169
OLHOS
Eles têm os olhos cheios de
adultério.
II Pedro (2:14).
“Olhos cheios de adultério”
constituem rebelde enfermidade em nossas lutas evolutivas.
Raros homens se utilizam dos olhos
por lâmpadas abençoadas e poucos os empregam como instrumentos vivos de
trabalho santificante na vigília necessária.
A maioria das criaturas trata de
aproveitá-los, à frente de quaisquer paisagens, na identificação do que possuem
de pior.
Homens comuns, habitualmente, pousam
os olhos em determinada situação apenas para fixarem os ângulos mais
apreciáveis aos interesses inferiores que lhes dizem respeito. Se atravessam um
campo, não lhe anotam a função benemérita nos quadros da vida coletiva e sim a
possibilidade de lucros pessoais e imediatos que lhes possa oferecer. Se
enxergam a irmã afetuosa de jornada humana, que segue não longe deles,
premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos. Se encontram
companheiros nos lugares em que atendem a objetivos inferiores, não os reconhecem
como possíveis portadores de ideias elevadas, porém como concorrentes aos seus propósitos menos felizes.
Ouçamos o brado de alarme de Simão
Pedro, esquecendo o hábito de analisar com o mal.
Olhos otimistas saberão extrair
motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que
prosseguem.
Ninguém invoque a necessidade de
vigilância para justificar as manifestações de malícia. O homem cristianizado e
prudente sabe contemplar os problemas de si mesmo, contudo, nunca enxerga o mal
onde o mal ainda não existe.
NOSSA REFLEXÃO
Emmanuel
nos apresenta conceitos de malícia ou identificação com o mal presentes na palavra
adultério que, comumente, nos leva a pensar na traição amorosa.
Mas
é muito mais que isso.
O adultério,
nessa perspectiva, no leva a pensar nas diversas tentações que tisnam nossa
alma acostumada com pensamentos inferiores.
Mas,
precisamos nos purificar, enquanto Espíritos em evolução. Precisamos exercer a
pureza de coração. O Cristo bem nos lembrou da bem-aventurança dos puros de
coração: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão
a Deus” (Mateus, 5:8).
Allan
Kardec nos explica a relação da pureza de coração com a humidade e simplicidade
que nos afasta do orgulho e egoísmo: “A pureza do coração é
inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de
orgulho”.[1]
Mas
o Cristo a identificou com as crianças que estão recém-chegadas no plano
físico. A pureza das crianças é um ótimo exemplo, apesar de sabermos que se
tratam de Espíritos ainda a mostrar suas imperfeições.
Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que Ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é para os que se lhes assemelham. Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, nele não entrará.” — E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos (Marcos, 10:13 a 16).
Allan Kardec nos
explica lembrando que “[...] Jesus toma a infância como emblema dessa pureza,
do mesmo modo que a tomou como o da humildade”.[2] Faz-se
necessário ressaltar o destaque do pertencimento ao Reino dos Céus aos que
se assemelham às crianças e não as próprias, enquanto Espíritos, em
geral, imperfeitos.
Quanto à palavra
adultério, é importante entender que ela não se vincula a tão somente àquela da
traição matrimonial. Sobre isso, Allan Kardec nos explica:
A palavra adultério não deve absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, todo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: “Porquanto se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do Homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai” (Marcos, 8:38.)[3].
Então,
o adultério é próprio de quem é imperfeito. Porém, devemos ter clara a
necessidade de limitar os pensamentos inferiores que nos assaltam diariamente.
Desse
modo, todo pensamento mau é oportunidade de elevação, pois para uma alma, de
acordo com o seu desejo de evoluir, um “[...] mau pensamento se lhe
torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia” (Allan
Kardec[4]) Devemos contê-lo, então, e redimensioná-lo para a esfera que
lhe é própria.
Que
sejamos puros de pensamento quando abrirmos a janela de nossa alma, os olhos, e
nos deixemos ver tão somente o que é bom em qualquer situação, sem julgar ninguém
e sempre encontrando uma oportunidade de prestar um serviço caridoso, pois como
Emmanuel nos destaca nessa mensagem, “olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de
ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.”
Que Deus nos ajude.
Domício.
Ps.: Compartilho uma poesia de L. Angel (meu pseudônimo)
sobre a bem-aventurança da pureza de coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário