domingo, 20 de novembro de 2022

E O ADÚLTERO?

 

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E O ADÚLTERO?

E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.

(JOÃO, 8:4).

O caso da pecadora apresentada pela multidão a Jesus envolve considerações muito significativas, referentemente ao impulso do homem para ver o mal nos semelhantes, sem enxerga-lo em si mesmo.

Entre as reflexões que a narrativa sugere, identificamos a do errôneo conceito de adultério unilateral.

Se a infeliz fora encontrada em pleno delito, onde se recolhera o adúltero que não foi trazido a julgamento pelo cuidado popular? Seria ela a única responsável? Se existia uma chaga no organismo coletivo, requisitando intervenção a fim de ser extirpada, em que furna se ocultava aquele que ajudava a fazê-la?

A atitude do Mestre, naquela hora, caracterizou-se por infinita sabedoria e inexcedível amor. Jesus não podia centralizar o peso da culpa na mulher desventurada e, deixando perceber o erro geral, indagou dos que se achavam sem pecado.

O grande e espontâneo silêncio, que então se fez, constituiu resposta mais eloquente que qualquer declaração verbal.

Ao lado da mulher adúltera permaneciam também os homens pervertidos, que se retiraram envergonhados.

O homem e a mulher surgem no mundo com tarefas específicas que se integram, contudo, num trabalho essencialmente uno, dentro do plano da evolução universal. No capítulo das experiências inferiores, um não cai sem o outro, porque a ambos foi concedido igual ensejo de santificar.

Se as mulheres desviadas da elevada missão que lhes cabe prosseguem sob triste destaque no caminho social, é que os adúlteros continuam ausentes da hora de juízo, tanto quanto no momento da célebre sugestão de Jesus.

NOSSA REFLEXÃO

O adultério de um casal é uma atitude repreensível, tanto para o homem como para a mulher, porque um não comete sem a conivência da outra ou do outro. Salvo o adultério em pensamento.

Esta atitude de não cometer o adultério deve estar gravada em nossa mente, pois ela já se encontra entre os 10 Mandamentos de Moisés. Todavia, o Cristo nos relembrou este ato repreensível até em pensamento. Isto equivale a dizer que se o pensamento não for colocado em prática por falta de oportunidade, assim, mesmo, o adultério foi cometido. A. Kardec nos explica melhor: Se uma pessoa tem um mau pensamento, tenta colocá-lo em prática e se “[...] não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse”. [1]

Como A. Kardec coloca, sobre esta temática, um mau pensamento é sinal de imperfeição. Aquele que o repele ou não o alimenta, “[...] sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória”.[2]

Ainda sobre o adultério, Emmanuel nos faz lembrar da passagem da mulher adúltera (JOÃO, 8: 3 a 11) que é um chamamento a todos e todas sobre a co-participação em atos repreensíveis perante a Lei Deus. Conforme a Lei Moisaica, a mulher deveria ser lapidada. Nessa hora, Jesus pergunta sobre quem participou do ato da mulher ou, de outra maneira, perguntou quem não tinha pecado. O silencio foi a resposta e um a um foi embora. Contudo, Jesus não aprovou o ato da mulher, dizendo-lhe: “Vai-te e de futuro não tornes a pecar.” (João, 8:11.).

Esta passagem nos remete à indulgência que devemos ter para com o (a) próximo (a). Quando o Cristo disse aos homens:“Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado”, Ele quis dizer “[...] que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.[3]

Desse modo, devemos tanto repreender nossos maus pensamentos, como ser indulgentes com os pensamentos e atos dos(as) nossos (as) semelhantes, sem, contudo, ser convivente com o mau proceder de ninguém.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide dissertação de A. Kaardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII, Item 7.
[2] Idem.
[3] A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X. Item 13.

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