segue vida a fora em espírito! Para ele, a morte aflitiva não é mais que alvorada de novo dia, sublime transformação e alegre despertar!

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos apresenta um programa de adequação à Boa Nova do Cristo. O móvel de um iniciado no cristianismo é seguir as pegadas do Mestre, mesmo que isso lhe traga algum infortúnio material, físico ou corporal. A vida futura,[1] para ele, é mais importante que a atual. Daí, ser resoluto em não se constranger com a luz do Cristo[2].

Viver no mundo com os nossos semelhantes nos impõe que vivamos segundo o Espírito, pois para tanto reencarnamos. Vivemos em sociedade e nesse conviver, somos desafiados a ser cristãos. Isso nos remete a viver em consonância com os misteres da Boa Nova.

Um Espírito Protetor nos orienta a viver no mundo.

Não julgueis [...] que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar. 

Desse modo, em tudo que vivermos, inclusive num momento eleitoral, devemos nos apresentar, enquanto cristãos, a nos posicionar pelo projeto que se adequa aos princípios morais que a Boa Nova nos aponta.

Somos aprendizes do Evangelho e portanto eternamente avaliados quanto à nossa adesão espiritual ao projeto do Cristo para nós, visando a prática da reforma íntima e da caridade. A seleção dos convidados para o festim das bodas ou para o Reino de Deus é constante. “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (MATEUS, 22: 14).

Sobre isso, A. Kardec nos explana:

“[...] Não basta a ninguém ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para tomar parte no banquete celestial. É preciso, antes de tudo e sob condição expressa, estar revestido da túnica nupcial, isto é, ter puro o coração e cumprir a lei segundo o espírito. Ora, a lei toda se contém nestas palavras: Fora da caridade não há salvação. Entre todos, porém, que ouvem a palavra divina, quão poucos são os que a guardam e a aplicam proveitosamente! Quão poucos se tornam dignos de entrar no Reino dos Céus! Eis por que disse Jesus: “Chamados haverá muitos; poucos, no entanto, serão os escolhidos.” (grifos nossos).[3] 

Então, que tenhamos clareza quanto a nossa participação na sociedade, no meio em que vivemos. A nossa passagem pela casa espírita ou templo religioso é tão somente enquanto aprendizes. A Casa Espírita é a nossa universidade, Curso de Aprendiz do Evangelho e o mundo se configura como a Escola Campo de Estágio, em que o Supervisor Docente é o Cristo que conta com colaboradores no plano espiritual. Então, que sejamos aplicados em aliar a Teoria (Doutrina Espírita) e a prática (Fora da Caridade não salvação).

Que Deus nos ajude a sempre viver em Espírito.

Domício.



[1] Segundo A. Kardec, o momento e falas do Cristo, quando foi interpelado por Pilatos se Ele era o Rei dos Judeus (João, 18:33, 36 e 37) “[...] se refere à vida futura, que Ele apresenta, em todas as circunstâncias, como a meta que a Humanidade irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações do homem na Terra.” Vide a íntegra a respeito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. II, Item 2.
[2] Sobre o constrangimento à luz do Cristo, vide página de Emmanuel do livro Fonte Viva (Chico Xavier) intitulada “Quando há Luz” e refletida em nosso blog relativo ao livro Fonte Viva.
[3] Vide a íntegra da mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII, Item 2.

domingo, 23 de outubro de 2022

NO PARAÍSO

 81
NO PARAÍSO

E respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.

Lucas (23:43).

À primeira vista, parece que Jesus se inclinou para o chamado bom ladrão, através da simpatia particular.

Mas, não é assim.

O Mestre, nessa lição do Calvário, renovou a definição de paraíso.

Noutra passagem, Ele mesmo asseverou que o reino divino não surge com aparências exteriores. Inicia-se, desenvolve-se e consolida-se, em resplendores eternos, no imo do coração.

Naquela hora de sacrifício culminante, o bom ladrão rendeu-se incondicionalmente a Jesus Cristo. O leitor do Evangelho não se informa, com respeito aos porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe pesariam nos ombros, de modo a cimentar a união com o Salvador, todavia, convence-se de que daquele momento em diante o ex-malfeitor penetrará o céu.

O símbolo é formoso e profundo e dá ideia da infinita extensão da divina Misericórdia.

Podemos apresentar-nos com volumosa bagagem de débitos do passado escuro, ante a verdade; mas desde o instante em que nos rendemos aos desígnios do Senhor, aceitando sinceramente o dever da própria regeneração, avançamos para região espiritual diferente, onde todo jugo é suave e todo fardo é leve. Chegado a essa altura, o espírito endividado não permanecerá em falsa atitude beatífica, reconhecendo, acima de tudo, que, com Jesus, o sofrimento é retificação e as cruzes são claridades imortais.

Eis o motivo pelo qual o bom ladrão, naquela mesma hora, ingressou nas excelsitudes do paraíso.

NOSSA REFLEXÃO

O Paraíso evangélico é uma região de redenção, resultado da Misericórdia divina. Todos somos dignos do perdão de Deus. A reencarnação é uma prova disso. Contudo, o perdão requer a reparação das faltas[1]. Daí, Emmanuel nos atentar para o seguinte ponto, em relação ao bom ladrão: não imaginamos os “[...] porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe pesariam nos ombros, de modo a cimentar a união com o Salvador”.

Nós sabemos que, conforme Jesus nos adiantou, que seu jugo é suave e leve é o seu fardo. Isto nos remete a pensarmos sobre qual é o jugo e qual é o fardo. Conforme A. Kardec: “Seu jugo é a observância dessa lei; mas esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade”.[2]

Então, por mais difícil que esteja sendo nossas vidas, há um consolo, se sofremos bem: a evolução espiritual a partir da reparação de nossas faltas, bem como o exercício da caridade e bons êxitos nas provas.

O bom ladrão não foi rechaçado ao se resignar, por achar que merecia estar ali, e se mostrar consciente que não era o lugar de Jesus, dizendo a Ele: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. O Mestre, de pronto, respondeu-lhe: “Amém, te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas, 23: 42-43).

Então, fica claro que somos, como filhos de Deus, acolhidos incondicionalmente pelo Pai, inclusive quando nos mostramos pródigos. Neste caso, “Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés.” (Espírito Santo Agostinho) [3].

Que tenhamos essa consciência da infinita Misericórdia de Deus, pois isso nos leva a sermos misericordiosos conosco mesmos.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] O Livro dos Espíritos, Parte Quarta – Capítulo II, Questão 999: Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus? “O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”
[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, Item 2.
[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIV, Item 9.

domingo, 16 de outubro de 2022

O “NÃO” E A LUTA

80
O “NÃO” E A LUTA

Mas seja o vosso falar: sim, sim; não, não.

Jesus (MATEUS, 5:37).

Ama, de acordo com as lições do Evangelho, mas não permitas que o teu amor se converta em grilhão, impedindo­te a marcha para a vida superior.

Ajuda a quantos necessitam de tua cooperação, entretanto, não deixes que o teu amparo possa criar perturbações e vícios para o caminho alheio.

Atende com alegria ao que te pede um favor, contudo, não cedas à leviandade e à insensatez.

Abre portas de acesso ao bem­estar aos que te cercam, mas não olvides a educação dos companheiros para a felicidade real.

Cultiva a delicadeza e a cordialidade, no entanto, sê leal e sincero em tuas atitudes.

O “sim” pode ser muito agradável em todas as situações, todavia, o “não”, em determinados setores da luta humana, é mais construtivo.

Satisfazer a todas as requisições do caminho é perder tempo e, por vezes, a própria vida.

Tanto quanto o “sim” deve ser pronunciado sem incenso bajulatório, o “não” deve ser dito sem aspereza.

Muita vez, é preciso contrariar para que o auxílio legítimo se não perca; urge reconhecer, porém, que a negativa salutar jamais perturba. O que dilacera é o tom contundente no qual é vazada.

As maneiras, na maior parte das ocasiões, dizem mais que as palavras.

“Seja o vosso falar: sim, sim; não, não”, recomenda o Evangelho. Para concordar ou recusar, todavia, ninguém precisa ser de mel ou de fel. Bastará lembrarmos que Jesus é o Mestre e o Senhor não só pelo que faz, mas também pelo que deixa de fazer.

NOSSA REFLEXÃO

Eis uma questão muito importante no contexto das relações interpessoais. Somos convidados cotidianamente a responder a um pedido. Num momento como esse há várias possibilidades de análises pra nos prontificarmos a atender ou não ao pedido.

Todo problema que gera um pedido pode estar relacionado a um outro que muitas vezes já nos envolveu. Ou seja, ele é recorrente. Numa situação como essa, devemos ser paciente, indulgentes, misericordiosos e benovolentes. Isto é, devemos ser caridosos[1]. Temos, também, um passado que apresenta, também, momentos como esse em que nós fomos os pedintes. Sabemos o que significa o momento.

Portanto, devemos ser gentis, afáveis, benevolentes, podendo atender ou não à solicitação. Quando alguém nos procura é porque ele foi lembrado por alguém, do plano espiritual. Ou mesmo porque já o atendemos outras vezes. Então, se podemos, atendamos prontamente, na medida do possível, atendamos. Se não, acolhamos o solicitante, rementendo-o a não perder a fé na resolução do problema.

Afabilidade, nessas horas, é fundamental, pois se hoje somos solicitados, amanhã poderá ser nós os solicitantes. Segundo o Espírito Lázaro, “a benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se.”(grifos nossos)[2].

Como Emmanuel nos faz refletir nesta mensagem, “para concordar ou recusar, todavia, ninguém precisa ser de mel ou de fel. Bastará lembrarmos que Jesus é o Mestre e o Senhor não só pelo que faz, mas também pelo que deixa de fazer.”

Então, estes momentos se configuram como exercícios de caridade, de evolução espiritual. Devemos cuidar com que eles se tornem momentos de reflexão, o que não quer dizer que nos postemos na condição de reprovadores e nem de pusilânimes. Devemos sim, ser educadores, aprender com a situação e propiciar que ela seja educativa e caritativa para todos e todas envolvidos(as). Principalmente, se for uma recorrência. A oração, antes e depois de responder, é fundamental. Tanto se pudermos atender, quanto o contrário.

Que sejamos caridosos, lembrando que mudamos de posição muito comumente. Logo, hoje, estamos numa posição de possível atendente, amanhã, o contrário.

Que Deus nos ajude a não esquecer disto.

Domício.



[1] O Livro dos Espíritos, Questão 886: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”
[2]
Vida mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, Item 6.

domingo, 9 de outubro de 2022

O “MAS” E OS DISCÍPULOS

 79
O “MAS” E OS DISCÍPULOS

Tudo posso naquele que me fortalece.

Paulo (FILIPENSES, 4:13).

O discípulo aplicado assevera:

– De mim mesmo, nada possuo de bom, mas Jesus me suprirá de recursos, segundo as minhas necessidades.

– Não disponho de perfeito conhecimento do caminho, mas Jesus me conduzirá.

O aprendiz preguiçoso declara:

– Não descreio da bondade de Jesus, mas não tenho forças para o trabalho cristão.

– Sei que o caminho permanece em Jesus, mas o mundo não me permite segui-lo.

O primeiro galga a montanha da decisão. Identifica as próprias fraquezas, entretanto, confia no divino Amigo e delibera viver-lhe as lições.

O segundo estima o descanso no vale fundo da experiência inferior. Reconhece as graças que o Mestre lhe conferiu, todavia, prefere furtar-se a elas.

O primeiro fixou a mente na Luz divina e segue adiante. O segundo parou o pensamento nas próprias limitações.

O “mas” é a conjunção que, nos processos verbalistas, habitualmente nos define a posição íntima perante o Evangelho. Colocada à frente do santo Nome, exprime-nos a firmeza e a confiança, a fé e o valor; contudo, localizada depois dele, situa-nos a indecisão e a ociosidade, a impermeabilidade e a indiferença.

Três letras apenas denunciam-nos o rumo.

Assim recomendam meus princípios, mas Jesus pede outra coisa.

Assim aconselha Jesus, mas não posso fazê-lo.

Através de uma palavra pequena e simples, fazemos a profissão de fé ou a confissão de ineficiência.

Lembremo-nos de que Paulo de Tarso, não obstante apedrejado e perseguido, conseguiu afirmar, vitorioso, aos filipenses: – “Tudo posso naquele que me fortalece.”

NOSSA REFLEXÃO

Confiança é palavra chave desta mensagem de Emmanuel. Somos todos detentores de conhecimentos que nos permitem andar nos caminhos da vida. Mas para isso precisamos lembrar que nunca estamos sozinhos e, por isso, as fragilidades que venham a ocorrer na estrada da nossa existência, não nos abaterão, pois sabemos que teremos uma mão forte a nos incentivar a continuar.

Isto nos remete a pensar sobre o poder da fé, a influência espiritual em nossas vidas e as dificuldades do caminho.

Há uma passagem evangélica muito interessante que versa sobre a cura de um lunático, trazido por seu Pai a Jesus, mas que antes ele o apresentou aos Discípulos do Mestre e eles não o curaram (Mateus, 17:14 a 20). Jesus os repreendeu por terem demonstrado falta de fé. Na oportunidade, Ele explicou o motivo de não terem curado o lunático: “Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: ‘Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível.’”

A. Kardec nos esclarece a respeito da resposta do Cristo:

No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si. Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade.[1]

 

Sobre isso, podemos inferir que a confiança no Mestre, em todas as nossas atividades é fundamental pra que sejamos exitosos. Ele nos inspirou a nos sentir deuses, lembrando dos Salmos (82, 6), e com isso mostrou que tinha identidade com Deus, pois Ele era enviado do Pai e cumpria fielmente suas designações (João, 10: 34).

Então, sendo Ele intermediário entre nós e o Criador, devemos, também depositar toda a confiança Nele, quando “[...] as dificuldades, as resistências, a má vontade”, conforme A. Kardec aponta acima, nos baterem à porta da motivação. Desse modo, nada se configura como impossível de realizar.

Devemos ter claro que além de acreditar fortemente em Deus, devemos, com a mesma intensidade, acreditar em nós. Conforme Um Espírito Protetor,

no homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.[2]

 

Ou seja, somos deuses em potencial. Devemos nos tornar, assim, crendo na existência de uma força maior que nós, que nos impulsiona pra frente, conforme nossa identidade com ela. Isto é, temos, conforme Um Espírito Protetor, dois tipos de fé, conforme nossas ações individuais ou coletivas, sendo um homem pesquisador, que busca respostas pra as suas indagações, ou sendo um homem dado a empatia com a vida do próximo ou com a sua mesma, tendo consciência dos objetivos de estar encarnado[3]. Segundo o Espírito citado acima:

A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras.[4]

 

Outrossim, não devemos esquecer que além de Deus, Jesus Cristo, temos ainda um ente espiritual designado por Deus pra nos dar suporte em nossas vidas, que é o Anjo Guardião ou o Espírito Protetor, que, segundo os Espíritos Superiores da Codificação Espírita, é um Espírito “[...] pertencente a uma ordem elevada” e cuja missão é “a de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.” (O Livro dos Espíritos, Questões nº 490 e 491).

Então, sejamos confiantes que podemos realizar o que for preciso pra vencermos as dificuldades e ajudar nossos semelhantes a vencerem as suas, também.

Que Deus não nos deixe esquecer disso.

Domício.



[1] Vide a reflexão de A. Kardec, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Item 2.
[2] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Item 12.
[3] Vide questão de nº 132 de O Livro dos Espíritos, que trata do objetivo da encarnação.
[4]
Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Item 12.

domingo, 2 de outubro de 2022

SEGUNDO A CARNE

 

78

SEGUNDO A CARNE

Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis.

Paulo (ROMANOS, 8:13).

Para quem vive segundo a carne, isto é, de conformidade com os impulsos inferiores, a estação de luta terrestre não é mais que uma série de acontecimentos vazios.

Em todos os momentos, a limitação ser­-lhe-­á fantasma incessante.

Cérebro esmagado pelas noções negativas, encontrar­-se-­á com a morte, a cada passo.

Para a consciência que teve a infelicidade de esposar concepções tão escuras, não passará a existência humana de comédia infeliz.

No sofrimento, identifica uma casa adequada ao desespero.

No trabalho destinado à purificação espiritual, sente o clima da revolta.

Não pode contar com a bênção do amor, porquanto, em face da apreciação que lhe é própria, os laços afetivos são meros acidentes no mecanismo dos desejos eventuais.

A dor, benfeitora e conservadora do mundo, é-­lhe intolerável, a disciplina constitui-­lhe angustioso cárcere e o serviço aos semelhantes representa pesada humilhação.

Nunca perdoa, não sabe renunciar, dói-­lhe ceder em favor de alguém e, quando ajuda, exige do beneficiado a subserviência do escravo.

Desditoso o homem que vive, respira e age, segundo a carne! Os conflitos da posse atormentam-­lhe o coração, por tempo indeterminado, com o mesmo calor da vida selvagem.

Ai dele, todavia, porque a hora renovadora soará sempre! E, se fugiu à atmosfera da imortalidade, se asfixiou as melhores aspirações da própria alma, se escapou ao exercício salutar do sofrimento, se fez questão de aumentar apetites e prazeres pela absoluta integração com o “lado inferior da vida”, que poderá esperar do fim do corpo, senão sepulcro, sombra e impossibilidade, dentro da noite cruel?

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel se reportando ao versículo de Paulo no caput dessa mensagem, nos faz pensar sobre a relevância que damos aos prazeres e sensações que a reencarnação propicia ao Espírito encarnado. O corpo físico, assim, tem a denotação de um período evolutivo do ser humano, que, segundo, a importância que o Espírito dá à vida material, em relação à vida espiritual, pode representar uma estagnação pra ele.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, podemos encontrar reflexões a respeito dessa temática. No Cap. II, intitulado Meu Reino não é deste mundo, A. Kardec nos ajuda a refletir sobre a importância da Vida Futura. O Cristo, ao ser questionado por Pilatos se Ele era o Rei dos judeus, respondeu: “Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas o meu reino ainda não é aqui.” (JOÃO, 18: 36). O Mestre deu clara significação maior à vida Espiritual.

A. Kardec, sobre isso, nos esclarece: “Por essas palavras, Jesus claramente se refere à vida futura, que Ele apresenta, em todas as circunstâncias, como a meta que a Humanidade irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações do homem na Terra.”[1] Ao pensar no objetivo da encarnação, como é preconizado em O Livro dos Espíritos, temos a certeza de que a vida aqui, no plano físico, não é para servir de mera satisfação material. Senão vejamos o que os Espíritos Superiores responderam à A. Kardec quando foram perguntado sobre isso:

Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.[2]

 

Mas nem sempre fomos disciplinado, quanto a isso, e por isso nos retardamos nesse planeta, como sendo de Expiações e Provas[3] ou em outro. Pois, segundo o Espírito São Luís,

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. [...] Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo.[4]

 

O homem que vive segundo a carne, faz um má escolha entre servir a Deus ou a Mamon, escolhendo o segundo. Mas Jesus Cristo nos adiantou que não poderíamos servir a dois senhores.[5] Esta questão está discutida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, que trata da riqueza material que deve ser bem empregada, pois tem um fim bem mais útil que meramente nos dar satisfações dos prazeres materiais, incentivadores dos pecados capitais como a usura, cobiça, avareza, etc. Engana-se o ser humano que pensa que o que conquista ou recebe de herança, materialmente falando, é tão somente para o seu usufruto. Conforme o Espírito M., Espírito Protetor,

Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza foge àquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la.[6]

 

Então, tudo que nos é proposto na vida material é para termos em vista a nossa evolução espiritual. Ou seja, devemos viver segundo o espírito e não a carne.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. II, Item 2.
[2] O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Cap. II, questão nº 132.
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, itens 13 a 15.
[4]
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IV, Item 25

[5] Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. (Lucas, 16:13.)

[6] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Item 10.