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GRANJEAI AMIGOS
Também vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça.
Jesus (LUCAS, 16:9).
Se o homem conseguisse, desde a experiência humana, devassar o pretérito
profundo, chegaria mais rapidamente à conclusão de que todas as possibilidades
que o felicitam, em conhecimento e saúde, provêm da Bondade divina e de que a
maioria dos recursos materiais, à disposição de seus caprichos, procede da injustiça.
Não nos cabe particularizar e, sim, deduzir que as concepções do direito
humano se originaram da influência divina, porque, quanto a nós outros, somos compelidos
a reconhecer nossa vagarosa evolução individual do egoísmo feroz para o amor
universalista, da iniqüidade para a justiça real.
Bastará recordar, nesse sentido, que quase todos os Estados terrestres se
levantaram, há séculos, sobre conquistas cruéis. Com exceções, os homens têm
sido servos dissipadores que, no momento do ajuste, não se mostram à altura da
mordomia.
Eis por que Jesus nos legou a Parábola do Empregado Infiel, convidando-nos
à fraternidade sincera para que, através dela, encontremos o caminho da
reabilitação.
O Mestre aconselhou-nos a granjear amigos, isto é, a dilatar o círculo de
simpatias em que nos sintamos cada vez mais intensivamente amparados pelo
espírito de cooperação e pelos valores intercessórios.
Se o nosso passado espiritual é sombrio e doloroso, busquemos simplificá-lo,
adquirindo dedicações verdadeiras, que nos auxiliem através da subida áspera da
redenção. Se não temos hoje determinadas ligações com as riquezas da injustiça,
tivemo-las, ontem, e faz-se imprescindível aproveitar o tempo para o nosso
reajustamento individual perante a Justiça divina.
NOSSA REFLEXÃO
Emmanuel nos traz, nessa mensagem, uma parábola que não foi selecionada por
A. Kardec pra compor O Evangelho Segundo o Espiritismo. Contudo, se encontra no contexto do Cap.
XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon) da obra acima citada. A Parábola do Empregado
Infiel retrata uma situação em que o Administrador dos bens de um Senhor é pego
em flagrante usurpando dos bens que deveria zelar (LUCAS, 16: 1 A 13). Esta
passagem evangélica é concluida com a seguinte máxima cristã: “Ninguém
pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se
prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e
a Mamon” (Lucas, 16:13). Para se redimir pelo mal feito, ele procurou os devedores
do seu Senhor e descontou parte da dívida dos devedores daquele.
Perdendo o emprego e podendo ficar na miséria,
procurou ajudar a quem devia ao seu empregador, por ele roubado, para poder ter
a quem pedir ajuda no futuro. De qualquer modo usou de uma justiça, ressarcindo
o dinheiro roubado.
A. Kardec discute a questão da riqueza a partir
de sua utilidade ao bem do próximo ou aquela construída, muitas vezes,
prejudicando o semelhante, tomando como base diversas passagens evangélicas,
que trazem a preocupação do Cristo em orientar sobre o bom uso da riqueza[1].
O Codificador da Doutrina Espírita ressalta que
a riqueza tem uma utilidade providencial, porém alerta sobre os cuidados que
devemos ter ao adquirí-la:
Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos (grifos nossos).
Devemos considerar que a riqueza material é um
depósito que recebemos ou construímos, que, apesar de na possibilidade de
termos, não a possuímos. Não é nossa, enquanto Espíritos, pois ao
desencarnarmos, não levamos conosco pra o plano espiritual. Lá, não terá nenhuma
serventia. Então, o desapego e/ou multiplicação deve ter um fim caritativo.
Desse modo, granjeamos amigos.
Emmanuel, discute sobre a nossa autolibertação
espiritual em Autolibertação
(livro Fonte Viva (FEB)), refletida por nós. Nessa página, o autor espiritual nos convida
a refletir: “Se desejas emancipar a alma das grilhetas escuras do
"eu", começa o teu curso de autolibertação, aprendendo a viver
"como possuindo tudo e nada tendo", "com todos e sem
ninguém".
Assim, de tudo que temos e que sobra nos nossos
bolsos pode ser usado pra nos quitarmos com o mau uso da riqueza nessa ou em
vidas passadas.
Que saibamos fazer bem uso do que granjeamos, mesmo
que tenha sido com o nosso esforço, mas nunca sozinho, pois as oportunidades
são providenciadas pelo Pai, quando buscamos e batemos à porta[2] ,
e, a partir do achado, sempre contamos com pessoas que nunca soltam nossa mão,
enquanto precisamos delas.
Sejamos bons depositários das riquezas que nos
são dadas ou obtidas pelo nosso esforço, para que possamos, sempre, com justiça,
não mais pra se redimir, ser um instrumento do Pai, do Cristo, nesse planeta que
vivemos que é um mundo de expiações e de provas.[3]
Que Deus nos ajude.
Domício.