domingo, 20 de fevereiro de 2022

VELHO ARGUMENTO

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VELHO ARGUMENTO

E aduzindo ele isto em sua defesa, disse Festo em alta voz: – Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar.

Atos (26:24).

É muito comum lançarem aos discípulos do Evangelho a falsa acusação de loucos, que lhes é imputada pelos círculos cientificistas do século.

O argumento é velhíssimo por parte de quantos pretendem fugir à verdade, complacentes com os próprios erros.

Há trabalhadores que perdem valioso tempo, lamentando que a multidão os classifique como desequilibrados. Isto não constitui razão para contendas estéreis.

Muitas vezes, o próprio Mestre foi interpretado por demente e os apóstolos não receberam outra definição.

Numa das últimas defesas, vemos o valoroso amigo da gentilidade, ante a Corte Provincial de Cesareia, proclamando as verdades imortais de Cristo Jesus. A assembleia toca-se de imenso assombro. Aquela palavra franca e nobre estarrece os ouvintes. É aí que Pórcio Festo, na qualidade de chefe dos convidados, delibera quebrar a vibração de espanto que domina o ambiente. Antes, porém, de fazê-lo, o argucioso romano considerou que seria preciso justificar-se em bases sólidas. Como acusar, no entanto, o grande convertido de Damasco, se ele, Festo, lhe conhecia o caráter íntegro, a sincera humildade, a paciência sublime e o ardoroso espírito de sacrifício? Lembra-se, então, das “muitas letras” e Paulo é chamado louco pela ciência divina de que dava testemunho.

Recorda, pois, o abnegado batalhador e não dispenses apreço às falsas considerações de quantos te provoquem ao abandono da verdade. O mal é incompatível com o bem e por “poucas letras” ou por “muitas”, desde que te alistes entre os aprendizes de Jesus, não te faltará o mundo inferior com o sarcasmo e a perseguição.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos lembra um momento, que dentre outros, mostra a eloquência de um Doutor da Lei mosaica que se rendeu à Boa Nova. Seu passado, como um conhecedor das Leis e de caráter humilde, como Festo ratifica, foi sua defesa em vários momentos, sem contudo o livrar de açoites públicos. Na ocasião, Paulo, lembra de sua experiência como Doutor da Lei, fiel seguidor da Lei Mosaica, que lhe instituía o poder de perseguir os cristãos, inclusive votando pela morte deles, como fez em relação à Estevão, irmã de Abigail, sua noiva.[1]

A perseguição aos seguidores do Cristo foi prevista por Ele, quando, assim, se expressou:

Bem-aventurados os famintos de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Ditosos sereis, quando os homens vos carregarem de maldições, vos perseguirem e falsamente disserem contra vós toda espécie de mal, por minha causa. Rejubilai-vos, então, porque grande recompensa vos está reservada nos céus, pois assim perseguiram eles os profetas enviados antes de vós. (Mateus, 5:6 e 10 a 12. Grifos nossos).

Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode perder alma e corpo no inferno. (Mateus, 10:28.)

A. Kardec, assim se expressou, sobre isso, se reportando aos seguidores do Espiritismo:

Espíritas, não vos aflijais com os golpes que vos desfiram, pois eles provam que estais com a verdade. Se assim não fosse, deixar-vos-iam tranquilos e não vos procurariam ferir. Constitui uma prova para a vossa fé, porquanto é pela vossa coragem, pela vossa resignação e pela vossa paciência que Deus vos reconhecerá entre os seus servidores fiéis, a cuja contagem Ele hoje procede, para dar a cada um a parte que lhe toca, segundo suas obras. A exemplo dos primeiros cristãos, carregai com altivez a vossa cruz. [2]

 

Passados 72 anos depois do lançamento do Pão Nosso de Emmanuel, por Chico Xavier, ainda há preconceitos contra a religiosidade, mas cada vez mais a Religião está sendo aceita pelo meio científico e religiosos de maneira em geral.

Sobre esta “aliança” entre a Ciência e a Religião, A. Kardec proferiu:

A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.[3]

 

Então, mesmo sem o espírito de proselitismo, que possamos dar sempre o testemunho de sintonia entre o que propagamos e o que fazemos em nome de Jesus Cristo. Sejamos espontâneos, de preferência, quando formos convidados a falar sobre o nosso conhecimento à respeito da Doutrina Espírita, mas sempre respeitosos com as outras denominações religiosas.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide esta História em Paulo e Estêvão de Emmanuel (Chico Xavier).

[2] Vide explanação de A. Kardec sobre isso, quando faz o prefácio à prece pelos inimigos do Espiritismo, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII, item 51 (Coletânea de Preces Espíritas).

[3] Vide em: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I, item 8.

2 comentários:

  1. Obrigado pela reflexão, professor Domício. Bom dia.

    Penso que, em muitas situações, o melhor testemunho de sintonia entre nós e o Mestre seja a habilidade de beber a "água da paz" e silenciar amorosamente, ou seja, com a preocupação e a vigilância de combater os maus sentimentos albergados no coração, no esforço de enxergar o próximo como um espírito que, assim com eu, está aqui em aprendizado e reabilitação. Do contrário, nos rendemos ao infeliz hábito , cristalizado, de julgar e condenar. Não é fácil, mas nunca estamos desamparados pelos mensageiros do Pai!

    Abraço fraterno.

    Marcelo (Brasília-DF)

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  2. Correto, Marcelo!
    Na verdade, não é o conhecimento que nos identifica com o Cristo, mas a aplicação dele em nossa vida. Vendo o próximo como um semelhante, fica mais fácil ajudar, pois, assim, não ajudaremos sem julgá-lo.
    Quando for necessário, estando dispostos a colaborar sem espírito de vaidade, os mensageiros nos utilizarão.
    Não é dizendo "Senhor, Senhor" que agradaremos o Cristo. Ele o disse (Mateus, 7:21 a 23). Este recado é pra todos os que são palestrantes espíritas, pastores e padres.

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