domingo, 1 de setembro de 2024

OLHOS

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OLHOS

Eles têm os olhos cheios de adultério.

II Pedro (2:14).

“Olhos cheios de adultério” constituem rebelde enfermidade em nossas lutas evolutivas.

Raros homens se utilizam dos olhos por lâmpadas abençoadas e poucos os empregam como instrumentos vivos de trabalho santificante na vigília necessária.

A maioria das criaturas trata de aproveitá-­los, à frente de quaisquer paisagens, na identificação do que possuem de pior.

Homens comuns, habitualmente, pousam os olhos em determinada situação apenas para fixarem os ângulos mais apreciáveis aos interesses inferiores que lhes dizem respeito. Se atravessam um campo, não lhe anotam a função benemérita nos quadros da vida coletiva e sim a possibilidade de lucros pessoais e imediatos que lhes possa oferecer. Se enxergam a irmã afetuosa de jornada humana, que segue não longe deles, premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos. Se encontram companheiros nos lugares em que atendem a objetivos inferiores, não os reconhecem como possíveis portadores de ideias elevadas, porém como  concorrentes aos seus propósitos menos felizes.

Ouçamos o brado de alarme de Simão Pedro, esquecendo o hábito de analisar com o mal.

Olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.

Ninguém invoque a necessidade de vigilância para justificar as manifestações de malícia. O homem cristianizado e prudente sabe contemplar os problemas de si mesmo, contudo, nunca enxerga o mal onde o mal ainda não existe.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos apresenta conceitos de malícia ou identificação com o mal presentes na palavra adultério que, comumente, nos leva a pensar na traição amorosa.

Mas é muito mais que isso.

O adultério, nessa perspectiva, no leva a pensar nas diversas tentações que tisnam nossa alma acostumada com pensamentos inferiores.

Mas, precisamos nos purificar, enquanto Espíritos em evolução. Precisamos exercer a pureza de coração. O Cristo bem nos lembrou da bem-aventurança dos puros de coração: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus” (Mateus, 5:8).

Allan Kardec nos explica a relação da pureza de coração com a humidade e simplicidade que nos afasta do orgulho e egoísmo: “A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho”.[1]

Mas o Cristo a identificou com as crianças que estão recém-chegadas no plano físico. A pureza das crianças é um ótimo exemplo, apesar de sabermos que se tratam de Espíritos ainda a mostrar suas imperfeições.

Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que Ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é para os que se lhes assemelham. Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, nele não entrará.” — E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos (Marcos, 10:13 a 16).

Allan Kardec nos explica lembrando que “[...] Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade”.[2] Faz-se necessário ressaltar o destaque do pertencimento ao Reino dos Céus aos que se assemelham às crianças e não as próprias, enquanto Espíritos, em geral, imperfeitos.

Quanto à palavra adultério, é importante entender que ela não se vincula a tão somente àquela da traição matrimonial. Sobre isso, Allan Kardec nos explica:

A palavra adultério não deve absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, todo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: “Porquanto se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do Homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai” (Marcos, 8:38.)[3].

Então, o adultério é próprio de quem é imperfeito. Porém, devemos ter clara a necessidade de limitar os pensamentos inferiores que nos assaltam diariamente.

Desse modo, todo pensamento mau é oportunidade de elevação, pois para uma alma, de acordo com o seu desejo de evoluir, um “[...] mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia” (Allan Kardec[4]) Devemos contê-lo, então, e redimensioná-lo para a esfera que lhe é própria.

Que sejamos puros de pensamento quando abrirmos a janela de nossa alma, os olhos, e nos deixemos ver tão somente o que é bom em qualquer situação, sem julgar ninguém e sempre encontrando uma oportunidade de prestar um serviço caridoso, pois como Emmanuel nos destaca nessa mensagem, “olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.”

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps.: Compartilho uma poesia de L. Angel (meu pseudônimo) sobre a bem-aventurança da pureza de coração.

BEM AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITOS
L. ANGEL                                                  25/07/2011
Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus (Mateus, 5:8).

Ser pobre de espírito,
Eis uma santa recomendação.
Prestai atenção ao que está escrito,
Nas bem-aventuranças, essa lição.


Não é fácil ser pobre de espírito,
Pois o orgulho em nós impera,
Sempre contrariando o sábio escrito.
Assim, não teremos o reino de Deus, nessa era.


Feliz o que crê em Deus,
Em mente e coração,
Pois é humilde e já cresceu.


Ser feliz, antes de tudo,
É ter humildade como ação,
Aproximando-se de Deus em respeito mudo.


[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII (Bem-aventurados os que têm puro o coração), Item 3.
[2] Idem.
[3] Idem. Item 6 (Pecados por pensamentos).
[4]
Idem, Item 7 (Pecado por pensamentos).

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