domingo, 18 de junho de 2023

NOVOS ATENIENSES

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NOVOS ATENIENSES

Mas quando ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam e outros diziam: acerca disso te ouviremos outra vez.

(ATOS, 17:32).

O contacto de Paulo com os atenienses, no Areópago, apresenta lição interessante aos discípulos novos.

Enquanto o Apóstolo comentava as suas impressões da cidade célebre, aguçando talvez a vaidade dos circunstantes, pelas referências aos santuários e pelo jogo sutil dos raciocínios, foi atentamente ouvido. É possível que a assembléia o aclamasse com fervor, se sua palavra se detivesse no quadro filosófico das primeiras exposições. Atenas reverenciá-lo-ia, então, por sábio, apresentando-o ao mundo na moldura especial de seus nomes inesquecíveis.

Paulo, todavia, refere-se à ressurreição dos mortos, deixando entrever a gloriosa continuação da vida, além das ninharias terrestres. Desde esse instante, os ouvintes sentiram-se menos bem e chegaram a escarnecer-lhe a palavra amorosa e sincera, deixando-o quase só.

O ensinamento enquadra-se perfeitamente nos dias que correm. Numerosos trabalhadores do Cristo, nos diversos setores da cultura moderna, são atenciosamente ouvidos e respeitados por autoridades nos assuntos em que se especializaram; contudo, ao declararem sua crença na vida além do corpo, em afirmando a lei de responsabilidade, para lá do sepulcro, recebem, de imediato, o riso escarninho dos admiradores de minutos antes, que os deixam sozinhos, proporcionando-lhes a impressão de verdadeiro deserto.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos traz a reflexão sobre a rejeição de parte de uma sociedade em relação a Doutrina Espírita, mas especificamente à realidade da vida após a morte do corpo. Essa mensagem foi publicada em 1950, 73 anos atrás.

Na atualidade, já há uma receptividade bem maior à Doutrina Espírita. Pelo censo da década de 1910, tínhamos 3,8 milhões de espíritas no Brasil[1]. Há uma expectativa de aumento desse número para 2020, pois, além de espiritas declarados, há um grande número de simpatizantes.

Contudo, falar sobre vida após morte do corpo ou da reencarnação, carece de cuidado pra que um simpatizante seja esclarecido sobre seus princípios.

O mais importante é que nós, espíritas, não nos preocupemos com sermos proselitistas, ávidos de aumentar o número de crentes na nossa doutrina de fé.

Quanto a isto, devemos lembrar que não sermos proselitistas não significa não professar a nossa fé em público. Devemos, sim, escolher a hora certa de falar e para um público interessado em ouvir.

Jesus foi muito enfático aos seus discípulos em não se sentirem envergonhados de falar de sua Doutrina. De modo literal, Ele se expressou assim:

Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, Eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; e aquele que me renegar diante dos homens, também Eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus (MATEUS, 10:32 e 33). Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos (LUCAS, 9:26).

Desse modo, motivava a todos a ter a coragem da fé. Allan Kardec, sobre isso, faz a seguinte exposição:

A coragem das opiniões próprias sempre foi tida em grande estima entre os homens, porque há mérito em afrontar os perigos, as perseguições, as contradições e até os simples sarcasmos, aos quais se expõe, quase sempre, aquele que não teme proclamar abertamente ideias que não são as de toda gente.[2]

Ou seja, uma ideia nova sempre confronta outra aceita, socialmente, de modo cultural, filosófica ou científica. Isso pode levar uma certa resistência. Daí, os Discípulos do Cristo e os primeiros cristão terem sido perseguidos e apedrejados em praça pública, levando-os a se reunirem em catacumbas. Os espíritas, no Brasil, no ínicio, também tiveram dificuldade de professar a sua fé.[3] A criação da Federação Espírita Brasileira, em 1884 e a atuação do médium Francisco Cândido Xavier, veio dar uma seriedade e credibilidade ao movimento espírita.

Que tenhamos, então, uma fé racionada, mas aceitando a dos outros e das outras, em respeito à diversidade religiosa que temos no Brasil, que é protegida pela LEI Nº 14.532, de 11/01/2023.[4]

Que nos ajude.

Domício.


[1] Os espíritas “[...] passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2,0% em 2010 (3,8 milhões)”. Vide mais em: Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião.
[2] Vide na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, item 15.
[3]"No entanto, a nova religião sofreu grande oposição em um contexto histórico no qual o catolicismo tinha grande presença. Nos códigos de lei da época e no receituário de alguns psiquiatras, o espiritismo era considerado uma manifestação de insanidade mental." Veja mais sobre "Espiritismo no Brasil" em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/espiritismo-no-brasil.htm
[4] “Altera a Leinº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei do Crime Racial), e o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar como crime de racismo a injúria racial, prever pena de suspensão de direito em caso de racismo praticado no contexto de atividade esportiva ou artística e prever pena para o racismo religioso e recreativo e para o praticado por funcionário público.”


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