domingo, 7 de maio de 2023

ORAÇÃO

 

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ORAÇÃO

Perseverai em oração, velando nela com ação de graças.

Paulo (COLOSSENSES, 4:2).

Muitos crentes estimariam movimentar a prece, qual se mobiliza uma vassoura ou um martelo.

Exigem resultados imediatos, por desconhecerem qualquer esforço preparatório. Outros perseveram na oração, mantendo-­se, todavia, angustiados e espantadiços. Desgastam­-se e consomem valiosas energias nas aflições injustificáveis. Enxergam somente a maldade e a treva e nunca se dignam examinar o tenro broto da semente divina ou a possibilidade próxima ou remota do bem.

Encarceram-­se no “lado mau” e perdem, por vezes, uma existência inteira, sem qualquer propósito de se transferirem para o ‘‘lado bom’’.

Que probabilidade de êxito se reservará ao necessitado que formula uma solicitação em gritaria, com evidentes sintomas de desequilíbrio? O concessionário sensato, de início, adiará a solução, aguardando, prudente, que a serenidade volte ao pedinte.

A palavra de Paulo é clara, nesse sentido.

É indispensável persistir na oração, velando nesse trabalho com ação de graças. E forçoso é reconhecer que louvar não é apenas pronunciar votos brilhantes. É também alegrar­se em pleno combate pela vitória do bem, agradecendo ao Senhor os motivos de sacrifício e sofrimento, buscando as vantagens que a adversidade e o trabalho nos trouxeram ao espírito.

Peçamos a Jesus o dom da paz e da alegria, mas não nos esqueçamos de glorificar­lhe os sublimes desígnios, toda vez que a sua vontade misericordiosa e justa entra em choque com os nossos propósitos inferiores. E estejamos convencidos de que oração intempestiva, constituída de pensamentos desesperados e descabidas exigências, destina­-se ao chão renovador qual acontece à flor improdutiva que o vento leva.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos oferece apontamentos sobre a importância da oração, como também o faz em Firmeza e Constância[1]. Contudo, não deixa de nos alertar sobre como devemos nos comportar em momentos das preces. Esta mensagem e a citada, anteriormente nos reporta aos ensinamentos de Jesus Cristo e dos Espíritos Superiores, quando da Codificação Espírita.

Lembremos que o Cristo se preocupou em nos ensinar sobre como devíamos nos comportar ao orarmos, em Mateus (6:5 a 8), Marcos (11:25 e 26) e Lucas (18:9 a 14).[2]

A. Kardec, por sua vez, sobre esses trechos destacados de três evangelistas, nos faz refletir sobre a justeza das palavras de Jesus Cristo:

Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz Ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau. (Cap. X, itens 7 e 8.)[3]

Então devemos refletir sobre a qualidade e o modo de fazermos nossas preces para que ela seja eficaz e inteligível. Destacamos a seguir, de modo recortado, como deve ser nossa “Maneira de Orar”, segundo o Espírito V. Monod: 

O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como qualquer dever? A prece do cristão, do espírita, seja qual for o culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da majestade divina com humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até aquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os seus guias, para haurir, no contato com eles, mais força e perseverança. [...] A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. [..] Deveis orar incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles.[4]

Então, Emmanuel, nesta mensagem e em Firmeza e Constância corrobora com os ditados grafados em O Evangelho Segundo o Espiritismo quanto à constância, ao equilíbrio e às motivações que devemos ter para orarmos. Destacadamente, nos lembra que devemos estar “[...] convencidos de que oração intempestiva, constituída de pensamentos desesperados e descabidas exigências, destina­-se ao chão renovador qual acontece à flor improdutiva que o vento leva”.

Que Deus nos ajude a não perdermos de vista todos esses ensinamentos oferecidos pela Doutrina Espírita e por Emmanuel, nesta mensagem e em Firmeza e Constância, de modo isolado.

Domício.


[1] Vide nossa reflexão em Firmeza e Constância, mensagem de Emmanuel do livro Fonte Viva.
[2] Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que, afetadamente, oram de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa. Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que serão atendidos. Não vos torneis semelhantes a eles, porque vosso Pai sabe do que é que tendes necessidade, antes que lho peçais. (Mateus, 6:5 a 8); Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, também não vos perdoará os pecados. (Marcos, 11:25 e 26); Também disse esta parábola a alguns que punham a sua confiança em si mesmos, como justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, publicano o outro. O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: “Meu Deus, rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo de tudo o que possuo.” O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava, sequer, erguer os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador.” Declaro-vos que este voltou para a sua casa justificado, e o outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado. (Lucas, 18:9 a 14).
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 4.
[4]
Vide na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 22.

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