domingo, 28 de janeiro de 2024

OBREIROS

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OBREIROS

Procura apresentar-te a Deus aprovado como obreiro que não tem de que se envergonhar.

Paulo (II TIMÓTEO, 2:15).

Desde tempos imemoriais, idealizam as criaturas mil modos de se apresentarem a Deus e aos seus mensageiros.

Muita gente preocupa-se durante a existência inteira em como talhar as vestimentas para o concerto celestial, enquanto crentes inumeráveis anotam cuidadosamente as mágoas terrestres, no propósito de desfiá-las em rosário imenso de queixas, diante do Senhor, à busca de destaque no mundo futuro.

A maioria dos devotos deseja iniciar a viagem, além da morte, com títulos de santos; todavia, não há maneira mais acertada de refletirmos em nossa posição, com verdade, além daquela em que nos enquadramos na condição de trabalhadores.

O mundo é departamento da Casa divina.

Cátedras e enxadas não constituem elementos de divisão humilhante, e sim degraus hierárquicos para cooperadores diferentes.

O caminho edificante desdobra-se para todos.

Aqui, abrem-se covas na terra produtiva, ali, manuseiam-se livros para o sulco da inteligência, mas o espírito é o fundamento vivo do serviço manifestado.

Classificam-se os trabalhadores em posições diferentes, contudo, o campo é um só.

No centro das realidades, pois, não se preocupe ninguém com os títulos condecorativos, mesmo porque o trabalho é complexo, em todos os setores de ação dignificante, e o resultado é sempre fruto da cooperação bem vivida. Eis o motivo pelo qual julgamos com Paulo que a maior vitória do discípulo será a de apresentar-se, um dia, ao Senhor, como obreiro aprovado.

NOSSA REFLEXÃO

Os Espíritos Superiores da Codificação espírita nos trouxeram motivações para que pudéssemos ser tal qual os trabalhadores da última hora apresentados por Jesus em sua parábola que trata desse tema, em Mateus (20:1 a 16).

É uma estória bonita cheia de justiça e amor, além de estímulo ao trabalho digno do bom salário, independente da hora, considerando o fato de até começar, o trabalhador não sabia da oportunidade do trabalho. Muitas vezes somos chamados ao trabalho da maneira mais inesperada. Emmanuel nos convida a pensar em sua mensagem Além dos outros, grafada no livro Fonte Viva (FEB), por Chico Xavier, com a seguinte pergunta: “Sabes improvisar o bem, onde outras pessoas se mostraram infrutíferas?” Às vezes, ocorre oportunidades que, em que a inação de pessoas diante de um problema, são convites ao improviso do bem.

Então, na semeadura do bem, onde quer que estejamos e o papel que ocupamos, devemos agir como trabalhadores que sugerem, não impõem, pegam na massa e não ficam a aguardar que todos o façam.

Independente da superioridade e inferioridade social ou acadêmica, que lamentavelmente ainda existe na Terra, o que deve transparecer em cada pessoa numa seara é a capacidade de contribuir com o serviço, com espírito de aprender e ensinar.[1]

No campo do trabalho cristão, voltando a se reportar à parábola do Trabalhador da última hora, é importante destacar o que Constantino, Espírito protetor nos faz refletir:

O obreiro da última hora tem direito ao salário, mas é preciso que a sua boa vontade o haja conservado à disposição daquele que o tinha de empregar e que o seu retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade. Tem ele direito ao salário, porque desde a alvorada esperava com impaciência aquele que por fim o chamaria para o trabalho. Laborioso, apenas lhe faltava o labor.[2] 

Desse modo, estando no serviço, que a boa vontade do trabalhador seja o único móvel ao trabalho para que sempre contribua e não atrapalhe o que está em andamento. Sobre isso, O Espírito de Verdade nos ilumina, como segue:

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!”[3]

Que sejamos assim, em qualquer lugar e trabalho, particularmente o espírita, sem espírito de soberba em função de conhecimentos adquiridos e experiências realizadas no campo social ou acadêmico. Que predomine em nós o espírito da boa vontade, sempre.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide dissertação de François-Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot, sobre Os superiores e os inferiores, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede perfeitos).
[2] Vide instrução (Os últimos serão os primeiros), na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores da última hora), Item 2.
[3] Vide instrução (Obreiros do Senhor), na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores da última hora), Item 5.

domingo, 21 de janeiro de 2024

FAZEI PREPARATIVOS

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FAZEI PREPARATIVOS

Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí, fazei preparativos.

Jesus (LUCAS, 22:12).

Aquele cenáculo mobilado, a que se referiu Jesus, é perfeito símbolo do aposento interno da alma.

À face da natureza que oferece lições valiosas em todos os planos de atividade, observemos que o homem aguarda cada dia, renovando sempre as disposições do lar. Aqui, varrem-se detritos; acolá, ornamentam-se paredes. Os móveis, quase sempre os mesmos, passam por processos de limpeza diária.

O homem consciencioso reconhecerá que a maioria das ações, na experiência física, encerra-se em preparação incessante para a vida com que será defrontado, além da morte do corpo.

Se isto ocorre com a feição material da vida terrena, que não dizer do esforço propriamente espiritual para o caminho eterno?

Certamente, numerosas criaturas atravessarão o dia à maneira do irracional, em movimentos quase mecânicos. Erguem-se do leito, alimentam o corpo perecível, absorvem a atenção com bagatelas e dormem de novo, cada noite.

O aprendiz sincero, todavia, sabe que atingiu o cenáculo simbólico do coração. Embora não possa mudar de idéias diariamente, qual acontece aos móveis da residência, dá-lhes novo brilho a cada instante, sublimando os impulsos, renovando concepções, elevando desejos e melhorando sempre as qualidades estimáveis que já possui.

O homem simplesmente terrestre mantém-se na expectativa da morte orgânica; o homem espiritual espera o Mestre Divino, para consolidar a redenção própria.

Não abandoneis, portanto, o cenáculo da fé e, aí dentro, fazei preparativos em constante ascensão.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, nesta mensagem, nos convida à reforma íntima tão necessária para que estejamos sempre preparado para novas enxertias[1] que o o divino Semeador venha a fazer em nós.

A reforma íntima é o meio de constante melhoria espiritual que devemos fazer a nos tornar Espíritos Puros[2].

Allan Kardec nos ilumina sobre essa necessidade, quando nos ensina, dissertando sobre as características dos bons espíritas: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”[3]

Que estejamos sempre vigilantes para não perdemos uma oportunidade da presença do Senhor em nossas vidas. Pois se queremos ser um adepto digno de ser chamado um trabalhador da última hora[4], devemos estar sempre preparado, pois, com certeza, o serviço virá ou o próprio Senhor Jesus.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Convido os (as) leitores (as) e estudiosos(as) da Doutrina Espírita à leitura da mensagem Enxertia Divina, refletida por nós, de Emmanuel/ Chico Xavier grafada no livro Fonte Viva (FEB) de Emmanuel/Chico Xavier.
[2] Vide a Escala Espírita em Parte Segunda, Cap. I, itens 100 a 113, do O Livro dos Espíritos.
[3] Vide dissertação na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede Perfeitos), Item 4.
[4] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores das última hora).

domingo, 14 de janeiro de 2024

NÃO TIRANIZES

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NÃO TIRANIZES

E, com muitas parábolas semelhantes, lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender.

Marcos (4:33).

Na difusão dos ensinamentos evangélicos, de quando em quando encontramos pregadores rigorosos e exigentes.

Semelhante anomalia não se verifica apenas no quadro geral do serviço. Na esfera particular, não raro, surgem amigos severos e fervorosos que reclamam desesperadamente a sintonia dos afeiçoados com os princípios religiosos que abraçaram.

Discussões acerbas se levantam, tocando a azedia venenosa.

Belas expressões afetivas são abaladas nos fundamentos, por ofensas indébitas.

Contudo, se o discípulo permanece realmente possuído pelo propósito de união com o Mestre, tal atitude é fácil de corrigir.

O Senhor somente ensinava aos que o ouviam, “segundo o que podiam compreender”.

Aos apóstolos conferiu instruções de elevado valor simbológico, enquanto que à multidão transmitiu verdades fundamentais, através de contos simples. A conversação dele diferia, de conformidade com as necessidades  espirituais daqueles que o rodeavam. Jamais violentou a posição natural de ninguém.

Se estás em serviço do Senhor, considera os imperativos da iluminação, porque o mundo precisa de servidores cristãos e, não, de tiranos doutrinários.

NOSSA REFLEXÃO

Allan Kardec nos explica por que Ele nos falava por parábolas, se reportando a passagem evangélica em que os discípulos lhes perguntam por que ensinava assim (MATEUS, 13:10 a 15):

É de causar admiração diga Jesus que a luz não deve ser colocada debaixo do alqueire, quando Ele próprio constantemente oculta o sentido de suas palavras sob o véu da alegoria, que nem todos podem compreender. Ele se explica, dizendo a seus apóstolos: “Falo-lhes por parábolas, porque não estão em condições de compreender certas coisas. Eles veem, olham, ouvem, mas não entendem. Fora, pois, inútil tudo dizer-lhes, por enquanto. Digo-o, porém, a vós, porque dado vos foi compreender estes mistérios.” Procedia, portanto, com o povo, como se faz com crianças cujas ideias ainda se não desenvolveram.[1]

Emmanuel corrobora, nesta mensagem, com A. Kardec, nesta mensagem, quando nos faz refletir:

O Senhor somente ensinava aos que o ouviam, “segundo o que podiam compreender”. Aos apóstolos conferiu instruções de elevado valor simbológico, enquanto que à multidão transmitiu verdades fundamentais, através de contos simples. A conversação dele diferia, de conformidade com as necessidades espirituais daqueles que o rodeavam. Jamais violentou a posição natural de ninguém.

Foram necessários 1857 anos de evolução humana para que o Cristo cumprisse sua promessa do envio do Consolador (JOÃO, 14:15 a 17 e 26)[2] que se traduziu na Doutrina Espírita sobre a coordenação do Espírito de Verdade[3].

Desse modo, ainda estamos na fase de aprendizagem da Boa Nova e quem tem uma inserção nos livros e obras evangélicas, como as espíritas, particularmente as obras básicas do Espiritismo, deve respeitar os iniciantes ou simpatizante da Doutrina Espírita e, também, os indiferentes ou aqueles que professam os demais matizes do cristianismo, sem se preocupar com o proselitismo religioso, defendendo a supremacia do Espiritismo em relação às outras religiões.

Que Deus nos ajude para que sejamos “[...] servidores cristãos e, não, [...] tiranos doutrinários”.

Domício.


[1] Vide a íntegra da dissertação de Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, Item 4.
[2]Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.” (João, 14:15 a 17 e 26.)
[3]
Vide o O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI (O CRISTO CONSOLADOR).

domingo, 7 de janeiro de 2024

REVIDES

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REVIDES

Na verdade, é já realmente uma falta entre vós terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? por que não sofreis, antes, o dano?

Paulo (I CORÍNTIOS, 6:7).

Nem sempre as demandas permanecem nos tribunais judiciários, no terreno escandaloso dos processos públicos.

Expressam-se em muito maior escala no centro dos lares e das instituições. Aí se movimentam, através do desregramento mental e da conversação em surdina, no lodo invisível do ódio que asfixia corações e anula energias. Se vivem, contudo, é porque componentes da família ou da associação as alimentam com o óleo da animosidade recalcada.

Aprendizes inúmeros se tornam vítimas de semelhantes perturbações, por  se acastelarem nos falsos princípios regenerativos.

De modo geral, grande parte prefere a atitude agressiva, de espada às mãos, esgrimindo com calor na ilusória suposição de operar o conserto do próximo.

Prontos a protestar, a acusar e criticar nos grandes ruídos, costumam esclarecer que servem à verdade. Por que motivo, porém, não exemplificam a própria fé, suportando a injustiça e o dano heroicamente, no silêncio da alma fiel, antes da opção por qualquer revide?

Quantos lares seriam felizes, quantas instituições se converteriam em mananciais permanentes de luz se os crentes do Evangelho aprendessem a calar para falar, a seu tempo, com proveito?

Não nos referimos aqui aos homens vulgares e, sim, aos discípulos de Jesus.

Quanto lucrará o mundo, quando o seguidor do Cristo se sentir venturoso em ser mero instrumento do bem nas divinas Mãos, esquecendo o velho propósito de ser orientador arbitrário do serviço celeste?

NOSSA REFLEXÃO

Somos possuidores de um ego que nem sempre se revela tão somente como colaborador. Na relação com o outro ou com a outra, em vez da conciliação, preferimos a contenda inúltil.

Esquecemos que nos embates é mais fácil predominar a nossa necessidade de sermos o que mais tem razão e portanto, vale a disputa de argumentos que nem sempre são justos. Nessas oportunidades nós magoamos por não admitir ser magoados. É mais triste quando isso se dá em família.

Concordando com Paulo, melhor calar-se ante a injustiça que ser injusto com, na maioria das vezes, quem queremos bem. Irmã Rosália, tratando da caridade material e caridade moral, nos ensina: “Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso.”[1]

Emmanuel corrobora, nesta mensagem: “Quantos lares seriam felizes, quantas instituições se converteriam em mananciais permanentes de luz se os crentes do Evangelho aprendessem a calar para falar, a seu tempo, com proveito?”

De outro modo, devemos refletir sobre outra instrução de Emmanuel quando ele nos assinala:

Chega, porém, o dia em que somos intimados ao teste da dignidade pessoal. Seja pelo dardo do Insulto ou pelo espinho da desconsideração, somos alvejados no amor-próprio, e, se não dispomos suficientemente de humildade e compaixão, eis que a altivez ferida se assemelha em nós ao estopim afogueado de que a cólera que irrompe em fuzilaria de pensamentos descontrolados, arruinando-nos preciosas edificações espirituais do presente e do Futuro.[2]

Que estejamos vigilantes, sempre, quando essas oportunidades surgirem em nossas vidas para não deixarmos que predomine o ser que queremos educar: nós mesmos.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 9.
[2]
Vide mensagem na íntegra, em Cólera e nós (Encontro Marcado – Emmanue/Chico Xavier).