domingo, 29 de outubro de 2023

EM TUDO

 

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EM TUDO

Tornando-nos recomendáveis em tudo: na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias.

Paulo (II CORÍNTIOS, 6:4).

A maioria dos aprendizes do Evangelho não encara seriamente o fundo religioso da vida, senão nas atividades do culto exterior. Na concepção de muitos bastará freqüentar, assíduos, as assembleias da fé e todos os enigmas da alma estarão decifrados, no capítulo das relações com Deus.

Entretanto, os ensinamentos do Cristo apelam para a renovação e aprimoramento individual em todas as circunstâncias.

Que dizer de um homem, aparentemente contrito nos atos públicos da confissão religiosa a que pertence e mergulhado em palavrões no santuário doméstico? Não são poucos os que se declaram crentes, ao lado da multidão, revelando-se indolentes no trabalho, desesperados na dor, incontinentes na alegria, infiéis nas facilidades e blasfemos nas angústias do coração.

Por que motivo pugnaria Jesus pela formação dos seguidores tão só para ser incensado por eles, durante algumas horas da semana, em genuflexão? Atribuir ao Mestre semelhante propósito seria rebaixar-lhe os sublimes princípios.

É indispensável que os aprendizes se tornem recomendáveis em tudo, revelando a excelência das ideias que os alimentam, tanto em casa, quanto nas igrejas, tanto nos serviços comuns, quanto nas vias públicas.

Certo, ninguém precisará viver exclusivamente de mãos postas ou de olhar fixo no firmamento; todavia, não nos esqueçamos de que a gentileza, a boa vontade, a cooperação e a polidez são aspectos divinos da oração viva no apostolado do Cristo.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos faz refletir, lembrando a recomendação do Paulo, aos Coríntios, de que não podemos ser uma pessoa em casa e outra pessoa no templo religioso de sua preferência.

Afinal, a ida ao templo religioso é para nos prepararmos para sermos bons em casa, primeiramente, e em qualquer lugar por onde formos.

A ida à casa religiosa é um chamado à reforma íntima e esta, se perseguida, nos caracterizará como verdadeiro espírita, segundo A. Kardec. Senão vejamos, conforme suas palavras: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. O codificador grafa essa máxima no Cap. XVII, Item 4, do O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado Sede Perfeito.

Discutindo sobre a afabilidade e a doçura, o Espírito Lázaro nos recomenda a pensar, também, a sermos do mesmo jeito, em tudo, em qualquer lugar. Lembra dos tiranos domésticos, que na sociedade não se agasta com o que lhe incomoda, mas em casa, são verdadeiros déspotas. Sobre eles, se expressa, como segue:

A essa classe também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa, se impõem a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os estranhos, que os chamariam à ordem, acham que pelo menos devem fazer-se temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer: “Aqui mando e sou obedecido”, sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: “E sou detestado.”[1]

O Espírito Lázaro nos lembra que por aparências, podemos enganar os homens, mas nunca a Deus.

Para Emmanuel, corroborando com Lázaro, “é indispensável que os aprendizes se tornem recomendáveis em tudo, revelando a excelência das ideias que os alimentam, tanto em casa, quanto nas igrejas, tanto nos serviços comuns, quanto nas vias públicas”.

Que tenhamos esse discernimento e sejamos uma só pessoa, imbuídas dos preceitos cristãos, excelente em tudo, por onde estivermos e por onde passarmos, seja em casa ou no tempo religioso.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide a mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, Item 6.

domingo, 22 de outubro de 2023

O MUNDO E A CRENÇA

 

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O MUNDO E A CRENÇA

O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos.

Marcos (15:32).

Por isso que são muito raros os homens habilitados à verdadeira compreensão da crença pura em seus valores essenciais, encontramos os que injuriaram o Cristo para confirmá-lo.

A mentalidade milagreira sempre nadou na superfície dos sentidos, sem atingir a zona do espírito eterno, e, se não alcança os fins menos dignos aos quais se dirige, descamba para os desafios mordazes.

E, no caso do Mestre, as observações não partem somente do populacho. Assevera Marcos que os principais dos sacerdotes com os escribas partilhavam dos movimentos insultuosos, como a dizer que intelectualismo não traduz elevação espiritual.

Os manifestantes conservavam-se surdos para a Boa Nova do Reino, cegos para a contemplação dos benefícios recebidos, insensíveis ao toque do amor que Jesus endereçara aos corações.

Pretendiam apenas um espetáculo.

Descesse o Cristo da Cruz, num passe de mágica, e todos os problemas de crença inferior estariam resolvidos.

O divino interpelado, contudo, não lhes deu outra resposta, além do silêncio, dando-lhes a entender a magnitude de seu gesto inacessível ao propósito infantil dos inquiridores.

Se és discípulo sincero do Evangelho, não te esqueças de que, ainda hoje, a situação não é muito diversa.

Trabalha, ponderadamente, no serviço da fé.

Une-te ao Senhor, dá quanto puderes em nome dele e prossegue servindo na extensão do bem, convicto de que o vasto mundo inferior apenas te pedirá maliciosamente distrações e sinais.

NOSSA REFLEXÃO

A questão da fé raciocinada está posta aqui, nesta mensagem de Emmanuel.

Mas também o deboche e a maldade da descrença.

A incompreensão da essência de uma mensagem do Cristo leva a muitos à injustiça e ao ódio, a ponto de destilá-los em nome de Jesus, como muito vemos nos dia de hoje, no Brasil.

Aproveitadores das palavras e exploradores da fé de quem tem pouco estudo e, por isso, não fazem a crítica do que ouvem, enriquecem e apoiam os piores projetos para humanidade, para o Brasil.

A. Kardec nos ofereceu a seguinte máxima, colocada no capa de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Sobre a fé, nos esclarece:

Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana[1].

Lembremos que, apesar de o Mestre, em conversa com seus discípulos, anunciar o que aconteceria em Jerusalém, que aconteceu, e ressurgiria no terceiro dia (MATEUS, 20: 17-19), o Discípulo Tomé que não estava com os amigos quando o Cristo apareceu para eles, pela primeira vez, ao receber deles a notícia do ocorrido, afirmou: “Se eu não vir em suas mãos a marca dos cravos, não puser o meu dedo na marca dos cravos e não puser a minha mão em sua pleura, não crerei”. Dias depois, o Mestre reapareceu aos discípulos e mostrou ao Tomé o que ele queria ver e disse-lhe: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (JOÃO, 20: 24-29)[2].

Sendo seguidores do Mestre e espíritas, se faz necessário o estudo aprofundado das obras básicas do Espiritismo e complementares, como esta de Emmanuel, para não dependermos de provas materiais para acreditarmos no que os textos nos apresentam. Muitos se afastaram e podem se afastar do Espiritismo por falta de estudos e focar apenas nos fenômenos mediúnicos[3].

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide a na íntegra o texto sobre A fé religiosa. Condição da fé inabalável, em de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, itens 6 e 7.
[2] No ditado popular, Tomé se tornou o símbolo daquele que só acredita vendo.
[3]
“Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4).

domingo, 15 de outubro de 2023

ONDE ESTÃO?

 

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ONDE ESTÃO?

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.

Jesus (MATEUS, 11:29).

Dirigiu­se Jesus à multidão dos aflitos e desalentados proclamando o divino propósito de aliviá­los.

– “Vinde a mim! – clamou o Mestre – tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração!”

Seu apelo amoroso vibra no mundo, através de todos os séculos do Cristianismo.

Compacta é a turba de desesperados e oprimidos da Terra, não obstante o amorável convite.

É que o Mestre no “Vinde a mim!” espera naturalmente que as almas inquietas e tristes o procurem para a aquisição do ensinamento divino. Mas nem todos os aflitos pretendem renunciar ao objeto de suas desesperações e nem todos os tristes querem fugir à sombra para o encontro com a luz.

A maioria dos desalentados chega a tentar a satisfação de caprichos criminosos com a proteção de Jesus, emitindo rogativas estranhas.

Entretanto, quando os sofredores se dirigirem sinceramente ao Cristo, hão de ouvi­lo, no silêncio do santuário interior, concitando­lhes o espírito a desprezar as disputas reprováveis do campo inferior.

Onde estão os aflitos da Terra que pretendem trocar o cativeiro das próprias paixões pelo jugo suave de Jesus Cristo?

Para esses foram pronunciadas as santas palavras “Vinde a mim!”, reservando-­lhes o Evangelho poderosa luz para a renovação indispensável.

NOSSA REFLEXÃO

Atualmente, vivemos momentos de muitas dores na Terra. Guerras eclodindo por muitas partes, dizimando pessoas, que sem estarem envolvidas nos interesses dos mandantes das guerra, voltam pra o plano espiritual de maneira brutal. Cataclismo geológicos que afetam toda uma região, também dizimando parte da população envolvida. Catástrofes climáticas que, por sua vez, não deixam por menos, em relação aos outros flagelos da Terra. Vão-se milhares e ficam outros tantos, sem nada, dependendo de ações do poder público e organizações não-governamentais, além de coletivos religiosos ou particulares. Muita dor.

A fora isso, temos os sofrimentos de causas doentias do corpo ou da alma, físicas ou psicológicas, perseguições com base em preconceitos, violência domésticas, abuso sexual e escravidão. Eis um mundo de provas e expiações no seu ápice.

Mas Jesus deixou seu recado, pois sofreu na cruz, por pregar o Amor.

Então, precisamos entender bem a justiça das aflições. Quais as causas das aflições. Elas são oriundas desta vida ou de vidas passadas?

O Cristo, quando nos prometeu consolo, não se referiu à vida presente. A. Kardec nos esclarece que “somente na vida futura podem efetivar-se as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra.”[1] Então, necessário se faz desenvolver em nós um Espírito de fé e resignação e busca de solução pra os problemas.

O Cristo nos apontou, completando o que traz no caput desta mensagem, que “[...] meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (MATEUS, 11: 30). A. Kardec explica:

Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram consolação na fé no futuro, na confiança na Justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, ao contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu peso e nenhuma esperança lhe mitiga o amargor. Foi isso que levou Jesus a dizer: “Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que Eu vos aliviarei. [...] Seu jugo é a observância dessa lei; mas esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade”[2]

Assim, a despeito de quaisquer coisas que nos aconteçam, há uma justiça celestial em andamento, como os flagelos naturais que têm ocorrido na Terra, que segundo os Espíritos Superiores da Codificação Espírita, é para que “[...] para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.”[3]

As guerras, por sua vez, são frutos da inferioridade daqueles que as fazem eclodir. Isto é, frutos da “predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões.”[4]

De outra sorte, devemos levar em conta que as causas das aflições podem ser desta, como de vidas passadas. Então, devemos evitar as que podem ser desta, pois das passadas já nos bastam.

Sobre as passadas, podemos dizer que são aquelas que não há uma explicação plausível, que leva uma pessoa a dizer: “O que eu fiz pra merecer isso?” A. Kardec nos explica:

Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente.[5]

Então, temos todos os esclarecimentos para sermos fervorosos em relação à vida futura e resignados em relação a vida presente, mas sempre ativos, pensando que se sofremos, outras pessoas, também. Que façamos do sofrer um trampolim pra uma vida feliz.

Sobre isso, temos um ensinamento do Espírito Lacordaire:

Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o Reino dos Céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao Reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus.[6]

Que consigamos sofrer bem, com fervor, resignação e esperança, pois somos frutos de nós mesmos e devemos continuar a ser, no sentido de uma elevação espiritual quando deixarmos o corpo, por qualquer que seja a causa, dentre as citadas nesta Nossa Reflexão.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Item 3.
[2] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, Item 2.
[3] Vide sobre em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Da Lei de Destruição, Questão 737 e seguintes.
[4] Vide sobre em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Guerras, Questão 742 e seguintes.
[5] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Item 6.
[6]
Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Item 18.

domingo, 8 de outubro de 2023

AO PARTIR DO PÃO

 

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AO PARTIR DO PÃO

E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles foi conhecido ao partir do pão.

Lucas (24:35).

Muito importante o episódio em que o Mestre é reconhecido pelos discípulos que se dirigiam para Emaús, em desesperação. Jesus seguira-os, qual amigo oculto, fixando-lhes a verdade no coração com as fórmulas verbais, carinhosas e doces.

Grande parte do caminho foi atravessada em companhia daquele homem, amoroso e sábio, que ambos interpretaram por generoso e simpático desconhecido e, somente ao partir do pão, reconhecem o Mestre muito amado.

Os dois aprendizes não conseguiram a identificação nem pelas palavras, nem pelo gesto afetuoso; contudo, tão logo surgiu o pão materializado, dissiparam todas as dúvidas e creram.

Não será o mesmo que vem ocorrendo no mundo há milênios?

Compactas multidões de candidatos à fé se afastam do serviço divino, por não atingirem, depois de certa expectação, as vantagens que aguardavam no imediatismo da luta humana. Sem garantia financeira, sem caprichos satisfeitos, não comungam na crença renovadora, respeitável e fiel.

É necessário combater semelhante miopia da alma.

Louvado seja o Senhor por todas as lições e testemunhos que nos confere, mas continuarás muito longe da verdade se o procuras apenas na divisão dos bens fragmentários e perecíveis.

NOSSA REFLEXÃO

Esta passagem evangélica, base para a reflexão de Emmanuel, se deu com dois discípulos do Cristo, após a ressurreição do Mestre. Viajavam para Emaús, aflitos por não terem mais o Cristo entre eles. A esperança que os alimentaram enquanto Jesus estava com eles, havia diminuído.

O Cristo os acompanhara sem ser percebido, inclusive conversando com eles. Só foram reconhecê-lo quando o viram repartir o pão pelo modo de fazê-lo, reacendendo as esperanças e a credibilidade da companhia que continuariam tendo após a despedida.

A lição que devemos tirar desse epsódio é que devemos crer, sem ver. Não devemos nos prender ao fenômenos materiais, temporários, para entender o espiritual por trás deles, que é permanente.

Emmanuel, nesta mensagem, sobre isso, nos faz refletir:

Compactas multidões de candidatos à fé se afastam do serviço divino, por não atingirem, depois de certa expectação, as vantagens que aguardavam no imediatismo da luta humana. Sem garantia financeira, sem caprichos satisfeitos, não comungam na crença renovadora, respeitável e fiel.

Isto nos leva refletir sobre o afastamento de espíritas das reuniões espíritas, quando não se vêem satisfeitos pela falta de uma prova contudente da vida após a morte, por não receber uma mensagem de um ente querido que partiu para a pátria espiritual, por exemplo.

Allan Kardec explica essa situação:

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. [...] Nalguns ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra.[1]

Então, é necessário, para aproveitarmos o máximo possível do que nos apresenta a Doutrina, que nos desprendamos dos fenômenos, como prova do que está escrito nos textos.

Sejamos fervorosos, mas de modo racional, pois como está nos prolegômenos de O Evangelho Segundo o Espíritismo, “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Que Deu nos ajude.

Domício.



[1] Vide dissertação de A. Kardec, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4.

domingo, 1 de outubro de 2023

É PORQUE IGNORAM

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É PORQUE IGNORAM

E isto vos farão, porque não conhecem ao Pai nem a mim.

Jesus. (JOÃO, 16:3).

Dolorosas perplexidades não raro assaltam os discípulos, inspirando-lhes interrogações.

Por que a desarmonia, em torno do esforço fraterno? A jornada do bem encontra barreiras sombrias.

Tenta-se o estabelecimento da luz, mas a treva penetra as estradas. Formulam-se projetos simples para a caridade que a má-fé procura perturbar ao primeiro impulso de realização.

Quase sempre, a demonstração destrutiva parte de homens assinalados pela posição de evidência, indicados pela força das circunstâncias para exercer a função de orientadores do pensamento geral. São esses que, na maioria das ocasiões, se arvoram em expositores de imposições e exigências descabidas.

O aprendiz sincero de Jesus, todavia, não deve perder tempo com interrogações e ansiedades que se não justificam.

O Mestre divino esclareceu esse grande problema por antecipação.

A ignorância é a fonte comum do desequilíbrio. E se esse ou aquele grupo de criaturas busca impedir as manifestações do bem, é que desconhece, por enquanto, as bênçãos do Céu.

Nada mais que isto.

É necessário, pois, esquecer as sombras que ainda dominam a maior parte dos setores terrestres, vivendo cada discípulo na luz que palpita no serviço do Senhor.

NOSSA REFLEXÃO

A orientação de Jesus, no caput desta mensagem de Emmanuel, se deu quando ele se despedia dos discípulos, preparando-os para o que haveria de vir pra eles, quando estivessem divulgando a Boa Nova.

Emmanuel, no livro Fonte Viva, posterior a esse que refletimos por agora, na mensagem intitulada Díscipulos, retornou a tratar da formação de discípulos, traduzindo a preocupação do Cristo em preparar os seus seguidores pra as provas que passariam ao seguí-lo.

Nesse caminhar de cada criatura do Pai que queira se tornar um cristão ou uma cristã, ela passará por seleção, pois ninguém deve usurpar, como Espírito, o lugar do verdadeiro espírita ou cristão de qualquer matiz religiosa.

Em Lucas (12: 48), Jesus nos chama a atenção para o seguinte: “Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado.”

A. Kardec nos explica a respeito:

Principalmente ao ensino dos Espíritos é que estas máximas se aplicam. Quem quer que conheça os preceitos do Cristo e não os pratique, é certamente culpado; contudo, além de o Evangelho, que os contém, achar-se espalhado somente no seio das seitas cristãs, mesmo dentro destas quantos há que não o leem, e, entre os que o leem, quantos os que o não compreendem! Resulta daí que as próprias palavras de Jesus são perdidas para a maioria dos homens.[1] 

Então, o cristão ou cristã, de qualquer denominação religiosa, deve estar preparado (a) para o enfrentamento da má vontade em torno de suas ações voltadas ao bem e não deixar-se ser cooptado (a) pelo mal ou desistimulado por ele, principalmente se o mal é representado por pessoas que, formadas no e para o culto religioso, por ignorância ou má fé, aproveita-se da boa fé de quem os escuta.

No caso do desístimulo ao bem, no caso de perseguição religiosa, que os (as) cristãos (ãs) sofreram muito, no início do cristianismo, e sofrem até hoje, mas em menor grau, é importante ressalvar o que o Emmanuel nos traz nesta mensagem: “A ignorância é a fonte comum do desequilíbrio. E se esse ou aquele grupo de criaturas busca impedir as manifestações do bem, é que desconhece, por enquanto, as bênçãos do Céu”.

Que sejamos, sempre, dotados de fé e perseverança no bem, a despeito das perseguições religiosas, e nos defendamos de forma jurídica, quando formos vítimas de uma ação do tipo, pois há uma Lei brasileira que protege o culto religioso de qualquer matiz, que é a Lei nº 14.532, de 11 de janeiro de 2023.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide dissertação de Allan Kardec, a respeito, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII, Item 12.