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INIMIGOS
Amai, pois,
os vossos inimigos.
Jesus (LUCAS,
6:35).
A afirmativa
do Mestre divino merece meditação em toda parte. Naturalmente que a
recomendação, quanto ao amor aos inimigos, pede análise especial.
A multidão,
em geral, não traduz o verbo amar senão pelas atividades cariciosas. Para que um
homem demonstre capacidade afetiva, ante os olhos vulgares, precisará
movimentar imenso cabedal de palavras e atitudes ternas, quando sabemos que o
amor pode resplandecer no coração das criaturas sem qualquer exteriorização
superficial. Porque o Pai nos confira experiências laboriosas e rudes, na Terra
ou noutros mundos, não lhe podemos atribuir qualquer negação de amor.
No terreno a
que se reporta o Amigo divino, é justo nos detenhamos em legítimas ponderações.
Onde há luta
há antagonismo, revelando a existência de circunstâncias com as quais não seria
lícito concordar em se tratando do bem comum. Quando o Senhor nos aconselhou
amar os inimigos, não exigiu aplausos ao que rouba ou destrói, deliberadamente,
nem mandou multiplicarmos as asas da perversidade ou da máfé. Recomendou, realmente,
auxiliarmos os mais cruéis; no entanto, não com aprovação indébita e sim com a
disposição sincera e fraternal de ajudálos a se reerguerem para a senda
divina, através da paciência, do recurso reconstrutivo ou do trabalho
restaurador. O Mestre, acima de tudo, preocupouse em preservarnos contra o
veneno do ódio, evitandonos a queda em disputas inferiores, inúteis ou desastrosas.
Ama, pois, os
que se mostram contrários ao teu coração, amparando-os fraternalmente com todas
as possibilidades de socorro ao teu alcance, convicto de que semelhante medida
te livrará do calamitoso duelo do mal contra o mal.
NOSSA REFLEXÃO
Amar aos inimigos é uma prova (pois é voluntária) das
mais difíceis. O Mestre nos ensinou essa lição em serviço. Ao ser açoitado e
desprezado enquanto pessoa, o Cristo se manteve calmo. Quando foi questionado
sobre ser rei dos judeus, respondeu calmamente Pilatos: “Tu dizes de ti mesmo
ou outros te disseram a respeito de mim?”.
No nosso mundo, em que vive-se às voltas com as
maiores atrocidades, inclusive em família, precisamos manter uma certa
tranquilidade quando nos exporem a uma situação de combate, pois se configurará
como uma situação de exercermos a caridade com os nossos inimigos.
Emmanuel, em Fonte Viva (EMBAINHA TUA ESPADA), nos ilumina quando a este momentos, próprios de um planeta de
provas e expiações (grifos nossos):
Em nosso aprendizado cristão, lembremo-nos
da palavra do Senhor: "Embainha tua espada..."
Alimentando a guerra com os outros,
perdemo-nos nas trevas exteriores, esquecendo o bom combate que nos cabe manter
em nós mesmos.
Façamos a paz com os que nos cercam,
lutando contra as sombras que ainda nos perturbam a existência, para que se
faça em nós o reinado da luz.
De lança em riste, jamais conquistaremos
o bem que desejamos.
A cruz do Mestre tem a forma de uma espada com a lâmina voltada para baixo.
Este ato é tão importante nas nossas vidas que Allan
Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, reservou um capítulo só destinado a
ele: Amai os Inimigos. Nele, trata-se de temáticas como: retribuir
o mal com o bem; a vingança; o ódio; e o duelo.
Em sua dissertação sobre o tema, Allan Kardec aponta
pra a superioridade desse ato de amor: “Se o amor do próximo constitui
o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse
princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias
alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.”[1]
Emmanuel corrobora com A. Kardece, pois o Mestre Codificador
atentou sobre o significado de amar, diferenciando do ser terno ou carinhoso.
Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.[2]
Ao discorrer sobre o significado de amar aos inimigos,
A. Kardec conclui: “[...] é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal
com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as
condições do mandamento: Amai os vossos inimigos”.[3]
Que tenhamos atentos e vigilantes, quando tivermos em
situação de discordância com quem que seja, pra não cairmos em tentação de
entrar em um duelo de palavras e, dessa forma, cairmos em tentação de cair no
terreno da animalidade, mesmo quando precisarmos nos defender de uma calúnia ou
ofensa qualquer. Que venhamos a nos espelhar no Mestre no momento extremo de
sua vida de puro Amor na Terra.
Que Deus nos ajude.
Domício.
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