domingo, 23 de outubro de 2022

NO PARAÍSO

 81
NO PARAÍSO

E respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.

Lucas (23:43).

À primeira vista, parece que Jesus se inclinou para o chamado bom ladrão, através da simpatia particular.

Mas, não é assim.

O Mestre, nessa lição do Calvário, renovou a definição de paraíso.

Noutra passagem, Ele mesmo asseverou que o reino divino não surge com aparências exteriores. Inicia-se, desenvolve-se e consolida-se, em resplendores eternos, no imo do coração.

Naquela hora de sacrifício culminante, o bom ladrão rendeu-se incondicionalmente a Jesus Cristo. O leitor do Evangelho não se informa, com respeito aos porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe pesariam nos ombros, de modo a cimentar a união com o Salvador, todavia, convence-se de que daquele momento em diante o ex-malfeitor penetrará o céu.

O símbolo é formoso e profundo e dá ideia da infinita extensão da divina Misericórdia.

Podemos apresentar-nos com volumosa bagagem de débitos do passado escuro, ante a verdade; mas desde o instante em que nos rendemos aos desígnios do Senhor, aceitando sinceramente o dever da própria regeneração, avançamos para região espiritual diferente, onde todo jugo é suave e todo fardo é leve. Chegado a essa altura, o espírito endividado não permanecerá em falsa atitude beatífica, reconhecendo, acima de tudo, que, com Jesus, o sofrimento é retificação e as cruzes são claridades imortais.

Eis o motivo pelo qual o bom ladrão, naquela mesma hora, ingressou nas excelsitudes do paraíso.

NOSSA REFLEXÃO

O Paraíso evangélico é uma região de redenção, resultado da Misericórdia divina. Todos somos dignos do perdão de Deus. A reencarnação é uma prova disso. Contudo, o perdão requer a reparação das faltas[1]. Daí, Emmanuel nos atentar para o seguinte ponto, em relação ao bom ladrão: não imaginamos os “[...] porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe pesariam nos ombros, de modo a cimentar a união com o Salvador”.

Nós sabemos que, conforme Jesus nos adiantou, que seu jugo é suave e leve é o seu fardo. Isto nos remete a pensarmos sobre qual é o jugo e qual é o fardo. Conforme A. Kardec: “Seu jugo é a observância dessa lei; mas esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade”.[2]

Então, por mais difícil que esteja sendo nossas vidas, há um consolo, se sofremos bem: a evolução espiritual a partir da reparação de nossas faltas, bem como o exercício da caridade e bons êxitos nas provas.

O bom ladrão não foi rechaçado ao se resignar, por achar que merecia estar ali, e se mostrar consciente que não era o lugar de Jesus, dizendo a Ele: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. O Mestre, de pronto, respondeu-lhe: “Amém, te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas, 23: 42-43).

Então, fica claro que somos, como filhos de Deus, acolhidos incondicionalmente pelo Pai, inclusive quando nos mostramos pródigos. Neste caso, “Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés.” (Espírito Santo Agostinho) [3].

Que tenhamos essa consciência da infinita Misericórdia de Deus, pois isso nos leva a sermos misericordiosos conosco mesmos.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] O Livro dos Espíritos, Parte Quarta – Capítulo II, Questão 999: Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus? “O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”
[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, Item 2.
[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIV, Item 9.

Nenhum comentário:

Postar um comentário