domingo, 20 de agosto de 2023

PECADO E PECADOR

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PECADO E PECADOR

Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem, é de Deus; mas quem faz o mal, não tem visto a Deus.

III João (11).

A sociedade humana não deveria operar a divisão de si própria, como sendo um campo em que se separam bons e maus, mas sim viver qual grande família em que se integram os espíritos que começam a compreender o Pai e os que ainda não conseguiram pressenti­-lo.

Claro que as palavras “maldade” e “perversidade” ainda comparecerão, por vastíssimos anos, no dicionário terrestre, definindo certas atitudes mentais inferiores; todavia, é forçoso convir que a questão do mal vai obtendo novas interpretações na inteligência humana.

O evangelista apresenta conceito justo. João não nos diz que o perverso está exilado de nosso Pai, nem que se conserva ausente da Criação. Apenas afirma que “não tem visto a Deus”.

Isto não significa que devamos cruzar os braços, ante as ervas venenosas e zonas pestilenciais do caminho; todavia, obriga­-nos a recordar que um lavrador não retira espinheiros e detritos do solo, a fim de convertê­-lo em precipícios.

Muita gente acredita que o “homem caído” é alguém que deve ser aniquilado. Jesus, no entanto, não adotou essa diretriz. Dirigindo-­se, amorosamente, ao pecador, sabia­-se, antes de tudo, defrontado por enfermo infeliz, a quem não se poderia subtrair as características de eternidade.

Lute­-se contra o crime, mas ampare-­se a criatura que se lhe enredou nas malhas tenebrosas.

O Mestre indicou o combate constante contra o mal, contudo, aguarda a fraternidade legítima entre os homens por marco sublime do Reino celeste.

NOSSA REFLEXÃO

Infelizmente, estamos vivendo no que poderíamos dizer, fim dos tempos, onde a maldade impera. Sabemos que o nosso planeta, categorizado como “[...] mundos de expiação e provas, onde domina o mal [...]” está passando por período de evolução pra ocupar a categoria de “[...] mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta [...]” (grifos nossos)[1].

Sobre isso, o Espirito Santo Agostinho, nos esclarece:

A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à Lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito.[2]

Então, a humanidade está num luta constante para que os princípios de justiça e direitos humanos sejam considerados nas relações humanas. Os meios de comunicação não nos deixam sossegados quanto ao que ocorre no dia a dia nas cidades, estados e países. E é triste ver como as informações nos chegam a uma velocidade estupenda. Cabe a nós receber, como cristãos, o que nos chega, com paciência, tolerância e misericórdia, principalmente tendo ciência que há um Lei que rege as relações entre os Espíritos, filhos do mesmo Criador. Contudo, a sensação imediata é de tristeza e às vezes de indignação.

Mas João orienta vermos o que existe e seguir numa outra direção, pois para ele, “quem faz o bem, é de Deus; mas quem faz o mal, não tem visto a Deus” (III João, 11).

Entendemos, por nossa vez, que o mal deve ser combatido em favor dos que sofrem o mal praticado por quem o faz. E isto, não se trata apenas de um ato religioso, mas político-social, também. Precisamos trabalhar, em todas as frentes em que o cidadão está situado, como a religiosa (atitude espiritual diante do mal) e a político-social (atitude de enfrentamento diante do mal, cobrando das autoridades leis protetivas em favor dos mais vulneráveis da sociedade).

Nessa direção, Emmanuel encerra essa mensagem, com a seguinte orientação: “Lute-­se contra o crime, mas ampare-­se a criatura que se lhe enredou nas malhas tenebrosas. O Mestre indicou o combate constante contra o mal, contudo, aguarda a fraternidade legítima entre os homens por marco sublime do Reino celeste”.

Então, devemos entender que o mal não deve ser combatido com o mal, mas com educação, respeito, com fraternidade aos que não tiveram acesso à educação e são cooptados pelos que dominam, de modo maléfico, uma comunidade. O isolamento, tanto dos que são dominados pelo mal, como dos que comandam uma coletividade, seja de qualquer área, inclusive a política, dever ser educativo, para que possam retornar à sociedade melhorados e com condições de contribuir com a coletividade. Tudo isso com base em leis justas que devem se aproximar, cada vez mais, da de Deus.

Que Deus nos ajude, nesse processo.

Domício.


[1] Vide dissertação, na íntegra, de A. Kardec sobre Diferentes categorias de mundos habitados em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, Item 3.
[2]
Vide mensagem de Santo Agostinho em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III (Instruções dos Espíritos), Item 15.

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