domingo, 28 de maio de 2023

GRANJEAI AMIGOS

 

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GRANJEAI AMIGOS

Também vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça.

Jesus (LUCAS, 16:9).

Se o homem conseguisse, desde a experiência humana, devassar o pretérito profundo, chegaria mais rapidamente à conclusão de que todas as possibilidades que o felicitam, em conhecimento e saúde, provêm da Bondade divina e de que a maioria dos recursos materiais, à disposição de seus caprichos, procede da injustiça.

Não nos cabe particularizar e, sim, deduzir que as concepções do direito humano se originaram da influência divina, porque, quanto a nós outros, somos compelidos a reconhecer nossa vagarosa evolução individual do egoísmo feroz para o amor universalista, da iniqüidade para a justiça real.

Bastará recordar, nesse sentido, que quase todos os Estados terrestres se levantaram, há séculos, sobre conquistas cruéis. Com exceções, os homens têm sido servos dissipadores que, no momento do ajuste, não se mostram à altura da mordomia.

Eis por que Jesus nos legou a Parábola do Empregado Infiel, convidando-nos à fraternidade sincera para que, através dela, encontremos o caminho da reabilitação.

O Mestre aconselhou-nos a granjear amigos, isto é, a dilatar o círculo de simpatias em que nos sintamos cada vez mais intensivamente amparados pelo espírito de cooperação e pelos valores intercessórios.

Se o nosso passado espiritual é sombrio e doloroso, busquemos simplificá-lo, adquirindo dedicações verdadeiras, que nos auxiliem através da subida áspera da redenção. Se não temos hoje determinadas ligações com as riquezas da injustiça, tivemo-las, ontem, e faz-se imprescindível aproveitar o tempo para o nosso reajustamento individual perante a Justiça divina.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos traz, nessa mensagem, uma parábola que não foi selecionada por A. Kardec pra compor O Evangelho Segundo o Espiritismo. Contudo, se encontra no contexto do Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon) da obra acima citada. A Parábola do Empregado Infiel retrata uma situação em que o Administrador dos bens de um Senhor é pego em flagrante usurpando dos bens que deveria zelar (LUCAS, 16: 1 A 13). Esta passagem evangélica é concluida com a seguinte máxima cristã: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon” (Lucas, 16:13). Para se redimir pelo mal feito, ele procurou os devedores do seu Senhor e descontou parte da dívida dos devedores daquele.

Perdendo o emprego e podendo ficar na miséria, procurou ajudar a quem devia ao seu empregador, por ele roubado, para poder ter a quem pedir ajuda no futuro. De qualquer modo usou de uma justiça, ressarcindo o dinheiro roubado.

A. Kardec discute a questão da riqueza a partir de sua utilidade ao bem do próximo ou aquela construída, muitas vezes, prejudicando o semelhante, tomando como base diversas passagens evangélicas, que trazem a preocupação do Cristo em orientar sobre o bom uso da riqueza[1].

O Codificador da Doutrina Espírita ressalta que a riqueza tem uma utilidade providencial, porém alerta sobre os cuidados que devemos ter ao adquirí-la:

Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos (grifos nossos).

Devemos considerar que a riqueza material é um depósito que recebemos ou construímos, que, apesar de na possibilidade de termos, não a possuímos. Não é nossa, enquanto Espíritos, pois ao desencarnarmos, não levamos conosco pra o plano espiritual. Lá, não terá nenhuma serventia. Então, o desapego e/ou multiplicação deve ter um fim caritativo. Desse modo, granjeamos amigos.

Emmanuel, discute sobre a nossa autolibertação espiritual em Autolibertação (livro Fonte Viva (FEB)), refletida por nós. Nessa página, o autor espiritual nos convida a refletir: “Se desejas emancipar a alma das grilhetas escuras do "eu", começa o teu curso de autolibertação, aprendendo a viver "como possuindo tudo e nada tendo", "com todos e sem ninguém".

Assim, de tudo que temos e que sobra nos nossos bolsos pode ser usado pra nos quitarmos com o mau uso da riqueza nessa ou em vidas passadas.

Que saibamos fazer bem uso do que granjeamos, mesmo que tenha sido com o nosso esforço, mas nunca sozinho, pois as oportunidades são providenciadas pelo Pai, quando buscamos e batemos à porta[2] , e, a partir do achado, sempre contamos com pessoas que nunca soltam nossa mão, enquanto precisamos delas.

Sejamos bons depositários das riquezas que nos são dadas ou obtidas pelo nosso esforço, para que possamos, sempre, com justiça, não mais pra se redimir, ser um instrumento do Pai, do Cristo, nesse planeta que vivemos que é um mundo de expiações e de provas.[3]

Que Deus nos ajude.

Domício.

domingo, 21 de maio de 2023

MAGNETISMO PESSOAL

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MAGNETISMO PESSOAL

E toda a multidão procurava tocar-­lhe, porque saía dele uma virtude que os curava a todos.

                                                            Lucas (6:19).

Na atualidade, observamos toda uma plêiade de espiritualistas eminentes, espalhando conceitos relativos ao magnetismo pessoal, com tamanha estranheza, qual se estivéssemos perante verdadeira novidade do século XIX.

Tal serviço de investigação e divulgação dos poderes ocultos do homem representa valioso concurso na obra educativa do presente e do futuro, no entanto, é preciso lembrar que a edificação não é nova.

Jesus, em sua passagem pelo planeta, foi a sublimação individualizada do magnetismo pessoal, em sua expressão substancialmente divina. As criaturas disputavam­-lhe o encanto da presença, as multidões seguiam­-lhe os passos, tocadas de singular admiração. Quase toda gente buscava tocar­-lhe a vestidura. Dele emanavam irradiações de amor que neutralizavam moléstias recalcitrantes. Produzia o Mestre, espontaneamente, o clima de paz que alcançava quantos lhe gozavam a companhia.

Se pretendes, pois, um caminho mais fácil para a eclosão plena de tuas potencialidades psíquicas, é razoável aproveites a experiência que os orientadores terrestres te oferecem, nesse sentido, mas não te esqueças dos exemplos e das vivas demonstrações de Jesus.

Se intentas atrair, é imprescindível saber amar. Se desejas influência legítima na Terra, santifica­-te pela influência do Céu.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos faz refletir o quão é importante lembrar da passagem do Cristo pelo planeta, quando exalava amor, energias curativas que atraíam para Ele as pessoas que sofriam.

A sintonia que se estabelecia nas pessoas, a confiança que Ele depositava nas almas delas produzia uma fé no seu poder de mudar as coisas em prol da coletividade. Temos vários exemplos nos Evangelhos que retratam isso.

Especialmente, destaco uma passagem que apresenta a cura de uma mulher que tinha problema com seu fluxo de sangue (LUCAS, 8:43 a 48) [1].

É importante destacar os versículos 45 a 48, em que narrra que o simples fato dela tocar a veste de Jesus, o sangue estancou. Foi quando Jesus disse: “8:45 Disse Jesus: Quem tocou em mim? Negando todos, disse Pedro: Comandante, as turbas te comprimem e espremem. 8:46 Disse Jesus: Alguém me tocou, pois eu percebi um poder (que) saiu de mim. [...] 8:48 Disse a ela: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz!” (grifos nossos).

Então, o magnetismo pessoal do Cristo era muito elevado. Como diz Emmanuel, nesta mensagem: “Jesus, em sua passagem pelo planeta, foi a sublimação individualizada do magnetismo pessoal, em sua expressão substancialmente divina”.

Resta refletir sobre a obtenção do dom da cura e as condições pra que isso se desenvolva, tendo em vista seu benefício tanto pra quem é favorecido pela cura, como pra quem é o médium de cura.

Emmanuel deixa claro que a sintonia com o plano espiritual superior é imprescindível para que essa ação se dê com eficácia:

Se pretendes, pois, um caminho mais fácil para a eclosão plena de tuas potencialidades psíquicas, é razoável aproveites a experiência que os orientadores terrestres te oferecem, nesse sentido, mas não te esqueças dos exemplos e das vivas demonstrações de Jesus. Se intentas atrair, é imprescindível saber amar. Se desejas influência legítima na Terra, santifica­te pela influência do Céu.

Por sua vez, Allan Kardec é taxativo quando ao uso da mediunidade de cura. Pois, o Cristo foi bem claro quanto à gratuidade de seu uso: “Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido” (MATEUS, 10:8). Conforme o Codificador:

A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.[2]

Então, devemos ter em mente que todos e todas têm um magnetismo pessoal que deve usar, desinteressadamente, em favor de quem está precisando. Nos Centros Espíritas, qualquer pessoa com estudo certificado pelos dirigentes, pode e deve aplicar passes magnéticos em quem procura a Casa Espírita pra aliviar suas dores.

Que possamos ser altruístas quanto ao nosso potencial de cura, pois de outro modo, seremos cobrados por uma conduta anti-cristã.

Que nos ajude.

Domício.

[1] “8:43 E uma mulher, que estava com um fluxo de sangue por doze anos, a qual, {tendo gasto toda subsistência com médicos), não pôde ser curada por ninguém. 8:44 Aproximando-se por trás, tocou na orla da sua veste , e logo estancou o seu fluxo de sangue. 8:45 Disse Jesus: Quem tocou em mim? Negando todos, disse Pedro: Comandante, as turbas te comprimem e espremem. 8:46 Disse Jesus: Alguém me tocou, pois eu percebi um poder (que) saiu de mim. [...] Vendo a mulher que não se ocultara, veio trêmula e, prosternando-se diante dele, relatou, diante de todo o povo, por qual razão tocou nele e como foi curada imediatamente. 8:48 Disse a ela: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz! (DUTRA, 2013, p. 294-295).
[2]
Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVI, Item 10.

domingo, 14 de maio de 2023

TRÊS IMPERATIVOS

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TRÊS IMPERATIVOS

E eu vos digo a vós: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.

Jesus (LUCAS, 11:9).

Pedi, buscai, batei...

Estes três imperativos da recomendação de Jesus não foram  enunciados sem um sentido especial.

No emaranhado de lutas e débitos da experiência terrestre, é imprescindível que o homem aprenda a pedir caminhos de libertação da antiga cadeia  de convenções sufocantes, preconceitos estéreis, dedicações vazias e hábitos cristalizados. É necessário desejar com força e decisão a saída do escuro cipoal em que a maioria das criaturas perdeu a visão dos interesses eternos.

Logo após, é imprescindível buscar.

A procura constitui-se de esforço seletivo. O campo jaz repleto de solicitações inferiores, algumas delas recamadas de sugestões brilhantes. É indispensável localizar a ação digna e santificadora. Muitos perseguem miragens perigosas, à maneira das mariposas que se apaixonam pela claridade de um incêndio. Chegam de longe, acercam-se das chamas e consomem a bênção do corpo.

É imperativo aprender a buscar o bem legítimo.

Estabelecido o roteiro edificante, é chegado o momento de bater à porta da edificação; sem o martelo do esforço metódico e sem o buril da boa-vontade, é muito difícil transformar os recursos da vida carnal em obras luminosas de arte divina, com vistas à felicidade espiritual e ao amor eterno.

Não bastará, portanto, rogar sem rumo, procurar sem exame e agir sem objetivo elevado.

Peçamos ao Senhor nossa libertação da animalidade primitivista, busquemos a espiritualidade sublime e trabalhemos por nossa localização dentro dela, a fim de converter-nos em fiéis instrumentos da divina Vontade.

Pedi, buscai, batei!... Esta trilogia de Jesus reveste-se de especial significação para os aprendizes do Evangelho, em todos os tempos.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos dá um roteiro significativo pra cumprirmos a exortação do Cristo quanto às atitudes que nós devemos ter pra fazermos o mais produtivo possível o nosso caminhar, objetivando o nosso desenvolvimento espiritual.

Antes, como discutimos na mensagem anterior a esta, devemos aprender a pedir. Emmanuel, nesta, nos conclama que, antes de tudo, devemos aprender “[...] a pedir caminhos de libertação da antiga cadeia de convenções sufocantes, preconceitos estéreis, dedicações vazias e hábitos cristalizados”. O Cristo nos dá a certeza de que se pedirmos, obteremos (Marcos, 11:24.)[1]

Emmanuel, nesse caso, corrobora com A. Kardec, quando este nos ensina que não é qualquer pedido que Deus atenderá àquele que pede:

O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço.[2] 

Assim, em todo desejo nobre de nossas vidas em que pedimos ajuda dos Céus, precisamos fazer a nossa parte: buscar aquilo que pode fazer a ponte entre nós e Deus, pra recebermos o máximo possível, conforme nosso merecimento. Emmanuel, sobre isso, nesta mensagem, nos diz: “É imperativo aprender a buscar o bem legítimo”.

Tendo pedido e buscado, eis que a porta condizente com os processos anteriores de pedir e buscar, a porta mais digna, surgirá à nossa frente. Devemos bater. Como é a porta certa, ela se abrirá, pelo nosso merecimento. Mas como Emmanuel nos diz, essa será a “[...] porta da edificação [...]”.

Que saibamos, então, manter o desejo firme de seguir o nosso próprio desejo de evoluir, aproveitando todo os processos anteriores já alcançado.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes. (Marcos, 11:24).
[2]
Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 7.

domingo, 7 de maio de 2023

ORAÇÃO

 

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ORAÇÃO

Perseverai em oração, velando nela com ação de graças.

Paulo (COLOSSENSES, 4:2).

Muitos crentes estimariam movimentar a prece, qual se mobiliza uma vassoura ou um martelo.

Exigem resultados imediatos, por desconhecerem qualquer esforço preparatório. Outros perseveram na oração, mantendo-­se, todavia, angustiados e espantadiços. Desgastam­-se e consomem valiosas energias nas aflições injustificáveis. Enxergam somente a maldade e a treva e nunca se dignam examinar o tenro broto da semente divina ou a possibilidade próxima ou remota do bem.

Encarceram-­se no “lado mau” e perdem, por vezes, uma existência inteira, sem qualquer propósito de se transferirem para o ‘‘lado bom’’.

Que probabilidade de êxito se reservará ao necessitado que formula uma solicitação em gritaria, com evidentes sintomas de desequilíbrio? O concessionário sensato, de início, adiará a solução, aguardando, prudente, que a serenidade volte ao pedinte.

A palavra de Paulo é clara, nesse sentido.

É indispensável persistir na oração, velando nesse trabalho com ação de graças. E forçoso é reconhecer que louvar não é apenas pronunciar votos brilhantes. É também alegrar­se em pleno combate pela vitória do bem, agradecendo ao Senhor os motivos de sacrifício e sofrimento, buscando as vantagens que a adversidade e o trabalho nos trouxeram ao espírito.

Peçamos a Jesus o dom da paz e da alegria, mas não nos esqueçamos de glorificar­lhe os sublimes desígnios, toda vez que a sua vontade misericordiosa e justa entra em choque com os nossos propósitos inferiores. E estejamos convencidos de que oração intempestiva, constituída de pensamentos desesperados e descabidas exigências, destina­-se ao chão renovador qual acontece à flor improdutiva que o vento leva.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos oferece apontamentos sobre a importância da oração, como também o faz em Firmeza e Constância[1]. Contudo, não deixa de nos alertar sobre como devemos nos comportar em momentos das preces. Esta mensagem e a citada, anteriormente nos reporta aos ensinamentos de Jesus Cristo e dos Espíritos Superiores, quando da Codificação Espírita.

Lembremos que o Cristo se preocupou em nos ensinar sobre como devíamos nos comportar ao orarmos, em Mateus (6:5 a 8), Marcos (11:25 e 26) e Lucas (18:9 a 14).[2]

A. Kardec, por sua vez, sobre esses trechos destacados de três evangelistas, nos faz refletir sobre a justeza das palavras de Jesus Cristo:

Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz Ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau. (Cap. X, itens 7 e 8.)[3]

Então devemos refletir sobre a qualidade e o modo de fazermos nossas preces para que ela seja eficaz e inteligível. Destacamos a seguir, de modo recortado, como deve ser nossa “Maneira de Orar”, segundo o Espírito V. Monod: 

O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como qualquer dever? A prece do cristão, do espírita, seja qual for o culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da majestade divina com humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até aquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os seus guias, para haurir, no contato com eles, mais força e perseverança. [...] A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. [..] Deveis orar incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles.[4]

Então, Emmanuel, nesta mensagem e em Firmeza e Constância corrobora com os ditados grafados em O Evangelho Segundo o Espiritismo quanto à constância, ao equilíbrio e às motivações que devemos ter para orarmos. Destacadamente, nos lembra que devemos estar “[...] convencidos de que oração intempestiva, constituída de pensamentos desesperados e descabidas exigências, destina­-se ao chão renovador qual acontece à flor improdutiva que o vento leva”.

Que Deus nos ajude a não perdermos de vista todos esses ensinamentos oferecidos pela Doutrina Espírita e por Emmanuel, nesta mensagem e em Firmeza e Constância, de modo isolado.

Domício.


[1] Vide nossa reflexão em Firmeza e Constância, mensagem de Emmanuel do livro Fonte Viva.
[2] Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que, afetadamente, oram de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa. Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que serão atendidos. Não vos torneis semelhantes a eles, porque vosso Pai sabe do que é que tendes necessidade, antes que lho peçais. (Mateus, 6:5 a 8); Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, também não vos perdoará os pecados. (Marcos, 11:25 e 26); Também disse esta parábola a alguns que punham a sua confiança em si mesmos, como justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, publicano o outro. O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: “Meu Deus, rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo de tudo o que possuo.” O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava, sequer, erguer os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador.” Declaro-vos que este voltou para a sua casa justificado, e o outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado. (Lucas, 18:9 a 14).
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 4.
[4]
Vide na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 22.