domingo, 22 de outubro de 2023

O MUNDO E A CRENÇA

 

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O MUNDO E A CRENÇA

O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos.

Marcos (15:32).

Por isso que são muito raros os homens habilitados à verdadeira compreensão da crença pura em seus valores essenciais, encontramos os que injuriaram o Cristo para confirmá-lo.

A mentalidade milagreira sempre nadou na superfície dos sentidos, sem atingir a zona do espírito eterno, e, se não alcança os fins menos dignos aos quais se dirige, descamba para os desafios mordazes.

E, no caso do Mestre, as observações não partem somente do populacho. Assevera Marcos que os principais dos sacerdotes com os escribas partilhavam dos movimentos insultuosos, como a dizer que intelectualismo não traduz elevação espiritual.

Os manifestantes conservavam-se surdos para a Boa Nova do Reino, cegos para a contemplação dos benefícios recebidos, insensíveis ao toque do amor que Jesus endereçara aos corações.

Pretendiam apenas um espetáculo.

Descesse o Cristo da Cruz, num passe de mágica, e todos os problemas de crença inferior estariam resolvidos.

O divino interpelado, contudo, não lhes deu outra resposta, além do silêncio, dando-lhes a entender a magnitude de seu gesto inacessível ao propósito infantil dos inquiridores.

Se és discípulo sincero do Evangelho, não te esqueças de que, ainda hoje, a situação não é muito diversa.

Trabalha, ponderadamente, no serviço da fé.

Une-te ao Senhor, dá quanto puderes em nome dele e prossegue servindo na extensão do bem, convicto de que o vasto mundo inferior apenas te pedirá maliciosamente distrações e sinais.

NOSSA REFLEXÃO

A questão da fé raciocinada está posta aqui, nesta mensagem de Emmanuel.

Mas também o deboche e a maldade da descrença.

A incompreensão da essência de uma mensagem do Cristo leva a muitos à injustiça e ao ódio, a ponto de destilá-los em nome de Jesus, como muito vemos nos dia de hoje, no Brasil.

Aproveitadores das palavras e exploradores da fé de quem tem pouco estudo e, por isso, não fazem a crítica do que ouvem, enriquecem e apoiam os piores projetos para humanidade, para o Brasil.

A. Kardec nos ofereceu a seguinte máxima, colocada no capa de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Sobre a fé, nos esclarece:

Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana[1].

Lembremos que, apesar de o Mestre, em conversa com seus discípulos, anunciar o que aconteceria em Jerusalém, que aconteceu, e ressurgiria no terceiro dia (MATEUS, 20: 17-19), o Discípulo Tomé que não estava com os amigos quando o Cristo apareceu para eles, pela primeira vez, ao receber deles a notícia do ocorrido, afirmou: “Se eu não vir em suas mãos a marca dos cravos, não puser o meu dedo na marca dos cravos e não puser a minha mão em sua pleura, não crerei”. Dias depois, o Mestre reapareceu aos discípulos e mostrou ao Tomé o que ele queria ver e disse-lhe: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (JOÃO, 20: 24-29)[2].

Sendo seguidores do Mestre e espíritas, se faz necessário o estudo aprofundado das obras básicas do Espiritismo e complementares, como esta de Emmanuel, para não dependermos de provas materiais para acreditarmos no que os textos nos apresentam. Muitos se afastaram e podem se afastar do Espiritismo por falta de estudos e focar apenas nos fenômenos mediúnicos[3].

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide a na íntegra o texto sobre A fé religiosa. Condição da fé inabalável, em de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, itens 6 e 7.
[2] No ditado popular, Tomé se tornou o símbolo daquele que só acredita vendo.
[3]
“Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4).

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