domingo, 27 de novembro de 2022

INTENTAR E AGIR

 

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INTENTAR E AGIR

E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente, mas antes seja sarado.

Paulo (HEBREUS, 12:13).

O homem bem-­intencionado refletirá intensamente em melhores caminhos, alimentando ideais superiores e inclinando­-se à bondade e à justiça.

Convenhamos, porém, que a boa intenção passará sem maior  benefício, caso não se ligue à esfera das realidades imediatas na ação reta.

É necessário meditar no bem; todavia, é imprescindível executá-­lo.

A Providência divina cerca a estrada das criaturas com o material de edificação eterna, possibilitando-­lhes a construção das “veredas direitas” a que Paulo de Tarso se reporta. Semelhante realização por parte do discípulo é indispensável, porquanto, em torno de seus caminhos seguem os que manquejam. Os prisioneiros da ignorância e da má-­fé arrastam­-se, como podem, nas margens do serviço de ordem superior e, de quando em quando, se aproximam dos servidores fiéis do Cristo, propondo-­lhes medidas e negócios que se lhes ajustem à mentalidade inferior. Somente aqueles que constroem estradas retas escapam­-lhes aos assaltos sutis, defendendo­-se e oferecendo-­lhes também novas bases a fim de que se não desviem inteiramente dos divinos Desígnios.

Aplica sempre as tuas boas intenções, no plano das realidades práticas, para que as tuas boas obras se iluminem de amor e para que o teu amor não se faça órfão de boas obras. Faze isso por ti, que necessitas de elevação, e por aqueles que ainda  te procuram manquejando.

NOSSA REFLEXÃO

Somos seres sociais[1]. Logo, nunca caminhamos sozinhos. Sempre nos ladeiam outros seres afinados conosco ou não. Desse modo, podemos perguntar o que fazemos em favor de nós, num caminho que não é só nosso, para nos beneficiar e aos companheiros e companheiras de vereda?

Se somos detentores de uma filosofia e religião cristã, como a Espírita, como procedemos no caminho lotados de outros seres humanos, tão imperfeitos quanto nós?

O convite de Paulo é muito importante, pois ao nos identificarmos com o Espiritismo, estaremos apresentando uma possibilidade de atitude em relação a si mesmos e ao próximo.

Perguntará para si ou para outra pessoa, aquele que nos observa: qual a religião dele? Segundo Dalai Lama, em conversa com Leonardo Boff, “a melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor.”[2]

Então, devemos ser um bom espírita ou bom católico ou bom evangélico ou um bom umbandista, ou... devemos ser um bom religioso. Se formos ateus, devemos ser caridosos. A caridade, então, passa a ser a melhor religião.

Não devemos defender um rótulo religioso, mas uma prática direcionada à caridade.

Quanto a nós espíritas, devemos ser bons espíritas, como A. Kardec preconiza, depois de descrever o homem de bem: [3]

Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.[4]

Então, antes que pensemos em ser um bom ou uma boa espírita, devemos pensar em ser uma pessoa de bem, verdadeiramente de bem ou seja, conforme o Codificador do Espiritismo: “O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”.

Esse movimento de toda pessoa religiosa, de querer ser o melhor a cada dia, pede a ela que tenha vigilância quanto a quem cruza o caminho, pois ao cruzarmos com alguém a influência de um para com a outra pessoa é mútua. Deve, então prevalecer a influência do bem. É o que compreendemos com a orientação de Emmanuel, nesta mensagem, quanto aos descuidados do Espírito que cruzam com quem quer se melhorar a cada dia: “Somente aqueles que constroem estradas retas escapam-­lhes aos assaltos sutis, defendendo­-se e oferecendo-­lhes também novas bases a fim de que se não desviem inteiramente dos divinos Desígnios.”

Desse modo, nos ajudamos e ajudamos os(as) companheiros(as) do caminho.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] O Livro dos Espíritos, Questão 766: A vida social está na Natureza? “Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”
[2] Vide em https://www.pensador.com/frase/MjA1OTAyMw/
[3] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 3.
[4]
Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4.

domingo, 20 de novembro de 2022

E O ADÚLTERO?

 

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E O ADÚLTERO?

E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.

(JOÃO, 8:4).

O caso da pecadora apresentada pela multidão a Jesus envolve considerações muito significativas, referentemente ao impulso do homem para ver o mal nos semelhantes, sem enxerga-lo em si mesmo.

Entre as reflexões que a narrativa sugere, identificamos a do errôneo conceito de adultério unilateral.

Se a infeliz fora encontrada em pleno delito, onde se recolhera o adúltero que não foi trazido a julgamento pelo cuidado popular? Seria ela a única responsável? Se existia uma chaga no organismo coletivo, requisitando intervenção a fim de ser extirpada, em que furna se ocultava aquele que ajudava a fazê-la?

A atitude do Mestre, naquela hora, caracterizou-se por infinita sabedoria e inexcedível amor. Jesus não podia centralizar o peso da culpa na mulher desventurada e, deixando perceber o erro geral, indagou dos que se achavam sem pecado.

O grande e espontâneo silêncio, que então se fez, constituiu resposta mais eloquente que qualquer declaração verbal.

Ao lado da mulher adúltera permaneciam também os homens pervertidos, que se retiraram envergonhados.

O homem e a mulher surgem no mundo com tarefas específicas que se integram, contudo, num trabalho essencialmente uno, dentro do plano da evolução universal. No capítulo das experiências inferiores, um não cai sem o outro, porque a ambos foi concedido igual ensejo de santificar.

Se as mulheres desviadas da elevada missão que lhes cabe prosseguem sob triste destaque no caminho social, é que os adúlteros continuam ausentes da hora de juízo, tanto quanto no momento da célebre sugestão de Jesus.

NOSSA REFLEXÃO

O adultério de um casal é uma atitude repreensível, tanto para o homem como para a mulher, porque um não comete sem a conivência da outra ou do outro. Salvo o adultério em pensamento.

Esta atitude de não cometer o adultério deve estar gravada em nossa mente, pois ela já se encontra entre os 10 Mandamentos de Moisés. Todavia, o Cristo nos relembrou este ato repreensível até em pensamento. Isto equivale a dizer que se o pensamento não for colocado em prática por falta de oportunidade, assim, mesmo, o adultério foi cometido. A. Kardec nos explica melhor: Se uma pessoa tem um mau pensamento, tenta colocá-lo em prática e se “[...] não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse”. [1]

Como A. Kardec coloca, sobre esta temática, um mau pensamento é sinal de imperfeição. Aquele que o repele ou não o alimenta, “[...] sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória”.[2]

Ainda sobre o adultério, Emmanuel nos faz lembrar da passagem da mulher adúltera (JOÃO, 8: 3 a 11) que é um chamamento a todos e todas sobre a co-participação em atos repreensíveis perante a Lei Deus. Conforme a Lei Moisaica, a mulher deveria ser lapidada. Nessa hora, Jesus pergunta sobre quem participou do ato da mulher ou, de outra maneira, perguntou quem não tinha pecado. O silencio foi a resposta e um a um foi embora. Contudo, Jesus não aprovou o ato da mulher, dizendo-lhe: “Vai-te e de futuro não tornes a pecar.” (João, 8:11.).

Esta passagem nos remete à indulgência que devemos ter para com o (a) próximo (a). Quando o Cristo disse aos homens:“Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado”, Ele quis dizer “[...] que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.[3]

Desse modo, devemos tanto repreender nossos maus pensamentos, como ser indulgentes com os pensamentos e atos dos(as) nossos (as) semelhantes, sem, contudo, ser convivente com o mau proceder de ninguém.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide dissertação de A. Kaardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII, Item 7.
[2] Idem.
[3] A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X. Item 13.

domingo, 13 de novembro de 2022

LEVANTANDO MÃOS SANTAS

 

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                                              LEVANTANDO MÃOS SANTAS                            

Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.

Paulo (I TIMÓTEO, 2:8).

Neste trecho da primeira epístola de Paulo a Timóteo, recebemos preciosa recomendação de serviço.

Alguns aprendizes desejarão lobrigar no texto apenas uma exortação às atitudes de louvor; no entanto, o convertido de Damasco esclarece que devemos levantar mãos santas em todo lugar, sem ira nem contenda.

Não se referia Paulo ao ato de mãos­postas que a criatura prefere sempre levar a efeito, em determinados círculos religiosos, onde, pelo artificialismo respeitável da situação, não se justificam irritações ou disputas visíveis. O apóstolo menciona a ação honesta e edificante do homem que colabora com a Providência divina e reporta­se ao trabalho de cada dia, que se verifica nas mais recônditas regiões do globo.

Lendo­lhe o conselho, é razoável recordar que o homem, no esforço individualista, invariavelmente ergue as mãos, na tarefa diuturna. Se administra, permanece indicando caminhos; se participa de labores intelectuais, empunha a pena; se opera no campo, guiará o instrumento agrícola. Paulo acrescenta, porém, que essas mãos devem ser santificadas, depreendendo­se daí que muita gente move os braços na obra terrestre, salientando­se, todavia, a conveniência de se ajuizar da finalidade e do conteúdo da ação despendida.

Se desejas aplicar o raciocínio a ti próprio, repara, antes de tudo, se a tua realização vai prosseguindo sem cólera destrutiva e sem demandas inúteis.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel esclarece sobre o conteúdo implícito (que vivifica) da mensagem de Paulo e não sobre a letra que mata, contida nela (Paulo 2, Coríntios, 3: 6).

É muito comum fazermos do que lemos, de modo simplificado, uma justificativa para as nossas ações, não se atendo ao significado que deve ser reelaborado, contextualizando o texto.

Há quem defenda que Jesus é a favor do armamento, por que ele disse que não veio “[...[ trazer a paz, mas a espada; [...]” (MATEUS, 10:34).[1]

Devemos ter o cuidado de não materializar, mecanizar as mensagens evangélicas ou apostólicas ao nosso bel prazer.

No caso dessa mensagem, ora refletida, Emmanuel destaca que “alguns aprendizes desejarão lobrigar no texto apenas uma exortação às atitudes de louvor;”. No entanto, a direção das palavras de Paulo é para os nossos atos do dia-a-dia, valorizando mais a prática que constrói para o bem coletivo e não o contrário.

Ao viver no mundo, devemos nos atentar como são nossas ações. Um Espírito Protetor nos ajuda a pensar sobre isso: “Em tudo o que fizerdes, remontai à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus”.[2]

Que consigamos agir sempre com o espírito de caridade, como um homem de bem, na acepção de A. Kardec, que apresenta suas características, para, então, em seguida, desenhar o perfil dos bons espíritas.[3]

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, Item 11.
[2] Vide a íntegra da mensagem intitulada “O homem no mundo” em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 10.
[3]
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Itens 3 e 4.

domingo, 6 de novembro de 2022

CONFORME O AMOR

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CONFORME O AMOR

Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem o Cristo morreu.

Paulo (ROMANOS, 14:15).

Preconceitos dogmáticos fazem vítimas, em todos os tempos, e os herdeiros do Cristianismo não faltaram nesse concerto de incompreensão.

Ainda hoje, os processos sectários, embora menos rigorosos nas manifestações, continuam ferindo corações e menosprezando sentimentos.

Noutra época, os discípulos procedentes do Judaísmo provocavam violentos atritos, em face das tradições referentes à comida impura; agora não temos o problema das carnes sacrificadas no Templo; entretanto, novos formalismos religiosos substituíram os velhos motivos de polêmica e discordância.

Há sacerdotes que só se sentem missionários em celebrando os ofícios que lhes competem e crentes que não entendem a meditação e o serviço espiritualizante senão em horas domingueiras, com a prece em exclusiva atitude corporal.

O discípulo que já conseguiu sobrepor­se a semelhantes barreiras deve cooperar em silêncio para estender os benefícios de sua vitória.

Constituiria absurdo transpor o obstáculo e continuar, deliberadamente, nas demonstrações puramente convencionalistas, mas seria também ausência de caridade atirar impropérios aos pobres irmãos que ainda se encontram em angustiosos conflitos mentais por encontrarem a si mesmo, dentro da idéia augusta de Deus.

Quando reparares algum amigo prisioneiro dessas ilusões, recorda que o Mestre foi igualmente à cruz por causa dele. Situa a bondade à frente da análise e a tua observação será construtiva e santificante. Toda vez que houver compreensão no cântaro de tua alma, encontrarás infinitos recursos para auxiliar, amar e servir.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel traz pra a nós a reflexão sobre os formalismos religiosos que segregam uma massa de pessoas religiosas que não correspondem a eles.

Há duas passagens evangélicas (MATEUS (15:1 a 20); LUCAS (11:37 a 40)) que nos trazem momentos em que Jesus foi questionado sobre seus discípilos, ou ele, mesmo, não lavarem as mãos antes da ceia. Estes momentos serviram para Jesus, de forma contundente, explanar sobre a necessidade da pureza do coração antes às formalidades cerimoniais ou habituais na vida comum e necessária, mesmo, no sentido da higiene, como é o caso de lavar as mãos antes de tomar as refeições.

Porém, isto não deve servir, religiosamente, de discriminação dessa ou daquela denominação religiosa.

Allan Kardec, expõe sobre isso:

Como fosse muito mais fácil praticar atos exteriores, do que se reformar moralmente, lavar as mãos do que expurgar o coração, iludiram-se a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se conformarem com aquelas práticas, conservando-se tais quais eram, visto se lhes ter ensinado que Deus não exigia mais do que isso. Daí o haver dito o profeta: É em vão que este povo me honra de lábios, ensinando máximas e ordenações humanas.[1]

Aqui, temos uma reflexão sobre o que importa mais para a nossa ascensão espiritual: a pureza do coração.

Então, a religião deve ter o objetivo de tornar quem a segue uma pessoa melhor. Caso ela, contrariamente, conforme A. Kardec, a utilize para “[...] apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em seu princípio”.[2]

Nesse contexto, Emmanuel, nessa mensagem, nos orienta, caso já tenhamos superado esses formalismos, pra não nos insurgirmos contra outros que não superaram as formalidades estabelecidas por líderes religiosos de outras religiões. Ou seja, estas não devem ser motivos de embates entre cristãos de denominações diferentes.

O respeito à religião do próximo é um ato de caridade e Paulo nos admoesta quanto a qualquer atitude nossa em relação ao próximo, se o motivo é algo que contraria o ensinamento do Cristo. No Brasil, temos um decreto presidencial que autentica a liberdade religiosa. Logo, a liberdade e o respeito à religião dos outros é amparada evangélico e judicialmente.

Então, tenhamos em mente que o que importa, mais, espiritualmente falando, em nossas vidas, é a prática da caridade, sem desqualificar as medidas científicas que nos orientam sobre como devemos nos portar diariamente, pra não nos adoecermos. Ou seja, como a Doutrina preconiza, a Religião deve estar consonante com a Ciência e a Filosofia.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII (Bem-aventurados os que têm puro o coração), Item 10.
[2]
Idem.