domingo, 27 de agosto de 2023

CONDIÇÃO COMUM

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CONDIÇÃO COMUM

Imediatamente, o pai do menino, clamando com lágrimas, disse: eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade.

Marcos (9:24).

Aquele homem da multidão, em se aproximando de Jesus com o filho enfermo, constitui expressão representativa do espírito comum da humanidade terrestre.

Os círculos religiosos comentam excessivamente a fé em Deus, todavia, nos instantes da tempestade, são escassos os devotos que permanecem firmes na confiança.

Revelam­se as massas muito atentas aos cerimoniais do culto exterior, participam das edificações alusivas à crença, contudo, ante as dificuldades do escândalo, quase toda gente resvala no despenhadeiro das acusações recíprocas.

Se falha um missionário, verifica­se a debandada. A comunidade dos crentes pousa os olhos nos homens falíveis, cegos às finalidades ou indiferentes às instituições. Em tal movimento de insegurança espiritual, sem paradoxo, as criaturas humanas crêem e descrêem, confiando hoje e desfalecendo amanhã.

Somos defrontados, ainda, pelo regime de incerteza de espíritos infantis que mal começam a conceber noções de responsabilidade.

Felizes, pois, aqueles que, à maneira do pai necessitado, se acercarem do Cristo, confessando a precariedade da posição íntima. Assim, em afirmando a crença com a boca, pedirão, ao mesmo tempo, ajuda para a sua falta de fé, atestando com lágrimas a própria miserabilidade.

NOSSA REFLEXÃO

Esta passagem evangélica, que Emmanuel utiliza para fazer esta página, se encontra em Marcos (9:14-29), Mateus (17:14-21) e Lucas (9:37-42), que trata da criança subjugada, corporalmente, desde a infância. O Pai, desesperado, procurou os discípulos de Jesus pra que livrassem a criança do Espírito subjugador.

Contudo, os discípulos não lograram êxito. Então, o Pai da criança recorreu a Jesus que o interrogou sobre o histórico da criança. Contando, o Pai, suplicou que Jesus curasse a criança, caso Ele pudesse. Jesus, então, disse: “Todas as coisas são possíveis ao que crê” (MARCOS, 9:23). No final do epsódio, os discípulos perguntaram a Jesus por que não conseguiram expulsar o Espírito. Jesus lhes respondeu: “Este gênero de espírito de nenhum modo pode sair, senão com oração” (MARCOS, 9:29).[1]

Assim, o Mestre, ensinava como deveríamos proceder nas reuniões mediúnicas nas casas espíritas, particularmente nos casos de subjugação.

O caso específico da passagem evangélica se trata de uma subjugação corporal, que significa, conforme A. Kardec, “[...] uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo”.[2]. A subjugação (entendida por muitos, como uma possessão[3]) pode ser moral ou corporal. A. Kardec nos diz quando ocorre a corporal:

A subjugação corporal tira muitas vezes ao obsidiado a energia necessária para dominar o mau Espírito. Daí o tornar-se precisa a intervenção de um terceiro, que atue pelo magnetismo ou pelo império da sua vontade. Em falta do concurso do obsidiado, essa terceira pessoa deve tomar ascendente sobre o Espírito; porém, como este ascendente só pode ser moral, só a um ser moralmente superior ao Espírito é dado assumi-lo e seu poder será tanto maior quanto maior for a sua superioridade moral, porque, então, se impõe àquele, que se vê forçado a inclinar-se diante dele. Por isso é que Jesus tinha tão grande poder para expulsar aqueles a que, naquela época, se chamava demônio, isto é, os maus Espíritos obsessores.[4]


Decorre disto, que, para conduzir um Espírito que subjuga, moral ou corporalmente uma pessoa, é necessário que tenhamos uma moral suficiente (desde de casa, como no trabalho, no trânsito ou movimentos outros) para tratar o obsessor com caridade. Desse modo, torna-se irresistível qualquer orientação no sentido de seu bem como do que ele subjuga.

Oração e fé, é o que precisamos nesses momentos, tanto aquele já é experiente nos estudos da Doutrina, como aquele que se assemelha ao Pai desesperado que procurou Jesus, humildemente, confessando a fragilidade de sua fé e pedindo paciência para construí-la.

Desse modo, é importante ressalvar, conforme Emmanuel, nessa mensagem que:

Felizes, pois, aqueles que, à maneira do pai necessitado, se acercarem do Cristo, confessando a precariedade da posição íntima. Assim, em afirmando a crença com a boca, pedirão, ao mesmo tempo, ajuda para a sua falta de fé, atestando com lágrimas a própria miserabilidade.

 

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] DIAS, Haroldo Dutra (Trad.). O Novo Testamento. 1. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013.
[2] Vide em O Livro dos Médiuns, Segunda Parte – Cap. XXIII (Da obsessão), Item 240.
[3] Conforme A. Kardec, em O Livro dos Médiuns, Segunda Parte – Cap. XXIII (Da obsessão), Item 241, “dava-se outrora o nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos, quando a influência deles ia até a aberração das faculdades da vítima. A possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação. Por dois motivos deixamos de adotar esse termo: primeiro, porque implica a crença de seres criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, enquanto não há senão seres mais ou menos imperfeitos, os quais todos podem melhorar-se; segundo, porque implica igualmente a ideia do apoderamento de um corpo por um Espírito estranho, de uma espécie de coabitação, ao passo que o que há é apenas constrangimento. A palavra subjugação exprime perfeitamente a ideia. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar do termo, há somente obsidiados, subjugados e fascinados” (grifos nossos).
[4]
Vide em O Livro dos Médiuns, Segunda Parte – Cap. XXIII (Da obsessão), Item 251.

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