domingo, 7 de abril de 2024

CONTRA A INSENSATEZ

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CONTRA A INSENSATEZ

Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?

Paulo (GÁLATAS, 3:3).

Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que iniciam o esforço na região superior, marchando em sentido inverso para os círculos da inferioridade. Dão, assim, a idéia de homens que partissem à procura de ouro, contentando-se, em seguida, com a lama do charco.

Semelhantes fracassos se fazem comuns, nos vários setores do pensamento religioso.

Observamos enfermos que se dirigem à espiritualidade elevada, alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. Alguns, depois de auxiliados por amigos das esferas sublimadas, em transcendentes questões da vida eterna, pretendem atribuir a esses mesmos benfeitores a função de policiais humanos, na pesquisa de objetivos menos dignos.

Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos do bem; contudo, eis que aparecem horas menos favoráveis e se entregam, inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados anos terrestres em que tentaram servir na lavoura do Mestre Divino e plenamente despreocupados dos períodos multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor.

Tais anomalias espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos procedem dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa.

Trabalhemos, pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa começada, em companhia da humildade, portadora de luz imperecível.

NOSSA REFLEXÃO

Temos na fala de Paulo e na corroboração de Emmanuel, a ele, uma indicação que muitos de nós não se comprometem com o grande arcabouço filosófico obtido com o contato com Espiritismo, a revivência do Evangelho do Cristo, o Consolador prometido pelo Ele.

Há muita fugas do itinerário já percorrido no sentido de compreender a Doutrina Espírita, por quem foge, por não se sentir plenamente contemplado no que diz respeito às aquisições materiais pelo contato com a santa Doutrina.

Há que se perguntar: por que muitos se afastam da Doutrina (não estamos nos referindo ao movimento espírita), depois do contato, estudo, participação em grupos de estudos?

A. Kardec faz a seguinte reflexão sobre a compreensão da Doutrina para um espírita se tornar um bom espírita:

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo. Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhe apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observam, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado (grifos nossos).[1]

Em tratando da aplicação da Parábola do Semeador, o Mestre da Codificação, nos ilumina, ainda, sobre os diversas categorias de espíritas:

Não menos justa aplicação encontra ela nas diferentes categorias espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma consequência tiram deles, porque neles mais não veem do que fatos curiosos? Os que apenas se preocupam com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si próprios? Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?[2]

Com exceção aos últimos, os demais podem ser incluídos entre os que iniciaram no Espírito e seguem presos aos caprichos da carne, da matéria.

Mas se muitos fogem do que o Espírito orienta, quais as caracteríscas de quem continua segundo o Espírito? O Espírito Erasto nos aponta as seguintes, respondendo à pergunta de A. Kardec, que segue:

Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho? Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de sua lei; os que seguem sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, anjo da guarda do médium. (Paris, 1863).[3]

Então, que possamos nos ater, sempre ao Espírito e não à Palavra[4]. Desse modo estaremos seguindo sem se preocupar com as recompensas advindas da aproximação com a Doutrina ou até, mesmo, do movimento espírita.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 4 (Os bons espíritas)
[2] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos), Item 6 (Parábola do Semeador)
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores da última hora), Item 4 (Missão dos espíritas)
[4]Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.” (PAULO, II CORÍNTIIOS, 3: 6)

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