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NOVOS ATENIENSES
Mas quando ouviram falar da
ressurreição dos mortos, uns escarneciam e outros diziam: acerca disso te
ouviremos outra vez.
(ATOS, 17:32).
O
contacto de Paulo com os atenienses, no Areópago, apresenta lição interessante
aos discípulos novos.
Enquanto
o Apóstolo comentava as suas impressões da cidade célebre, aguçando talvez a
vaidade dos circunstantes, pelas referências aos santuários e pelo jogo sutil
dos raciocínios, foi atentamente ouvido. É possível que a assembléia o
aclamasse com fervor, se sua palavra se detivesse no quadro filosófico das
primeiras exposições. Atenas reverenciá-lo-ia, então, por sábio, apresentando-o
ao mundo na moldura especial de seus nomes inesquecíveis.
Paulo,
todavia, refere-se à ressurreição dos mortos, deixando entrever a gloriosa
continuação da vida, além das ninharias terrestres. Desde esse instante, os
ouvintes sentiram-se menos bem e chegaram a escarnecer-lhe a palavra amorosa e
sincera, deixando-o quase só.
O
ensinamento enquadra-se perfeitamente nos dias que correm. Numerosos
trabalhadores do Cristo, nos diversos setores da cultura moderna, são
atenciosamente ouvidos e respeitados por autoridades nos assuntos em que se
especializaram; contudo, ao declararem sua crença na vida além do corpo, em
afirmando a lei de responsabilidade, para lá do sepulcro, recebem, de imediato,
o riso escarninho dos admiradores de minutos antes, que os deixam sozinhos,
proporcionando-lhes a impressão de verdadeiro deserto.
NOSSA REFLEXÃO
Emmanuel nos traz a
reflexão sobre a rejeição de parte de uma sociedade em relação a Doutrina
Espírita, mas especificamente à realidade da vida após a morte do corpo. Essa
mensagem foi publicada em 1950, 73 anos atrás.
Na atualidade, já há uma
receptividade bem maior à Doutrina Espírita. Pelo censo da década de 1910, tínhamos
3,8 milhões de espíritas no Brasil[1].
Há uma expectativa de aumento desse número para 2020, pois, além de espiritas
declarados, há um grande número de simpatizantes.
Contudo, falar sobre vida após morte do corpo ou
da reencarnação, carece de cuidado pra que um simpatizante seja esclarecido
sobre seus princípios.
O mais importante é que nós, espíritas, não nos
preocupemos com sermos proselitistas, ávidos de aumentar o número de crentes na
nossa doutrina de fé.
Quanto a isto, devemos lembrar que não sermos proselitistas
não significa não professar a nossa fé em público. Devemos, sim, escolher a hora
certa de falar e para um público interessado em ouvir.
Jesus foi muito enfático aos seus discípulos em não
se sentirem envergonhados de falar de sua Doutrina. De modo literal, Ele se
expressou assim:
Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, Eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; e aquele que me renegar diante dos homens, também Eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus (MATEUS, 10:32 e 33). Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos (LUCAS, 9:26).
Desse modo, motivava a
todos a ter a coragem da fé. Allan Kardec, sobre isso, faz a seguinte exposição:
A coragem das opiniões próprias sempre foi tida em grande estima entre os homens, porque há mérito em afrontar os perigos, as perseguições, as contradições e até os simples sarcasmos, aos quais se expõe, quase sempre, aquele que não teme proclamar abertamente ideias que não são as de toda gente.[2]
Ou seja, uma ideia nova
sempre confronta outra aceita, socialmente, de modo cultural, filosófica ou
científica. Isso pode levar uma certa resistência. Daí, os Discípulos do Cristo
e os primeiros cristão terem sido perseguidos e apedrejados em praça pública,
levando-os a se reunirem em catacumbas. Os espíritas, no Brasil, no ínicio, também
tiveram dificuldade de professar a sua fé.[3] A
criação da Federação Espírita Brasileira, em 1884 e a atuação do médium Francisco
Cândido Xavier, veio dar uma seriedade e credibilidade ao movimento espírita.
Que tenhamos, então, uma fé racionada, mas
aceitando a dos outros e das outras, em respeito à diversidade religiosa que
temos no Brasil, que é protegida pela LEI Nº 14.532, de 11/01/2023.[4]
Que nos ajude.
Domício.
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