domingo, 26 de novembro de 2023

CONFLITO

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CONFLITO

Acho então esta lei em mim: quando quero fazer o bem, o mal está comigo.

Paulo (ROMANOS, 7:21).

Os discípulos sinceros do Evangelho, à maneira de Paulo de Tarso, encontram grande conflito na própria natureza.

Quase sempre são defrontados por enormes dificuldades nos testemunhos. No instante justo, quando lhes cabe revelar a presença do divino Companheiro no coração, eis que uma palavra, uma atitude ligeira os traem, diante da própria consciência, indicando-lhes a continuidade das antigas fraquezas.

A maioria experimenta sensações de vergonha e dor.

Alguns atribuem as quedas à influenciação de espíritos maléficos e, geralmente, procuram o inimigo no plano exterior, quando deveriam sanar em si mesmos a causa indesejável de sintonia com o mal.

É indubitável que ainda nos achamos em região muito distante daquela em que possamos viver isentos de vibrações adversas, todavia, é necessário verificar a observação de Paulo, em nós próprios.

Enquanto o homem se mantém no gelo da indiferença ou na inquietação da teimosia, não é chamado à análise pura; entretanto, tão logo desperta para a renovação, converte-se o campo íntimo em zona de batalha.

Contra a aspiração bruxuleante do bem, no dia que passa, levanta-se a pesada bagagem de sombras acumuladas em nossas almas desde os séculos transcorridos. Indispensável, portanto, grande serenidade e resistência de nossa parte, a fim de que o progresso alcançado não se perca.

O Senhor concede-nos a claridade de Hoje para esquecermos as trevas de Ontem, preparando-nos para o Amanhã, no rumo da luz imperecível.

NOSSA REFLEXÃO

Clássica, esta reflexão de Paulo, pois traduz a nossa luta diária com nossas imperfeições. Quando pensamos que não, já caímos em tentação. Essa luta foi prevista por nosso Mestre Jesus, quando nos alertou: “vigiai e orai para não cairdes em tentação” (MATEUS, 2:41). Ele sabia sobre a nossa luta de imperfeitos e imperfeitas que somos. E muitas vezes, somos tomados de supetão por um visão física que nos motiva a um pensamento não caridoso. É quando podemos nos conter espiritualmente para não dar avanço a uma ação costumeira de vidas passadas, das quais nos comprometemos nos livrar. Allan Kardec, nos explica sobre essa situação quando disserta sobre os pecados por pensamento. E são os pecados por pensamento que nos levam àqueles por atos.

Todo pensamento mau resulta, pois, da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia. É indício de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.[1]

Estes são os momentos que Emmanuel traduz como um conflito que nasce da tentação que emerge de nossa intimidade espiritual. Como Emmanuel nos ilumina, nesta mensagem, ao falar dos conflitos que têm os cristãos: “no instante justo, quando lhes cabe revelar a presença do divino Companheiro no coração, eis que uma palavra, uma atitude ligeira os traem, diante da própria consciência, indicando-lhes a continuidade das antigas fraquezas”.

Às vezes, isso acontece num ato que poderia ser, sobretudo, de caridade moral, para além da material. Doamos, mas aproveitamos para nos mostrar superior, traduzindo que o Paulo nos exortou: “[...] quando quero fazer o bem, o mal está comigo” (ROMANOS, 7:21).

Então, nos momentos de silêncio em que ninguém nos ver ou ouve, ou naqueles que somos chamados a ajudar, que lutemos contra nossas tendências em que “[...] encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade”, pois “as mais terríveis tentações decorrem do fundo sombrio de nossa individualidade, assim como o lodo, mais intenso, capaz de tisnar o lago, procede do seu próprio seio[2].

Que Deus nos ajude a purificar nosso coração, numa relação crítica e (espírita) cristã quando nos depararmos com o homem velho que existe em nós, para que cresçamos, sendo sempre superior a ele.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII. Item 7.
[2]
Vide mensagem Vigiemos e Oremos, de Emmanuel (FONTE VIVA/CHICO XAVIER)

domingo, 19 de novembro de 2023

RENOVAÇÃO NECESSÁRIA

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RENOVAÇÃO NECESSÁRIA

Não extingais o Espírito.

Paulo (I TESSALONICENSES, 5:19).

Quando o apóstolo dos gentios escreveu esta exortação, não desejava dizer que o Espírito pode ser destruído, mas procurava renovar a atitude mental de quantos vivem sufocando as tendências superiores.

Não raro, observamos criaturas que agem contra a própria consciência, a fim de não se categorizarem entre os espirituais. Entretanto, as entidades encarnadas permanecem dentro de laborioso aprendizado, para se erguerem do mundo na qualidade de espíritos gloriosos. Esta é a maior finalidade da escola humana.

Os homens, contudo, demoram-se largamente a distância da grande verdade. Habitualmente, preferem o convencionalismo a rigor e, somente a custo, abrem o entendimento às realidades da alma. Os costumes, efetivamente, são elementos poderosos e determinantes na evolução, todavia, apenas quando inspirados por princípios de ordem superior.

É necessário, portanto, não asfixiarmos os germens da vida edificante que nascem, todos os dias, no coração, ao influxo do Pai misericordioso.

Irmãos nossos existem que regressam da Terra pela mesma porta da ignorância e da indiferença pela qual entraram. Eis por que, no balanço das atividades de cada dia, os discípulos deverão interrogar a si mesmos: “Que fiz hoje? acentuei os traços da criatura inferior que fui até ontem ou desenvolvi as qualidades elevadas do espírito que desejo reter amanhã?”

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel traz-nos uma reflexão que nos direcionam à reforma íntima, visando nos tornamos melhor a cada dia. Com perseverança, podemos alcançar essa meta, nos tornando verdadeiros espíritas[1].

As barreiras que encontramos para alcançarmos essa meta são as mais diversas, a começar pela maior: nós mesmos. No homem velho que trazemos em nós, se revelam, cotidianamente, na forma de tentações.

Em Origem das tentações, do livro Caminho, Verdade e Vida (Chico Xavier), Emmanuel nos traduz como as tentações se originam em nós e podem permanecer: “Ser tentado é ouvir a malícia própria, é abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do coração.”

Então, devemos fazer a separação do joio que está em nós, pois é natural que ele surja, no dia a dia, pois o trazemos conosco ao reencarnar.

A reforma íntima está em domar nossas más inclinações, reforçadas pelas tentações. Daí, para que esse controle seja feito, coisa que dificilmente fazemos, lembremos da experiência de Santo Agostinho, narrada por ele, em O Livro dos Espíritos, cujo recorte apresentamos, como segue:

Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.[2]

Portanto, não nos extigamos, conforme explicação de Emmanuel, em relação à exortação de Paulo. Pelo contrário, tentemos seguir o Santo Agostinho.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Vide Cap. XVII, Item 4 (Os bons espíritas) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[2]
Vide, na íntegra, sua mensagem, em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Cap. II (Da perfeição moral) – Questão 919 – Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

domingo, 12 de novembro de 2023

NUTRIÇÃO ESPIRITUAL

 

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NUTRIÇÃO ESPIRITUAL

Bom é que o coração se fortifique com graça e não com manjares, que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram.

Paulo (HEBREUS, 13:9).

Há vícios de nutrição da alma, tanto quanto existem na alimentação do corpo.

Muitas pessoas trocam a água pura pelas bebidas excitantes, qual ocorre a muita gente que prefere lidar com a ilusão perniciosa, em se tratando dos problemas espirituais.

O alimento do coração, para ser efetivo na vida eterna, há de basear-se nas realidades simples do caminho evolutivo.

É imprescindível estejamos fortificados com os valores iluminativos, sem atender aos deslumbramentos da fantasia que procede do exterior. E justamente na estrada religiosa é que semelhante esforço exige mais amplo aprimoramento.

O crente, de maneira geral, está sempre sequioso de situações que lhe atendam aos caprichos nocivos, quanto o gastrônomo anseia pelos pratos exóticos; entretanto, da mesma sorte que os prazeres da mesa em nada aproveitam nas atividades essenciais, as sensações empolgantes da zona fenomênica se tornam inúteis ao espírito, quando este não possui recursos interiores suficientes para compreender as finalidades. Inúmeros aprendizes guardam a experiência religiosa, que lhes diz respeito, por questão puramente intelectual. Imperioso, porém, é reconhecer que o alimento da alma para fixar-se, em definitivo, reclama o coração sinceramente interessado nas verdades divinas. Quando um homem se coloca nessa posição íntima, fortifica-se realmente para a sublimação, porque reconhece tanto material de trabalho digno, em torno dos próprios passos, que qualquer sensação transitória, para ele, passa a localizar-se nos últimos degraus do caminho.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos chama a atenção, a partir de Paulo, da necessidade de nos alimentarmos bem no campo do Espírito.

Entendemos que, assim como uma boa alimentação do corpo, nos garante uma boa qualidade de vida corpórea, uma boa alimentação do Espírito nos garante uma qualidade de vida espiritual, o melhor possível.

Desse modo, temos que escolher bem o que pensamos e escolher aqueles pensamentos que nos fazem bem, nos deixam em paz, esperançoso e confiante em uma vida futura melhor.

A. Kardec nos ensina que “a ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena” (grifos do autor)[1].

Desse modo, tanto como devemos almejar viver o mais longamente numa existência corpórea, preservando-nos de alimentos nocivos, devemos nos preservar de pensamentos infelizes que nos surjam à mente para termos uma vida plena, após deixar o corpo.

Necessário se faz pensar nas consequências dos pensamentos que alimentamos em nosso dia a dia, pois segundo A. Kardec, “a verdadeira pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer: Ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza”.[2]

Então, que nos esforcemos em pensar o melhor possível para termos uma eternidade pela frente, cheias de alegrias e vontade de cada vez mais sermos melhores espiritualmente, pois como Emmanuel nos faz refletir a partir dessa mensagem, “[...] da mesma sorte que os prazeres da mesa em nada aproveitam nas atividades essenciais, as sensações empolgantes da zona fenomênica se tornam inúteis ao espírito [...]”.

Que Deus nos ajude.

             Domício

[1] Vide na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. II, Item 5.
[2]
Vide na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII (Bem-Aventurados os que tem puro o coração), Item 6.

domingo, 5 de novembro de 2023

O GRANDE FUTURO

 

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O GRANDE FUTURO

Mas agora o meu reino não é daqui.

Jesus (JOÃO, 18:36).

Desde os primórdios do Cristianismo, observamos aprendizes que se retiram deliberadamente do mundo, alegando que o reino do Senhor não pertence à Terra.

Ajoelham-se, por tempo indeterminado, nas casas de adoração, e acreditam efetuar na fuga a realização da santidade.

Muitos cruzam os braços à frente dos serviços de regeneração e, quando interrogados, expressam revolta pelos quadros chocantes que a experiência terrena lhes oferece, reportando-se ao Cristo, diante de Pilatos, quando o Mestre asseverou que o seu reino ainda não se instalara nos círculos da luta humana.

No entanto, é justo ponderar que o Cristo não deserdou o planeta. A palavra dele não afiançou a negação absoluta da felicidade celeste para a Terra, mas apenas definiu a paisagem então existente, sem esquecer a esperança no porvir.

O Mestre esclareceu: “Mas agora o meu reino não é daqui.”

Semelhante afirmativa revela-lhe a confiança.

Jesus, portanto, não pode endossar a falsa atitude dos operários em desalento, tão só porque a sombra se fez mais densa em torno de problemas transitórios ou porque as feridas humanas se fazem, por vezes, mais dolorosas. Tais ocorrências, muita vez, obedecem a pura ilusão visual.

A atividade divina jamais cessa e justamente no quadro da luta benéfica é que o discípulo insculpirá a própria vitória.

Não nos cabe, pois, a deserção pela atitude contemplativa e, sim, avançar, confiantemente, para o grande futuro.

NOSSA REFLEXÃO

O Mestre esteve entre nós, 2023 anos atrás e, até hoje, precisamos refletir que ainda nos encontramos num mundo de provas e expiações, onde cada pessoa ainda tem que se ressarcir com a Lei de Deus. Portanto, por agora, o Reino de Jesus ainda não é deste mundo.

Mas, ainda assim, ele se constitui em um planeta de crescimento espiritual com vista a permanência nele, de todas as pessoas que compreenderam as lições do Mestre.

Os mundos passam por uma escala evolutiva, conforme evolução do povo que o habita. Deste modo, temos a seguir as diferentes categorias de mundos habitados, conforme o grau de espiritualidade de seus habitantes:

[...] mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas, onde domina o mal; mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias (grifos nossos).[1]

Estamos próximos de galgar a categoria de mundo de regeneração, que segundo A. Kardec, acima, ainda teremos, caso ficarmos na Terra, nessa progressão, algo a expiar, mas não com a dor pungente que ocorre no atual estágio planetário. É um estágio de evolução para o mundo ditoso.

O Cristo, sabia dessa evolução planetária e confiava, quando disse “agora”, que não tardaria o reino dele se implantaria no nosso mundo. Com a Doutrina Espírita, denominada de O Consolador, pelo Mestre (JOÃO, 14:15 a 17 e 26.)[2], Ele nos esclareceu a sua fala, quando respondeu a Pilatos, quando este o perguntou: Tu és o rei dos judeus? (JOÃO, 18:33).

Que tenhamos a vontade firme de superar nossas limitações espirituais e que não cometamos as maldades que ainda não conseguimos evitar. Sejamos firmes com nossas imperfeições e nos reformemos dia a dia, sendo verdadeiros espíritas, que segundo A. Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”[3]

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps: Compartilho um poema de L. Angel, sobre o tema, com nossos(as) leitores(as) e estudiosos(as) da Doutrina Espírita.

AS ESTRELAS E OS MUNDOS HABITADOS

L. Angel                                            23/07/2010

A morte sucede a vida

E cada dia tem seu fim.

É então que Deus traz para mim

A noite suscitando alegria incontida.


São as estrelas, Pai bondoso,

Que inspira os poetas,

Deixa as mentes inquietas

Após um dia laborioso.

 

Fica uma questão que se faz:

Na criação divinal,

As estrelas não têm outro fim, afinal?

 

Sim – dizem os Espíritos em sua paz –.

Iluminam os diversos mundos habitados

Por Espíritos que evoluem em outros estados.



[1] Vide dissertação, na íntegra, de A. Kardec sobre as diferentes categorias de mundo habitados em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, Item 3.
[2] Vide dissertação a respeito, sobre isto, de Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI (O Cristo Consolador), Item 4.
[3]
Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4.