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E OS FINS?
Mas nem todas as coisas edificam.
Paulo (I CORÍNTIOS,
10:23).
Sempre
existiram homens indefiníveis que, se não fizeram mal a ninguém, igualmente não
beneficiaram a pessoa alguma.
Examinadas
nesse mesmo prisma, as coisas do caminho precisam interpretação sensata, para
que se não percam na inutilidade.
É lícito ao
homem dedicar-se à literatura ou aos negócios honestos do mundo e ninguém
poderá contestar o caráter louvável dos que escolhem conscientemente a linha de
ação individual no serviço útil. Entretanto, será justo conhecer os fins
daquele que escreve ou os propósitos de quem negocia. De que valerá ao primeiro
a produção de longas obras, cheias de lavores verbais e de arroubos teóricos,
se as suas palavras permanecem vazias de pensamento construtivo para o plano
eterno da alma? Em que aproveitará ao comerciante a fortuna imensa, conquistada
através da operosidade e do cálculo, quando vive estagnada nos cofres,
aguardando os desvarios dos descendentes? Em ambas as situações, não se poderia
dizer que tais homens cogitavam de realizações ilícitas; todavia, perderam tempo
precioso, esquecendo que as menores coisas trazem finalidade edificante.
O
trabalhador cônscio das responsabilidades que lhe competem não se desvia dos
caminhos retos.
Há muita
aflição e amargura nas oficinas do aperfeiçoamento terrestre, porque os seus
servidores cuidam, antes de tudo, dos ganhos de ordem material, olvidando os
fins a que se destinam. Enquanto isso ocorre, intensificam-se projetos e
experimentos, mas falta sempre a edificação justa e necessária.
NOSSA REFLEXÃO
Nas acepção
espírita, “toda ocupação útil é trabalho”.[1]
Portanto, é muito louvável, cada um(a) de nós fazermos um trabalho honesto que
vise a nossa manutenção material do corpo, além daquelas relativas à educação,
saúde e entretenimento para nós e daqueles que depende de nós, familiarmente.
Entretanto,
é mais louvável se o fruto desta manutenção seja ampliada visando o bem estar,
material ou psicológico, de nossos semelhantes extra família.
Quando
recebemos as oportunidades de nos formar educacionalmente e materialmente,
estamos construindo oportunidades de ser um instrumento de realização
humanitária. Obtendo isto, se nos colocamos à disposição de fazer o bem, é por
que temos elementos para tanto, como na passagem evangélica da multiplicação
dos pães (MARCOS, 8:1 a10) que Emmanuel a interpreta em Fonte Viva (133 – Que tendes?)
de cuja interpretação extraímos um trecho: “Em qualquer terreno de nossas
realizações para a vida mais alta, apresentemos a Jesus algumas reduzidas
migalhas de esforço próprio e estejamos convictos de que o Senhor fará o resto”[2].
Ser honesto,
trabalhador e respeitador das leis é o mínimo que devemos ser. Contudo, nossa
existência não foi programada tão somente para as nossas necessidades de subsistência
e relação social correta. Não estaremos fazendo mal algum. Mas isto não basta.
Segundo o Espírito Paulo, o apóstolo,
[...] uma virtude negativa
não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre
se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes
a inércia e a despreocupação”.[3]
Por sua vez,
A. Kardec ao interpretar a passagem evangélica relativa ao jovem rico que recusou
a dispor de todos os seus bens para obter a vida eterna (Mateus,
19:16 a 24; Lucas, 18:18 a 25; Marcos, 10:17 a 25), dissertou:
O que Jesus lhe propunha era uma prova
decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu pensamento. Ele podia, sem
dúvida, ser um homem perfeitamente honesto na opinião do mundo, não causar dano
a ninguém, não maldizer do próximo, não ser vão, nem orgulhoso, honrar a seu
pai e a sua mãe, mas não tinha a verdadeira caridade; sua virtude não chegava
até a abnegação. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do
princípio: “Fora da caridade não há salvação.”[4]
Desse modo, que
saibamos, espontaneamente, nos voltar para atividades que possam contribuir tanto
para atender nossas necessidades, como também para atender àquelas úteis ao
Mestre Jesus em sua Seara milenar. Que aproveitemos a hora última dos tempos e
distribuamos nossos talentos para quem necessitar, quem estiver no nosso
caminho, mesmo que tenhamos que renunciar ao que nos sobra e às vezes até ao
que nos faz falta.
Que Deus nos
ajude.
Domício.
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