domingo, 2 de outubro de 2022

SEGUNDO A CARNE

 

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SEGUNDO A CARNE

Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis.

Paulo (ROMANOS, 8:13).

Para quem vive segundo a carne, isto é, de conformidade com os impulsos inferiores, a estação de luta terrestre não é mais que uma série de acontecimentos vazios.

Em todos os momentos, a limitação ser­-lhe-­á fantasma incessante.

Cérebro esmagado pelas noções negativas, encontrar­-se-­á com a morte, a cada passo.

Para a consciência que teve a infelicidade de esposar concepções tão escuras, não passará a existência humana de comédia infeliz.

No sofrimento, identifica uma casa adequada ao desespero.

No trabalho destinado à purificação espiritual, sente o clima da revolta.

Não pode contar com a bênção do amor, porquanto, em face da apreciação que lhe é própria, os laços afetivos são meros acidentes no mecanismo dos desejos eventuais.

A dor, benfeitora e conservadora do mundo, é-­lhe intolerável, a disciplina constitui-­lhe angustioso cárcere e o serviço aos semelhantes representa pesada humilhação.

Nunca perdoa, não sabe renunciar, dói-­lhe ceder em favor de alguém e, quando ajuda, exige do beneficiado a subserviência do escravo.

Desditoso o homem que vive, respira e age, segundo a carne! Os conflitos da posse atormentam-­lhe o coração, por tempo indeterminado, com o mesmo calor da vida selvagem.

Ai dele, todavia, porque a hora renovadora soará sempre! E, se fugiu à atmosfera da imortalidade, se asfixiou as melhores aspirações da própria alma, se escapou ao exercício salutar do sofrimento, se fez questão de aumentar apetites e prazeres pela absoluta integração com o “lado inferior da vida”, que poderá esperar do fim do corpo, senão sepulcro, sombra e impossibilidade, dentro da noite cruel?

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel se reportando ao versículo de Paulo no caput dessa mensagem, nos faz pensar sobre a relevância que damos aos prazeres e sensações que a reencarnação propicia ao Espírito encarnado. O corpo físico, assim, tem a denotação de um período evolutivo do ser humano, que, segundo, a importância que o Espírito dá à vida material, em relação à vida espiritual, pode representar uma estagnação pra ele.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, podemos encontrar reflexões a respeito dessa temática. No Cap. II, intitulado Meu Reino não é deste mundo, A. Kardec nos ajuda a refletir sobre a importância da Vida Futura. O Cristo, ao ser questionado por Pilatos se Ele era o Rei dos judeus, respondeu: “Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas o meu reino ainda não é aqui.” (JOÃO, 18: 36). O Mestre deu clara significação maior à vida Espiritual.

A. Kardec, sobre isso, nos esclarece: “Por essas palavras, Jesus claramente se refere à vida futura, que Ele apresenta, em todas as circunstâncias, como a meta que a Humanidade irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações do homem na Terra.”[1] Ao pensar no objetivo da encarnação, como é preconizado em O Livro dos Espíritos, temos a certeza de que a vida aqui, no plano físico, não é para servir de mera satisfação material. Senão vejamos o que os Espíritos Superiores responderam à A. Kardec quando foram perguntado sobre isso:

Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.[2]

 

Mas nem sempre fomos disciplinado, quanto a isso, e por isso nos retardamos nesse planeta, como sendo de Expiações e Provas[3] ou em outro. Pois, segundo o Espírito São Luís,

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. [...] Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo.[4]

 

O homem que vive segundo a carne, faz um má escolha entre servir a Deus ou a Mamon, escolhendo o segundo. Mas Jesus Cristo nos adiantou que não poderíamos servir a dois senhores.[5] Esta questão está discutida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, que trata da riqueza material que deve ser bem empregada, pois tem um fim bem mais útil que meramente nos dar satisfações dos prazeres materiais, incentivadores dos pecados capitais como a usura, cobiça, avareza, etc. Engana-se o ser humano que pensa que o que conquista ou recebe de herança, materialmente falando, é tão somente para o seu usufruto. Conforme o Espírito M., Espírito Protetor,

Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza foge àquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la.[6]

 

Então, tudo que nos é proposto na vida material é para termos em vista a nossa evolução espiritual. Ou seja, devemos viver segundo o espírito e não a carne.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. II, Item 2.
[2] O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Cap. II, questão nº 132.
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, itens 13 a 15.
[4]
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IV, Item 25

[5] Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. (Lucas, 16:13.)

[6] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Item 10.

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