domingo, 30 de julho de 2023

CONCILIAÇÃO

 

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CONCILIAÇÃO

Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e te encerrem na prisão.

Jesus (MATEUS, 5:25).

Muitas almas enobrecidas, após receberem a exortação desta passagem, sofrem intimamente por esbarrarem com a dureza do adversário de ontem, inacessível a qualquer conciliação.

A advertência do Mestre, no entanto, é fundamentalmente consoladora para a consciência individual.

Assevera a palavra do Senhor – “concilia-te”, o que equivale a dizer “faze de tua parte”.

Corrige quanto for possível, relativamente aos erros do passado, movimenta-te no sentido de revelar a boa vontade perseverante. Insiste na bondade e na compreensão.

Se o adversário é ignorante, medita na época em que também desconhecias as obrigações primordiais e observa se não agiste com piores características; se é perverso, categoriza-o à conta de doente e dementado em vias de cura.

Faze o bem que puderes, enquanto palmilhas os mesmos caminhos, porque se for o inimigo tão implacável que te busque entregar ao juiz, de qualquer modo, terás então igualmente provas e testemunhos a apresentar. Um julgamento legítimo inclui todas as peças e somente os espíritos francamente impenetráveis ao bem sofrerão o rigor da extrema justiça.

Trabalha, pois, quanto seja possível no capítulo da harmonização, mas se o adversário te desdenha os bons desejos, concilia-te com a própria consciência e espera confiante.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos lembra de uma importante passagem evangélica voltada o perdão, à reconciliação.

Quem tem com quem se reconciliar, que consiga. Contudo, não é fácil perdoar. Se formos a pessoa ofendida, pra quem lê essa mensagem de Emmanuel, e além disso, formos um predisposto a ser um verdadeiro espírita, é mais fácil. Pois todo e toda espírita carrega em sim o forte desejo de voltar ao plano espiritual bem melhorado. Mas ainda, assim, não é fácil. Não devemos julgar outra pessoa espírita por não ser afeita à reconciliação com outra pessoa. Cada pessoa no tempo.

Mas, de qualquer modo, a reconciliação depende do desejo das duas pessoas em buscar essa harmonização.

Nesse caso, devemos manter o desejo de voltar a ser amigo ou amiga de uma pessoa que com ela tivemos situações de decepções muito sofridas. E o futuro espiritual deve ser uma motivação maior pra a reconciliação, como nos esclarece A. Kardec:

Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, da prisão, enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não houverdes satisfeito completamente a Justiça de Deus.[1]

 

Ou seja, sendo nossa encarnação ser uma prisão, pois quem já atingiu uma espiritualidade superior, não tem obrigação de reencarnar, precisamos garantir que uma eventual volta ao plano de carne seja em missão espiritual. A justiça deve aplicada e devemos ser dóceis e colaborador com quem nos assiste enquanto estamos reencarnados.

Então sejamos misericordiosos com aquele ou aquela que não se dispõe a uma reconciliação conosco e esperar uma oportunidade em que ela esteja a esse ato. Coloquemo-nos no lugar do ofendido e esperemos, pois, certamente, um dia a reconciliação vai acontecer.

Como Emmanuel, no fechamento dessa mensagem, nos diz, “[...] se o adversário te desdenha os bons desejos, concilia-te com a própria consciência e espera confiante.”

Que Deus nos ajude a perdoar quem nos ofendeu e quem não venha a aceitar um pedido de reconciliação.

Domício.

Ps. Sobre essa temática, compartilho duas poesias de L. Angel.

PERDOA-ME?      PERDOO–TE!!
L. Angel                    04/08/2015
Perdoar é um ato de amor.
Primeiro a si mesmo, porque liberta.
Liberta a vítima e o que gerou a dor.
É a caridade na medida certa.


Perdoar é doar-se por completo.
Por isso, setenta vezes sete.
Não há um teto.
Perdoando, a ofensa menos se repete.


Algoz e vítima, vítima e algoz,
Cada um, a justiça clama
Sem perdoar, sem desatar os nós.


Perdoe-me! Mas perdoar não é esquecer.
É lembrar com a mente de quem ama.
É a caridade viver.


Perdoo–te! Em paz quero viver!
Libertar-me do ódio, eis minha cura!
Odiar é morrer.
Amar é viver a caridade pura!


Segue um fragmento poético


Não há perdão mais caridoso,
Para aquele que magoou,
Que perdoar, de modo venturoso,
O ofendido que um perdão lhe negou.
L. Angel



[1] Vide, na íntegra, a dissertação de A. Kardec, sobre o tema, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X, Item 6.

domingo, 23 de julho de 2023

AJUDA SEMPRE

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AJUDA SEMPRE

Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando­-me o coração?

(ATOS, 21:13).

Constitui passagem das mais dramáticas nos Atos dos Apóstolos aquela em que Paulo de Tarso se prepara, à frente dos testemunhos que o aguardavam em Jerusalém.

Na alma heróica do lutador não paira qualquer sombra de hesitação. Seu espírito, como sempre, está pronto. Mas, os companheiros choram e se lastimam; e, do coração sensível e valoroso do batalhador do Evangelho, flui a indagação dolorosa.

Não obstante a energia serena que lhe domina a organização vigorosa, Paulo sentia falta de amigos tão corajosos quanto ele mesmo.

Os companheiros que o seguiam estavam sinceramente dispostos ao sacrifício, entretanto, não sabiam manifestar os sentimentos da alma fiel. É que o pranto ou a lamentação jamais ajudam, nos instantes de testemunho difícil. Quem chora, ao lado de um amigo em posição perigosa, desorganiza-­lhe a resistência.

Jesus chorou no Horto, quando sozinho, mas, em Jerusalém, sob o peso da cruz, roga às mulheres generosas que o amparavam a cessação das lágrimas angustiosas. Na alvorada da Ressurreição, pede a Madalena esclareça o motivo de seu pranto, junto ao sepulcro.

A lição é significativa para todo aprendiz.

Se um ente amado permanece mais tempo sob a tempestade necessária, não te entregues a desesperos inúteis. A queixa não soluciona problemas. Em vez de magoá­-lo com soluços, aproxima-­te dele e estende-­lhe as mãos.

NOSSA REFLEXÃO

Somo detentores de conhecimentos que nos habilitam a sermos corajosos e fervorosos diante de nossa dor ou de um semelhante. Contudo, nem sempre estamos vigilantes quanto a deter esses conhecimentos e caímos aos prantos em vez de se ajudar ou ajudar uma irmã ou um irmão.

Paulo, quanto a isso, em outro momento de sua missão evangélica, fez a seguinte exortação a quem se dirigia no momento: “Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, sede fortes. (PAULO – I CORÍNTIOS, 16:13). Emmanuel reflete sobre essa passagem evangélica, no livro Fonte Viva e afirma: “Para conquistarmos os valores substanciais da redenção, é imprescindível conservar a fortaleza de ânimo de quem confia no Senhor e em si mesmo”[1].

Nesse contexto, o Espírito Lacordaire, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos instrui sobre o bem e mal sofrer:

Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o Reino dos Céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao Reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus.[2]

 

Então, é importante seguir o caminho, sem lamúrias, tanto por algo que nos aflige, quanto ao que acontece com um ou uma semelhante.

Emmanuel nos lembra, nesta mensagem, que ora refletimos, quanto à resignação e a força da compreensão de Jesus Cristo sobre o que estava vivendo quando foi condenado à cruz:

Jesus chorou no Horto, quando sozinho, mas, em Jerusalém, sob o peso da cruz, roga às mulheres generosas que o amparavam a cessação das lágrimas angustiosas. Na alvorada da Ressurreição, pede a Madalena esclareça o motivo de seu pranto, junto ao sepulcro.

 

Não esqueçamos que o próprio Cristo nos exortou a ter fé e que, segundo ele, não estaríamos sozinhos no sofrimento, como nos traz a seguinte passagem evangélica:

Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. (MATEUS, 11:28 a 30).[3]

 

Esta exortação é muito importante para, inclusive, quando nos afligimos com a dor de uma pessoa querida. Pois ao procurá-la por ela estar passando por algo difícil, não devemos acrescentar à sua dor, a nossa dor. Sejamos médicos ou enfermeiros, nessa hora, para passar tranquilidade ao paciente.

Finalmente, podemos dizer que Emmanuel corrobora conosco quando, nesta mensagem, ele nos ilumina: “Se um ente amado permanece mais tempo sob a tempestade necessária, não te entregues a desesperos inúteis. A queixa não soluciona problemas. Em vez de magoá-­lo com soluços, aproxima-­te dele e estende-­lhe as mãos”.

Então, que sejamos firmes na hora de mostrarmos que temos conhecimento a por em prática e torná-lo um conhecimento vivo.

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps. Compartilho com nossos(as) leitores (as) o seguinte fragmento poético de L. Angel.

Nesse mundo de provas e expiações,
O choro é natural, mesmo que não se queira.
Traduz o afloramento de emoções,
Mas que seja como ocorreu no Monte das Oliveiras.
L. Angel       01/02/2016



[1] Vide NOSSA REFLEXÃO em Varonilmente.
[2] Vide na íntegra, a mensagem de Lacordaire em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Item 18.
[3] Vide a ponderação de Allan Kardec sobre esse versículo do Evangelho em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, Item 2.

domingo, 16 de julho de 2023

É PARA ISTO

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É PARA ISTO

Não retribuindo mal por mal, nem injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados.

I Pedro (3: 9).

A fileira dos que reclamam foi sempre numerosa em todas as tarefas do bem.

No apostolado evangélico, reparamos, igualmente, essa regra geral.

Muitos aprendizes, em obediência ao pernicioso hábito, preferem o caminho dos atritos ou das dissidências escandalosas. No entanto, mais algum raciocínio despertaria a comunidade dos discípulos para a maior compreensão.

Convidar­nos-­ia Jesus a conflitos estéreis, tão ­só para repetir os quadros do capricho individual ou da força tiranizante? Se assim fora, o ministério do Reino estaria confiado aos teimosos, aos discutidores, aos gigantes da energia física.

É contrassenso desfazer­-se o servidor da Boa-Nova em lamentações que não encontram razão de ser.

Amarguras, perseguições, calúnias, brutalidade, desentendimento? São velhas figurações que atormentam as almas na Terra. A fim de contribuir na extinção delas é que o Senhor nos chamou às suas fileiras. Não as alimentes, emprestando-­lhes excessivo apreço.

O cristão é um ponto vivo de resistência ao mal, onde se encontre.

Pensa nisto e busca entender a significação do verbo suportar.

Não olvides a obrigação de servir com Jesus.

É para isto que fomos chamados.

NOSSA REFLEXÃO

Este texto que Emmanuel nos ofereceu, aponta elementos que no fazem pensar sobre nossa postura em qualquer lugar, mas, sobretudo nas tarefas coletivas da ação cristã. Companheirismo, empatia, paciência em escutar para poder falar com a devida calma e respeito aos demais colaboradores da Casa Espírita ou Grupo Espírita. Estas devem ser as palavras de ordem de um grupo cristão.

Não devemos nos deixar agastar com as más compreensões de um texto ou de uma fala mal elaborada. Pelo contrário, devemos reelaborar o entendimento para que todos e todas entrem em consenso pacífico. Emmanuel nos enfatiza, nesta mensagem: “O cristão é um ponto vivo de resistência ao mal, onde se encontre. Pensa nisto e busca entender a significação do verbo suportar. Não olvides a obrigação de servir com Jesus. É para isto que fomos chamados”.

Em outro livro, Fonte Viva, Emmanuel, na mensagem intitulada Na pregação, nos lembra “[...] de que Jesus não só cedeu, em favor de todos, quanto poderia reter em seu próprio benefício, mas igualmente fez a doação de si mesmo pela elevação comum.”

Por sua vez, O Espírito de Verdade, coordenador espiritual da Codificação Espírita, nos faz pensar sobre o nosso papel na obra do Senhor:

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra![1]

 

Então, temos recados advindos de Jesus Cristo (do Espírito de Verdade), Paulo, Pedro e de Emmanuel, que nos orientam que devemos ter atitudes pacificadoras no labor cristão. Isto deve valer pra qualquer trabalho coletivo em que um cristão esteja integrado, seja na casa ou templo religioso, no exercício da profissão, em atividades sociais e/ou políticas, etc.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide a mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, Item 5.

domingo, 9 de julho de 2023

EM FAMÍLIA

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EM FAMÍLIA

Aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família e a recompensar seus pais, porque isto é bom e agradável diante de Deus.

Paulo (I TIMÓTEO, 5:4).

A luta em família é problema fundamental da redenção do homem na Terra. Como seremos benfeitores de cem ou mil pessoas, se ainda não aprendemos a servir cinco ou dez criaturas? Esta é indagação lógica que se estende a todos os discípulos sinceros do Cristianismo.

Bom pregador e mau servidor são dois títulos que se não coadunam.

O Apóstolo aconselha o exercício da piedade no centro das atividades domésticas, entretanto, não alude à piedade que chora sem coragem ante os enigmas aflitivos, mas àquela que conhece as zonas nevrálgicas da casa e se esforça por eliminá-­las, aguardando a decisão divina a seu tempo.

Conhecemos numerosos irmãos que se sentem sozinhos, espiritualmente, entre os que se lhes agregaram ao círculo pessoal, através dos laços consanguíneos, entregando­-se, por isso, a lamentável desânimo.

É imprescindível, contudo, examinar a transitoriedade das ligações corpóreas, ponderando que não existem uniões casuais no lar terreno. Preponderam aí, por enquanto, as provas salvadoras ou regenerativas. Ninguém despreze, portanto, esse campo sagrado de serviço por mais se sinta acabrunhado na incompreensão. Constituiria falta grave esquecer-­lhe as infinitas possibilidades de trabalho iluminativo.

É impossível auxiliar o mundo, quando ainda não conseguimos ser úteis nem mesmo a uma casa pequena – aquela em que a Vontade do Pai nos situou, a título precário.

Antes da grande projeção pessoal na obra coletiva, aprenda o discípulo a cooperar, em favor dos familiares, no dia de hoje, convicto de que semelhante esforço representa realização essencial.

NOSSA REFLEXÃO

A família é o ajuntamento de almas que por processo de afinidades ou cármico devem melhorar as afinidades, perdoar pela inimizades gratuitas, involuntárias, difícil de compreender quando não se é estudioso da Doutrina Espírita.

Nesse contexto, devemos nos preocupar com os laços de família. A obra pentateuca do Espiritismo, O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos traz uma discussão a respeito desse tema, em dois capítulos: Cap. IV (Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo), em que se afirma a potencialidade da reencarnação como instrumento divino de reunir e consolidar os laços de família; e o Cap. XIV (Honrai vosso Pai e a vossa Mãe), em que se discute a necessidade de uma boa convivência no seio de uma família e em especial a dos filhos e filhas com o Pai e com a Mãe..

Segundo o A. Kardec, “os laços de família não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como o pensam certas pessoas. Ao contrário, tornam-se mais fortalecidos e apertados. O princípio oposto, sim, os destrói.”[1]

Os Espíritos quando têm afinidades, jamais deixam de se amar, por terem que se afastar por algum tempo. Uma família espiritual se reúne, quando necessário, seja no modo desencarnado, seja no encarnado, por demandas convergentes. Quando os Espíritos não são afins, em uma família corpórea, a ideia é que a família aperte os laços que ainda se encontram frouxos. Então, não é fácil fortalecer os laços. O que acontece comumente, são as constantes desavenças e necessidade de um e outro ou uma e outra querer se afastar, mesmo que não seja integralmente, mas tão somente, mudando de casa, pois a convivência, parece se tornar impossível, morando debaixo do mesmo teto.

Mas algo que não devemos deixar de levar em conta, principalmente, é a relação em pais e filhos.

Discutindo sobre a parentela corporal e a parentela espiritual, traçando uma distinção entre essas duas terminologia, A. Kardec, nos esclarece:

Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família, e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. (grifos nossos).[2]

 

Posto isto, a reflexão é que, primeiramente, a relação mais ótima possível que se deve ter é a entre pais e filhos, pois esses, só se encontram na família pelo aceite daqueles, mesmo sabendo que, no momento, sabiam das dificuldades que encontrariam em cuidar de seus rebentos que, a princípio, apresentavam uma distância, seja do ponto de vista moral, que inclui desavenças histórica na relação pretérita, seja do ponto de vista do saber e hábitos.

A ingratidão filial é uma mácula desenvolvida em uma vida, que se soma a tantas outras, que se pelo menos não existisse, já era um grande salto evolutivo na vida de um Espírito. Mas as desavenças, distanciamentos relativos a hábitos e entendimentos sobre a vida são naturais e não são da vida presentes. Cabe aos filhos dominar a aversão natural que têm pelos pais e de modo cristão, perdoar-lhes, incondicionalmente, tratando de melhorar o laço abençoado que Deus possibilitou numa encarnação. Nessa relação o melhor, mesmo, é podar o ingrato que se apresenta no dia a dia de nossas vidas.

Mas numa família, em geral, não só existe a relação entre os pais e um filho ou filha (os pais, em particular são, também, dois Espíritos que têm também suas desavenças, que, infelizmente, levam a separação). Não, na família tem também os irmãos e irmãs. Nessa relação, em alguns momentos tumultuados da relação familiar, requer de todos e todas muita paciência. Nesse contexto, buscamos Um Espírito Amigo para nos iluminar a respeito:

Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.[3]

 

E que pessoas mais representativas relativas ao que esse Espírito nos fala, senão: o marido ou a esposa; o irmão ou a irmã.?

A despeito de qualquer separação já tendo existido em nossas vidas, que saibamos reconhecer a importância dessas pessoas na nossa vida e que possamos ou manter, apertar, os laços ainda presentes ou tentar, com a ajuda de Deus, considerar a possibilidade criar laços de companheirismo, mesmo sem morar com eles ou elas.

Que Deus ajude a nossos pais e nossas mães a nos perdoar pelas atitudes ingratas que cometemos contra eles e elas.

Que Deus nos ajude, da mesma forma, a compreendê-los como Espíritos em evolução e que só querem o nosso bem.

Que Deus nos ajude a valorizar, perdoar, aquele ou aquela que Deus juntou a nós para formamos uma família, sob quaisquer condições possíveis que podem, hoje, estar vigendo.

Domício.


[1] Vide a discussão, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo,Cap. IV, Item 18.
[2] Vide a discussão, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo,Cap. XIV, Item 8.
[3]
Vide a íntegra da mensagem, em O Evangelho Segundo o Espiritismo,Cap. IX, Item 7.

domingo, 2 de julho de 2023

OUÇAM-NOS

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OUÇAM-NOS

Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.

Lucas (16:29).

A resposta de Abraão ao rico da parábola ainda é ensinamento de todos os dias, no caminho comum.

Inúmeras pessoas se aproximam das fontes de revelação espiritual, entretanto, não conseguem a libertação dos laços egoísticos de modo que vejam e ouçam, qual lhes convém aos interesses essenciais.

Há precisamente um século, estabeleceu-se intercâmbio mais intenso entre os dois planos, na grande movimentação do Cristianismo redivivo; contudo, há aprendizes que contemplam o céu, angustiados tão-só porque nunca receberam a mensagem direta de um pai ou de um filho na experiência humana. Alguns chegam ao disparate de se desviarem da senda alegando tais motivos. Para esses, o fenômeno e a revelação no Espiritismo evangélico são simples conjunto de inverdades, porque nada obtiveram de parentes mortos, em consecutivos anos de observação.

Isso, porém, não passa de contrassenso.

Quem poderá garantir a perpetuidade dos elos frágeis das ligações terrestres?

O impulso animal tem limites.

Ninguém justifique a própria cegueira com a insatisfação do capricho pessoal.

O mundo está repleto de mensagens e emissários, há milênios. O grande problema, no entanto, não está em requisitar-se a verdade para atender ao círculo exclusivista de cada criatura, mas na deliberação de cada homem, quanto a caminhar com o próprio valor, na direção das realidades eternas.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel se inspira num versículo de João que está num capítulo que narra a Parábola do Rico e de Lázaro (JOÃO[1], 16: 19 – 31). Nesta Parábola, o rico, após a morte do corpo, foi pra o Hades[2], enquanto o pobre elevou-se ao seio de Abraão (o Céu, entre outras palavras). Ocorre que o rico pediu que Abraão enviasseà Terra, Espíritos que pudessem falar aos seus irmãos o sofrimento que passava. Abraão, foi, então, firme em dizer que eles não ouviriam os mortos. Mas, que, se ouvissem os profetas (o Abraão como um deles) tudo seria melhorado.

Isto nos lembra, também que tivemos o Cristo e isto seria (e é o suficiente), em bom termos, pra evoluirmos consideravelmente. Contudo, hoje, apesar de termos o Espiritismo, a grande população cristã não dá ouvidos à Doutrina.

A exemplos de alguns simpatizantes da Doutrina, Emmanuel cita aqueles que se afastaram por não terem tido um contato com parentes desencarnados. São aqueles que se apegam aos fenômenos.

A. Kardec reflete sobre isso, pois a Doutrina é simples de entender, independentemente da intervenção dos Espíritos em sessões mediúnicas:

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? [...] Nalguns ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores, nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações.[3]

 

Esses, segundo A. Kardec, são os “espíritas imperfeitos” que desistem do caminho por não se aterem a ideia, se prendendo aos fenômenos.

Então, que sejamos, mais que fenomenológicos, ideológicos. Desse modo, saberemos distinguir os falsos profetas da erraticidade[4] dos verdadeiros seareiros do Cristo, do plano espiritual[5]. Em síntese, A. Kardec, nos dá uma dica pra fazermos uma boa diferenciação: “O Espiritismo nos faculta os meios de experimentá-los, apontando os caracteres pelos quais se reconhecem os bons Espíritos, caracteres sempre morais, nunca materiais”[6].

Que Deus nos ajude.

Domicio.


[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon).
[2] O inferno, segundo os gregos.
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4 (Os bons espíritas).
[4] Período entre uma encarnação e outra, onde o Espírito errante (estado da alma entre duas encarnações) aguarda uma nova oportunidade reencarnatória (Vide O Livro dos Espíritos, questão 224).
[5] Ouçamos João, o Evangelista: Meus bem-amados, não creais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (João, 1a Epístola, 4:1)
[6] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXI, Item 7.