domingo, 31 de dezembro de 2023

AMOR FRATERNAL

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AMOR FRATERNAL

Permaneça o amor fraternal.

Paulo (HEBREUS, 13:1).

As afeições familiares, os laços consanguíneos, as simpatias naturais podem ser manifestações muito santas da alma, quando a criatura as eleva no altar do sentimento superior; contudo, é razoável que o espírito não venha a cair sob o peso das inclinações próprias.

O equilíbrio é a posição ideal.

Por demasia de cuidado, inúmeros pais prejudicam os filhos.

Por excesso de preocupações, muitos cônjuges descem às cavernas do desespero, defrontados pelos insaciáveis monstros do ciúme que lhes aniquilam a felicidade.

Em razão da invigilância, belas amizades terminam em abismo de sombra.

O apelo evangélico, por isto mesmo, reveste-se de imensa importância.

A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas.

O homem que se sente filho de Deus e sincero irmão das criaturas não é vitima dos fantasmas do despeito, da inveja, da ambição, da desconfiança. Os que se amam fraternalmente alegram-se com o júbilo dos companheiros; sentem-se felizes com a ventura que lhes visita os semelhantes.

As afeições violentas, comumente conhecidas na Terra, passam vulcânicas e inúteis.

Na teia das reencarnações, os títulos afetivos modificam-se constantemente. É que o amor fraternal, sublime e puro, representando o objetivo supremo do esforço de compreensão, é a luz imperecível que sobreviverá no caminho eterno.

NOSSA REFLEXÃO

O Espírito Emmanuel fala das relações interpessoais muito comuns na sociedade humana.

Muitas vezes, pecamos pelo excesso de cuidados com um ser que queremos bem, que pode ser um filho ou uma filha, a esposa ou o esposo, o amigo ou a amiga, etc. Esta é a via da desarmonia em família, no trabalho ou no dia a dia de relações na sociedade.

O Espiritismo nos ensina a nos desapegarmos de nossas pretenciosas posição de superioridade e nos motiva a respeitar o livre arbítrio[1] daquele ou daquela que dizemos amar. Cada um com sua compreensão da vida e responsabilidades pelos seus atos. Se quisermos ajudar, antes de tudo, quem queremos ajudar, deve estar na posição de recepção.

A impaciência com quem não nos escuta é puro egocentrismo. Devemos lembrar que somos também observados e inspirados a fazer diferente do que habitualmente fazemos e não escutamos e nem nos sensibilizamos com os pensamentos superiores. Mas quem nos inspira respeita o nosso livre arbítrio.

Somos sabedores do Maior Mandamento deixado pelo Mestre Jesus que é duas vezes citado no Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap. XI e XV):

Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. — Esse o maior e o primeiro mandamento. E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos (Mateus, 22:34 a 40).

Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas (Mateus, 7:12).

Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem (Lucas, 6:31). 

Esses versículos nos orientam como devemos proceder, em qualquer situação, particularmente em família.

Como diz Emmanuel, nesta mensagem: “por demasia de cuidado, inúmeros pais prejudicam os filhos”.

A impaciência com o proceder de quem queremos bem, entendendo que o nosso é um exemplo (às vezes, uma ilusão) muitas vezes, em vez de ajudar, afasta o móvel de nossas preocupações.

Sobre isso, devemos ter em conta o que nos instrui Um Espírito Amigo:

Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.[2]

Então, devemos ter paciência com os outros, como necessitamos que outras pessoas sejam pacientes conosco. Devemos ser fratermos, sempre, pois, Emmanuel nos ilumina, também, nessa mensagem: [...] A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas”.

Que sejamos sempre queridos por quem queremos bem, querendo-os bem, de fato, como Jesus nos ensinou, fazendo aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós.

Que Deus nos ajude a amar fraternalmente.

Domício.


[1] O Livro dos Espíritos, Parte Segunda – Capítulo VII: Da volta do Espírito à vida corporal – Questão n. 399: O Espírito goza sempre do livre-arbítrio. Em virtude dessa liberdade é que escolhe, quando desencarnado, as provas da vida corporal e que, quando encarnado, decide fazer ou não uma coisa e procede à escolha entre o bem e o mal. Negar ao homem o livre-arbítrio fora reduzi-lo à condição de máquina.
[2]
Vide a instrução na íntegra, em o O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, Item 7.

domingo, 24 de dezembro de 2023

SAIBAMOS LEMBRAR

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SAIBAMOS LEMBRAR

 

              Lembrai-vos das minhas prisões.

Paulo (COLOSSENSES, 4:18).

Nas infantilidades e irreflexões costumeiras, os crentes recordam apenas a luminosa auréola dos espíritos santificados na Terra.

Supõem muitos encontrá-los, facilmente, além do túmulo, a fim de receber-lhes preciosas lembranças.

Não aguardam senão o céu, através de repouso brilhante na imensidade cósmica...

Quantos se lembrarão de Paulo tão somente na glorificação? Entretanto, nesta observação aos colossenses, o grande apóstolo exorta os amigos a lhe rememorarem as prisões, como a dizer que os discípulos não devem cristalizar o pensamento na antevisão de facilidades celestes e, sim, refletir, seriamente, no trabalho justo pela posse do reino divino.

A conquista da espiritualidade sublimada tem igualmente os seus caminhos. É indispensável percorrê-los.

Antes de fixarmos a coroa resplandecente dos Apóstolos fiéis, meditemos nos espinhos que lhes feriram a fronte.

Paulo conseguiu atingir as culminâncias; entretanto, quantos golpes de açoite, pedradas e ironias suportou, adaptando-se aos ensinamentos do Cristo, em escalando a montanha!...

Não mires, apenas, a superioridade manifesta daqueles a quem consagras admiração e respeito. Não te esqueças de imitá-los afeiçoando-te aos serviços sacrificiais a que se devotaram para alcançar os divinos fins.

NOSSA REFLEXÃO

Paulo, como os discípulos, foi perseguido, apedrejado, preso e condenado à morte, não necessariamente num mesmo episódio.[1]

Jesus anteviu os martírios. Sabemos que historicamente os cristão e demais crentes de outras denominações religiosas sempre foram discriminados e até mesmo mortos por defenderem sua religião, a ponto de hoje no Brasil haver a lei  LEI N. 10.825, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003 que ampara a liberdade religiosa.

Erasto, Espírito da Codificação Espírita, em sua instrução Missão dos espíritas, nos traz estímulos para o trabalho espírita, da qual destacamos o trecho abaixo que corrobora a previsão do Cristo e o que passou Paulo e demais discípulos como citado acima:

Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.[2]

Sabemos que não foi fácil o reconhecimento do Espiritismo no Brasil. Inclusive foi criminalizado pelo Código Penal, em 1890.[3]

Então, a mensagem do Emmanuel no deixa entender que o ideal cristão deve ser estimulado pela superioridade das palavras dos iluminados espíritos que historicamente conhecemos e, principalmente, pelo martírio que tiveram que passar para poderem proferirem suas palavras esclarecedora e inspiradora.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Dos 12, excetuando o Judas que se suicidou, que foi substituído por Matias, 10 foram martirizados até a morte. Vide informações a respeito em: https://www.a12.com/redacaoa12/quais-apostolos-morreram-martirizados-27-06-2019-20-30-00.
[2] Vide mensagem, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, Item 4.
[3] Vide como foi tumultuada a implantação do Espiritismo no Brasil por GOMES, Adriana. Criminalização do Espiritismo no Código Penal em 1890: as discussões nos periódicos do Rio de Janeiro. Revista Ágora, Vitória, n. 17, p. 62-76, 2013, p. 62-76. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/agora/article/download/6082/4428/13350. Acesso em: 24 dez. 2023.

domingo, 17 de dezembro de 2023

OFERENDAS

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OFERENDAS

Porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo.

Paulo (HEBREUS, 7:27).

As criaturas humanas vão sempre bem na casa farta, ante o céu azul. Entretanto, logo surjam dificuldades, ei-las à procura de quem as substitua nos lugares de aborrecimento e dor. Muitas vezes, pagam preço elevado pela fuga e adiam indefinidamente a experiência benéfica a que foram convidadas pela mão do Senhor.

Em razão disso, os religiosos de todos os tempos estabelecem complicados problemas com as oferendas da fé.

Nos ritos primitivos não houve qualquer hesitação, perante o sacrifício de jovens e crianças.

Com o escoar do tempo, o homem passou à matança de ovelhas, touros e bodes nos santuários.

Por muitos séculos perdurou o plano de óbolos em preciosidades e riquezas destinadas aos serviços do culto.

Com todas essas demonstrações, porém, o homem não procura senão aliciar a simpatia exclusiva de Deus, qual se o Pai estivesse inclinado aos particularismos terrestres.

A maioria dos que oferecem dádivas materiais não procede assim, ante as casas da fé, por amor à obra divina, mas com o propósito deliberado de comprar o favor do céu, eximindo-se ao trabalho de autoaperfeiçoamento.

Nesse sentido, contudo, o Cristo forneceu preciosa resposta aos seus tutelados do mundo. Longe de pleitear quaisquer prerrogativas, não enviou substitutos ao Calvário ou animais para sacrifício nos templos e, sim, abraçou, ele mesmo, a cruz pesada, imolando-se em favor das criaturas e dando a entender que todos os discípulos serão compelidos ao testemunho próprio, no altar da própria vida.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos lembra dos sacrifícios que todo cristão deve praticar em favor de si mesmo, priorizando seu tempo, oferecendo mais que moedas, à aqueles que necessitam de um apoio moral, orientação para superar um problema ou uma gentileza que esperanciza qualquer pessoa que sofre.

A cruz é um símbolo muito significativo, pois o Cristo se deixou imolar em favor do exemplo que deveria deixar para todos e todas nós, habitantes deste planeta de expiações e provas.[1]

Antes dele se deixar imolar, Ele já dissera:

Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; porquanto, aquele que se quiser salvar a si mesmo, perder-se-á; e aquele que se perder por amor de mim e do Evangelho se salvará. — Com efeito, de que serviria a um homem ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo? (MARCOS, 8:34 a 36; LUCAS, 9:23 a 25; MATEUS, 10:38 e 39; JOÃO, 12:25 e 26)[2].

Então, Ele nos iluminou sobre o que deveríamos fazer, além de simplesmente deixar oferendas nas igrejas ou qualquer tempo religioso, como o Centro Espírita. Observemos que esse chamado foi tão significativo que foi grafado em quatro Evangelhos.

Que tenhamos a clareza de que qualquer atitude de doação, seja material ou moral, deve ser em retribuição ao que já recebemos de nosso Pai e o Cristo com vista à nossa evolução espiritual.

Que Deus e nosso Anjo da Guarda nos ajude.

Domício.


[1] Vide sobre a pluralidade dos mundos habitados em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III.
[2]
Vide a interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV.

domingo, 10 de dezembro de 2023

VEJAMOS ISSO

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VEJAMOS ISSO

Porque o Cristo me enviou, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz do Cristo se não faça vã.

Paulo (I CORÍNTIOS, 1:17).

Geralmente, quando encarnados, sentimos vaidoso prazer em atrair o maior número de pessoas para o nosso modo de crer.

Somos invariavelmente bons pregadores e eminentemente sutis na criação de raciocínios que esmaguem os pontos de vista de quantos nos não possam compreender no imediatismo da luta.

No primeiro pequeno triunfo obtido, tornamo-nos operosos na consulta aos livros santos, não para adquirir mais vasta iluminação e, sim, com o objetivo de pesquisar as letras humanas das divinas escrituras, buscando acentuar as afirmativas vulneráveis de nossos opositores.

Se católicos romanos, insistimos pela observância de nossos amigos à freqüência da missa e dos sacramentos materializados; se adeptos das igrejas reformadas, exigimos o comparecimento geral ao culto externo; e, se espiritistas, buscamos multiplicar as sessões de intercâmbio com o plano invisível.

Semelhante esforço não deixa de ser louvável em algumas de suas características, todavia, é imperioso recordar que o aprendiz do Evangelho, quando procura sinceramente compreender o Cristo, sente-se visceralmente renovado na conduta íntima.

Quando Jesus penetra o coração de um homem, converte-o em testemunho vivo do bem e manda-o a evangelizar os seus irmãos com a própria vida e, quando um homem alcança Jesus, não se detém, pura e simplesmente, na estação das palavras brilhantes, mas vive de acordo com o Mestre, exemplificando o trabalho e o amor que iluminam a vida, a fim de que a glória da cruz se não faça vã.

NOSSA REFLEXÃO

Quando nos apaixonamos por uma filosofia e gostamos de filosofar, buscamos quem tem, também, pontos de vista semelhantes ou contraditórios. O discurso passa a ser nossa arma numa batalha de palavras. Apaixonamo-nos pelo ideal da filosofia nova.

O espiritista, um cristão de outra religião ou filosofia que se deixou renovar pelas ideias claras, convincentes e libertadora se empolga em alastrar sua descoberta que lhe satisfaz, finalmente, relativa a uma ideia religiosa que há muito buscava.

Passa a estudar e se dispor a palestrar, coordenar estudos na casa espirita ou em eventos espíritas. Isso é muito louvável.

Contudo, Paulo nos alerta para o perigo de nos sobrepor a Boa Nova. A reforma íntima deve acompanhar aos estudos e debates.

Nesse contexto, ao dissertar sobre a missão dos espíritas, o Espírito Erasto, colaborador da codificação espírita, sob a organização de Allan Kardec, estimula os espíritas a divulgarem a Doutrina, mas faz o seguinte alerta:

Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.

Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?

Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de sua lei; os que seguem sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, Anjo da guarda do médium.[1]

Então, a missão existe e devemos ter claro como devemos nos comportar frente a ela, para não confundirmos o nosso saber com a vaidade de tê-lo.

O incentivo de Erasto não deve ser confundido com o proselitismo. Sim, devemos divulgar a Doutrina, mas não com arroubo de quem deve ser reconhecido por saber, mas com vontade de cada palavra que dissermos, divulgando a Doutrina, primeiro sirva para nós, como é o recomendado a todo e toda médium que se configura como instrumento de divulgação doutrinária, escrevendo ou falando o que não é de sua autoria.

Que possamos, sempre, se temos conhecimentos doutrinários, fazer valer o legado da cruz que o Cristo exemplificou.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide instrução, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, Item 4.

domingo, 3 de dezembro de 2023

INIMIGOS

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INIMIGOS

      Amai, pois, os vossos inimigos.

Jesus (LUCAS, 6:35).

A afirmativa do Mestre divino merece meditação em toda parte. Naturalmente que a recomendação, quanto ao amor aos inimigos, pede análise especial.

A multidão, em geral, não traduz o verbo amar senão pelas atividades cariciosas. Para que um homem demonstre capacidade afetiva, ante os olhos vulgares, precisará movimentar imenso cabedal de palavras e atitudes ternas, quando sabemos que o amor pode resplandecer no coração das criaturas sem qualquer exteriorização superficial. Porque o Pai nos confira experiências laboriosas e rudes, na Terra ou noutros mundos, não lhe podemos atribuir qualquer negação de amor.

No terreno a que se reporta o Amigo divino, é justo nos detenhamos em legítimas ponderações.

Onde há luta há antagonismo, revelando a existência de circunstâncias com as quais não seria lícito concordar em se tratando do bem comum. Quando o Senhor nos aconselhou amar os inimigos, não exigiu aplausos ao que rouba ou destrói, deliberadamente, nem mandou multiplicarmos as asas da perversidade ou da má­fé. Recomendou, realmente, auxiliarmos os mais cruéis; no entanto, não com aprovação indébita e sim com a disposição sincera e fraternal de ajudá­los a se reerguerem para a senda divina, através da paciência, do recurso reconstrutivo ou do trabalho restaurador. O Mestre, acima de tudo, preocupou­se em preservar­nos contra o veneno do ódio, evitando­nos a queda em disputas inferiores, inúteis ou desastrosas.

Ama, pois, os que se mostram contrários ao teu coração, amparando-­os fraternalmente com todas as possibilidades de socorro ao teu alcance, convicto de que semelhante medida te livrará do calamitoso duelo do mal contra o mal.

NOSSA REFLEXÃO

Amar aos inimigos é uma prova (pois é voluntária) das mais difíceis. O Mestre nos ensinou essa lição em serviço. Ao ser açoitado e desprezado enquanto pessoa, o Cristo se manteve calmo. Quando foi questionado sobre ser rei dos judeus, respondeu calmamente Pilatos: “Tu dizes de ti mesmo ou outros te disseram a respeito de mim?”.

No nosso mundo, em que vive-se às voltas com as maiores atrocidades, inclusive em família, precisamos manter uma certa tranquilidade quando nos exporem a uma situação de combate, pois se configurará como uma situação de exercermos a caridade com os nossos inimigos.

Emmanuel, em Fonte Viva (EMBAINHA TUA ESPADA), nos ilumina quando a este momentos, próprios de um planeta de provas e expiações (grifos nossos):

Em nosso aprendizado cristão, lembremo-nos da palavra do Senhor: "Embainha tua espada..."

Alimentando a guerra com os outros, perdemo-nos nas trevas exteriores, esquecendo o bom combate que nos cabe manter em nós mesmos.

Façamos a paz com os que nos cercam, lutando contra as sombras que ainda nos perturbam a existência, para que se faça em nós o reinado da luz.

De lança em riste, jamais conquistaremos o bem que desejamos.

A cruz do Mestre tem a forma de uma espada com a lâmina voltada para baixo.

Este ato é tão importante nas nossas vidas que Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, reservou um capítulo só destinado a ele: Amai os Inimigos. Nele, trata-se de temáticas como: retribuir o mal com o bem; a vingança; o ódio; e o duelo.

Em sua dissertação sobre o tema, Allan Kardec aponta pra a superioridade desse ato de amor: “Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.[1]

Emmanuel corrobora com A. Kardece, pois o Mestre Codificador atentou sobre o significado de amar, diferenciando do ser terno ou carinhoso.

Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.[2]

Ao discorrer sobre o significado de amar aos inimigos, A. Kardec conclui: “[...] é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos”.[3]

Que tenhamos atentos e vigilantes, quando tivermos em situação de discordância com quem que seja, pra não cairmos em tentação de entrar em um duelo de palavras e, dessa forma, cairmos em tentação de cair no terreno da animalidade, mesmo quando precisarmos nos defender de uma calúnia ou ofensa qualquer. Que venhamos a nos espelhar no Mestre no momento extremo de sua vida de puro Amor na Terra.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide dissertação, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espíritismo, Cap. XII, Item 3.
[2] Idem.
[3]
Idem.