domingo, 19 de maio de 2024

A POSSE DO REINO

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A POSSE DO REINO

Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, e dizendo que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus.

(ATOS, 14:22).

O Evangelho a ninguém engana, em seus ensinamentos.

É vulgar a preocupação dos crentes tentando subornar as forças divinas. Não será, no entanto, ao preço de muitas missas, muitos hinos ou muitas sessões psíquicas que o homem efetuará a sublime aquisição de espiritualidade excelsa.

Naturalmente, toda prática edificante deve ser aproveitada por elemento de auxilio, no entanto, compete a cada individualidade humana o esforço iluminativo.

A Boa-Nova não distribui indulgências a preço do mundo e a criatura encontra inúmeros caminhos para a ascensão.

Templos e instrutores se multiplicam e cada qual oferece parcelas de socorro ou assistência, no serviço de orientação; contudo, a entrada e posse na herança eterna se verificará através de justos testemunhos.

Isto não é acidental. É medida lógica e necessária.

Não se improvisam estátuas raras, sem golpes de escopro, como não se colhe trigo sem campo lavrado.

Não poucos aprendizes costumam interpretar certas advertências do Evangelho por excesso de exortação ao sofrimento, no entanto, o que lhes parece obsessão pela dor é imperativo de educação da alma para a vida imperecível.

Homem algum encontrará o estuário infinito das energias divinas, sem o concurso das tribulações da Terra.

Personalidade sem luta, na crosta planetária, é alma estreita.

Somente o trabalho e o sacrifício, a dificuldade e o obstáculo, como elementos de progresso e auto-superação, podem dar ao homem a verdadeira notícia de sua grandeza.

NOSSA REFLEXÃO

O legado que o Cristo nos deixou é de grande utilidade quando nos desanimarmos na luta. Ele apresentou as condições de entrada no Reino de Deus, após o decesso do corpo físico (Mateus, 22:1 a 14; Mateus, 7:13 e 14; Lucas, 13:23 a 30; Mateus, 7:21 a 23; Mateus, 7:24 a 27; Lucas, 6:46 a 49; Lucas, 12:47 e 48; João, 9:39 a 41)[1].

A perfeição requer muito esforço e tempo pra ser atingida. Daí, quando A. Kardec ao caracterizar o verdadeiro espírita, não o designou como um Espírito Perfeito. Senão vejamos: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” [2]

Allan Kardec, corroborou com Paulo, o apóstolo, pois este já se antecipou a ele, quando nos iluminou:

Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam.[3]

Desse modo, independente, da religião, todos podemos ser verdadeiros cristãos, e em particular, sendo espíritas.

Sabemos não ser fácil, a porta estreita preconizada por Cristo, como condição pra entramos no Reino de Deus.

Por que não é fácil? A. Kardec nos explica. Corroborando consigo mesmo, quanto à sua definição de verdadeiro espírita:

Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal. É estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se resignam. É o complemento da máxima: “Muitos são os chamados e poucos os escolhidos.” (grifos nossos).[4]

Que possamos mudar nosso modo de sentir[5], contribuindo no dia a dia com os nossos semelhantes, com a natureza e, como consequência, conosco mesmo, no sentido de podermos receber a credencial pra adentrar ao reino de Deus..

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide interpretações kardequianas em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII (Muitos os chamados, poucos os escolhidos).
[2]Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 4 (Os bons espíritas).
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV (Fora da caridade não há salvação), Item 10 (Fora da caridade não há salvação)
[4] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII (Muitos os chamados, poucos os escolhidos), Item 5 (A porta estreita).
[5]
Vide mensagem de Emmanuel, do livro Fonte Viva (Chico Xavier – FEB), intitulada Modo de Sentir, e refletida por nós.

domingo, 12 de maio de 2024

DIA DAS MÃES

 BOM DIA!!
Hoje, por motivo de viagem pra passar o Dia das Mães com minha Mãe, suspendo a Nossa Reflexão de hoje.
Deixo com os e as leitores(as)/estudiosos(as) da Doutrina Espírita que acessam esta página, um poema de agradecimento à minha Mãe.

SONETO PARA MINHA MÃE
L. Angel

Recebeste-me no coração
Numa hora crucial.
Precisava de um empurrão
E surgiste como saída providencial.


Deus em sua bondade notória,
Deu-me mais uma encarnação.
Em sua infinita misericórdia,
Abriu-me uma porta para minha redenção.


Para isso, você, Mãe amorosa,
Na minha estrada tortuosa,
Podou, o que pôde, minhas más tendências.


Sou grato por imensa doação,
Que riqueza nenhuma, até então,
Pode substituir minhas gratas reverências.

domingo, 5 de maio de 2024

GOVERNO INTERNO

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GOVERNO INTERNO

Antes subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de algum modo a ficar reprovado.

Paulo (I CORÍNTIOS, 9:27).

Efetivamente, o corpo é miniatura do Universo.

É imprescindível, portanto, saber governá-lo.

Representação em material terrestre da personalidade espiritual, é razoável esteja cada um atento às suas disposições. Não é que a substância passiva haja adquirido poder superior ao da vontade humana, todavia, é imperioso reconhecer que as tendências inferiores procuram subtrair-nos o poder de domínio.

É indispensável esteja cada homem em dia com o governo de si mesmo.

A vida interior, de alguma sorte, assemelha-se à vida de um Estado. O espírito assume a autochefia, auxiliado por vários ministérios, quais os da reflexão, do conhecimento, da compreensão, do respeito e da ordem. As idéias diversas e simultâneas constituem apelos bons ou maus do parlamento íntimo. Existem, no fundo de cada mente, extensas potencialidades de progresso e sublimação, reclamando trabalho.

O governador supremo que é o espírito, no cosmo celular, redige leis benfeitoras, mas nem sempre mobiliza os órgãos fiscalizadores da própria vontade. E as zonas inferiores continuam em antigas desordens, não lhes importando os decretos renovadores que não hostilizam, nem executam. Em se verificando semelhante anomalia, passa o homem a ser um enigma vivo, quando se não converte num cego ou num celerado.

Quem espera vida sã, sem autodisciplina, não se distancia muito do desequilíbrio ruinoso ou total.

É necessário instalar o governo de nós mesmos em qualquer posição da vida. O problema fundamental é de vontade forte para conosco, e de boa vontade para com os nossos irmãos.

NOSSA REFLEXÃO

O nosso corpo físico, de modo geral é reflexo do que pensamos ou fazemos, conosco mesmo ou com o próximo.

Nossa realidade físico-espiritual traduz nosso passado espiritual, particularmente traduzido, em geral, num corpo doente que nos faz sofrer, como a quem cuida de nós.

Somos sabedores que precisamos cuidar do corpo e do espírito que vivem numa simbiose durante uma vida reencarnatória.

A partir de passagens evangélicas, A. Kardec, assessorado pela equipe encarregada da codificação da Doutrina Espírita, nos apresentou uma instrução do Espírito Georges, Espírito Protetor que nos esclarece sobre a sintonia que devemos manter entre cuidar do corpo e do espírito. A partir do debate existente entre os ascetas e os materialistas sobre os extremos que impõem ao corpo e ao espírito, ele nos faz refletir:

Em parte alguma; e o grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo-lhes que, por se acharem em dependência mútua, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a Lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre-arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo mal dirigido, pelos acidentes que causa (grifos nossos)[1].

Emmanuel, também, nos faz refletir sobre essa relação espírito-corpo em sua página intitulada (e refletida por nós) Estás doente?, grafada no livro Fonte Viva (CHICO XAVIER-FEB):

Se te encontras enfermo, não acredites que a ação medicamentosa, através da boca ou dos poros, te possa restaurar integralmente. O comprimido ajuda, a injeção melhora, entretanto, nunca te esqueças de que os verdadeiros males procedem do coração. [...] De que vale a medicação exterior, se prossegues triste, acabrunhado ou insubmisso? [...] Como regenerar a saúde, se perdes longas horas na posição da cólera ou do desânimo? (grifos nossos).

Que, então, saibamos nos governar, dispensando ser como ascetas e materialistas e cuidemos com o nosso corpo, seja pelo o que alimentamos materialmente, seja pelo o que pensamos e agimos no dia a dia de nossas vidas.

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps. Compartilho com os (as) leitores (as) desta página um poema de L. Angel sobre esta temática que refletimos, na data de hoje.

CUIDADO COM O CORPO
L. Angel        13/07/2010
 
Corpo que me sustenta,
Instrumento divino da encarnação.
Possibilita-me conhecer o Pai da Criação
Na trajetória que minh’alma experimenta.
 
Cuidado contigo vou ter,
Se eu quiser ser feliz.
O diário de minha vida é que diz
Como tenho adiado esse momento de meu ser.
 
Peço a Deus que me ajude
A ter mais atitude
Com o móvel de minha evolução.
 
Se nasci foi para bem viver,
Não tenho que meu corpo escarnecer.
Grato, meu Deus, por essa divina benção!



[1] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 11 (Cuidar do corpo e do espírito).

domingo, 28 de abril de 2024

O FILHO EGOÍSTA

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O FILHO EGOÍSTA

Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo, há tantos anos, sem jamais transgredir um mandamento teu, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos.

(LUCAS, 15:29).

A parábola não apresenta somente o filho pródigo. Mais aguçada atenção e encontraremos o filho egoísta.

O ensinamento velado do Mestre demonstra dois extremos da ingratidão filial. Um reside no esbanjamento; o outro, na avareza. São as duas extremidades que fecham o círculo da incompreensão humana.

De maneira geral, os crentes apenas enxergaram o filho que abandonou o lar paterno, a fim de viver nas estroinices do escândalo, tornando-se credor de todas as punições; e raros aprendizes conseguiram fixar o pensamento na conduta condenável do irmão que permanecia sob o teto familiar, não menos passível de repreensão.

Observando a generosidade paterna, os sentimentos inferiores que o animam sobem à tona e ei-lo na demonstração de sovinice.

Contraria-o a vibração de amor reinante no ambiente doméstico; alega, como autêntico preguiçoso, os anos de serviço em família; invoca, na posição de crente vaidoso, a suposta observância da Lei divina e desrespeita o genitor, incapaz de partilhar-lhe o justo contentamento.

Esse tipo de homem egoísta é muito vulgar nos quadros da vida. Ante o bem-estar e a alegria dos outros, revolta-se e sofre, através da secura que o aniquila e do ciúme que o envenena.

Lendo a parábola com atenção, ignoramos qual dos filhos é o mais infortunado, se o pródigo, se o egoísta, mas atrevemo-nos a crer na imensa infelicidade do segundo, porque o primeiro já possuía a bênção do remorso em seu favor.

NOSSA REFLEXÃO

Eis uma situação singular: num mesmo contexto familiar encontramos dois seres que representam os extremos de atitudes em relação à riqueza – a prodigalidade e a avareza.

Um, como Emmanuel nos diz, foi abençoado pelo “[...] remorso em seu favor” e o outro iniciou sua infelicidade pelo egoísmo que revelou, cobrando sua servidão ao pai e se envenando pelo ciúme.

O remorso e o arrependimento são duas atitudes que nos ajustam perante a Lei de Deus. Como Deus é misericordioso, infinitamente, Ele, conforme nos esclarece o Espírito Lamenais: “O Pai vos estende os braços e está sempre pronto a festejar o vosso regresso ao seio da família.”[1] Isto que o Cristo quis nos ensinar com a Parábola, quando nós nos afastamos das Leis de Deus.

A riqueza, como a pobreza, são provas de ascensão para o Espírito.

A. Kardec, discorrendo sobre a riqueza, e confrontando com a pobreza, nos ilumina:

Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão.[2]

Mas sendo rico, que atitude deve ter aquele possuidor de uma riqueza? A prodigalidade seria um exemplo de desprendimento material?

Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, frequentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los (Larcodaire, 1863).[3]

Então, não devemos ser nem avarentos e nem pródigos. Quem muito abusa do que possui, acaba por ficar sem nada: pobre. Seja na existência em que abusou ou em existência futura.

Que sejamos bons usufrutuários do que temos e resignados, mas sem deixar de lutar por melhoria, quando nos faltar tudo.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide em O Livro dos Espíritos, Parte Quarta – Cap. II, Questão 1009 (Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?)
[2] Vide dissertação de A. Kardec, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), Item 7 (Utilidade providencial da riqueza. Provas da riqueza e da miséria).
[3] Vide dissertação do Espírito Lacordaire, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), Item 14 (Desprendimento dos bens terrenos).

domingo, 21 de abril de 2024

CÉU COM CÉU

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CÉU COM CÉU

Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam.

Jesus (MATEUS, 6:20).

Em todas as fileiras cristãs se misturam ambiciosos de recompensa que presumem encontrar, nessa declaração de Jesus, positivo recurso de vingança contra todos aqueles que, pelo trabalho e pelo devotamento, receberam maiores possibilidades na Terra.

O que lhes parece confiança em Deus é ódio disfarçado aos semelhantes.

Por não poderem açambarcar os recursos financeiros à frente dos olhos, lançam pensamentos de critica e rebeldia, aguardando o paraíso para a desforra desejada.

Contudo, não será por entregar o corpo ao laboratório da natureza que a personalidade humana encontrará, automaticamente, os planos da Beleza resplandecente.

Certo, brilham santuários imperecíveis nas esferas sublimadas, mas é imperioso considerar que, nas regiões imediatas à atividade humana, ainda encontramos imensa cópia de traças e ladrões, nas linhas evolutivas que se estendem além do sepulcro.

Quando o Mestre nos recomendou ajuntássemos tesouros no céu, aconselhava-­nos a dilatar os valores do bem, na paz do coração. O homem que adquire fé e conhecimento, virtude e iluminação, nos recessos divinos da consciência, possui o roteiro celeste. Quem aplica os princípios redentores que abraça, acaba conquistando essa carta preciosa; e quem trabalha diariamente na prática do bem, vive amontoando riquezas nos Cimos da Vida.

Ninguém se engane, nesse sentido.

Além da Terra, fulgem bênçãos do Senhor nos páramos celestiais; entretanto, é necessário possuir luz para percebê-­las.

É da Lei que o Divino se identifique com o que seja Divino, porque ninguém contemplará o céu se acolhe o inferno no coração.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, a partir de Lucas que nos apresenta uma fala de Jesus, nos lembra da necessidade de nos vigiarmos quanto a querer, nesse mundo, o que outras pessoas detém para si.

No plano espiritual os valores materiais não têm valor nenhum. O que cada um de nós detemos, devolveremos involuntariamente ao deixar o corpo físico, na volta a pátria espiritual. E lá, os valores que serão contados serão aquilo que, de fato, passamos a ter, em termos de valores morais na passagem efêmera pela vida física.

Emmanuel, nos lembra muito bem sobre isso na mensagem intitulada Esmola, grafada no livro Fonte Viva (Chico Xavier – FEB): “Dar o que temos é diferente de dar o que detemos”. Entendemos que isto é o que “[...] nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam” (MATEUS, 6:20).

Isto nos faz pensar sobre o que precisamos dar mais valor enquanto encarnados. Decerto que não são os bens materiais. O Cristo nos ensinou, orientando aos discípulos como deveriam se portar na divulgação do Seu Evangelho: “Não vos afadigueis por possuir ouro, ou prata, ou qualquer outra moeda em vossos bolsos” (MATEUS, 10:9), indicando-lhes que o Evangelho deveria sobrepor todos as facilidades materiais que quem os recebessem poderiam lhes dar.

Sobre isso, A. Kardec nos esclarece:

A par do sentido próprio, essas palavras guardam um sentido moral muito profundo. Proferindo-as, ensinava Jesus a seus discípulos que confiassem na Providência. Ademais, eles, nada tendo, não despertariam a cobiça nos que os recebessem. Era um meio de distinguirem dos egoístas os caridosos.[1]

Na volta ao plano espiritual, isto, também, é o que nos distinguirá dos demais Espíritos ainda presos aos bens materiais.

Que tenhamos a certeza que além das esmolas materiais, que constituem o que detemos, que distribuímos no dia a dia de nossas vidas, cujo ato é louvável, há que nos empenharmos em exercer a caridade moral, distribuindo o que de fato temos, enquanto Espíritos encarnados. Este é maior tesouro que podemos acumular.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXV (Buscai e Achareis), Item 11.

domingo, 14 de abril de 2024

SUSPENSÃO DA REFLEXÃO

 Caríssimos(as) estudiosos(as) da Doutrina Espírita,

Hoje por motivo profissional, não foi possível realizar a Nossa Reflexão.

No próximo domingo, retorno à essa gratificante atividade espírita.

domingo, 7 de abril de 2024

CONTRA A INSENSATEZ

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CONTRA A INSENSATEZ

Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?

Paulo (GÁLATAS, 3:3).

Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que iniciam o esforço na região superior, marchando em sentido inverso para os círculos da inferioridade. Dão, assim, a idéia de homens que partissem à procura de ouro, contentando-se, em seguida, com a lama do charco.

Semelhantes fracassos se fazem comuns, nos vários setores do pensamento religioso.

Observamos enfermos que se dirigem à espiritualidade elevada, alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. Alguns, depois de auxiliados por amigos das esferas sublimadas, em transcendentes questões da vida eterna, pretendem atribuir a esses mesmos benfeitores a função de policiais humanos, na pesquisa de objetivos menos dignos.

Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos do bem; contudo, eis que aparecem horas menos favoráveis e se entregam, inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados anos terrestres em que tentaram servir na lavoura do Mestre Divino e plenamente despreocupados dos períodos multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor.

Tais anomalias espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos procedem dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa.

Trabalhemos, pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa começada, em companhia da humildade, portadora de luz imperecível.

NOSSA REFLEXÃO

Temos na fala de Paulo e na corroboração de Emmanuel, a ele, uma indicação que muitos de nós não se comprometem com o grande arcabouço filosófico obtido com o contato com Espiritismo, a revivência do Evangelho do Cristo, o Consolador prometido pelo Ele.

Há muita fugas do itinerário já percorrido no sentido de compreender a Doutrina Espírita, por quem foge, por não se sentir plenamente contemplado no que diz respeito às aquisições materiais pelo contato com a santa Doutrina.

Há que se perguntar: por que muitos se afastam da Doutrina (não estamos nos referindo ao movimento espírita), depois do contato, estudo, participação em grupos de estudos?

A. Kardec faz a seguinte reflexão sobre a compreensão da Doutrina para um espírita se tornar um bom espírita:

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo. Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhe apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observam, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado (grifos nossos).[1]

Em tratando da aplicação da Parábola do Semeador, o Mestre da Codificação, nos ilumina, ainda, sobre os diversas categorias de espíritas:

Não menos justa aplicação encontra ela nas diferentes categorias espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma consequência tiram deles, porque neles mais não veem do que fatos curiosos? Os que apenas se preocupam com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si próprios? Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?[2]

Com exceção aos últimos, os demais podem ser incluídos entre os que iniciaram no Espírito e seguem presos aos caprichos da carne, da matéria.

Mas se muitos fogem do que o Espírito orienta, quais as caracteríscas de quem continua segundo o Espírito? O Espírito Erasto nos aponta as seguintes, respondendo à pergunta de A. Kardec, que segue:

Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho? Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de sua lei; os que seguem sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, anjo da guarda do médium. (Paris, 1863).[3]

Então, que possamos nos ater, sempre ao Espírito e não à Palavra[4]. Desse modo estaremos seguindo sem se preocupar com as recompensas advindas da aproximação com a Doutrina ou até, mesmo, do movimento espírita.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 4 (Os bons espíritas)
[2] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 6 (Parábola do Semeador)
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores da última hora), Item 4 (Missão dos espíritas)
[4]Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.” (PAULO, II CORÍNTIIOS, 3: 6)