domingo, 8 de setembro de 2024

A LÍNGUA

 170
A LÍNGUA

               A língua também é um fogo.

TIAGO (3: 6).

A desídia das criaturas justifica as amargas considerações de Tiago, em sua epístola aos companheiros.

O início de todas as hecatombes no planeta localiza-se, quase sempre, no mau uso da língua.

Ela está posta, entre os membros, qual leme de embarcação poderosa, segundo lembra o grande apóstolo de Jerusalém.

Em sua potencialidade, permanecem sagrados recursos de criar, tanto quanto o leme de proporções reduzidas foi instalado para conduzir.

A língua detém a centelha divina do verbo, mas o homem, de modo geral, costuma desviá-la de sua função edificante, situando-a no pântano de cogitações subalternas e, por isto mesmo, vemo-la à frente de quase todos os desvarios da humanidade sofredora, cristalizada em propósitos mesquinhos, à míngua de humildade e amor.

Nasce a guerra da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos. As grandes tragédias sociais se originam, em muitas ocasiões, da conversação dos sentimentos inferiores.

Poucas vezes a língua do homem há consolado e edificado os seus irmãos; reconheçamos, porém, que a sua disposição é sempre ativa para excitar, disputar, deprimir, enxovalhar, acusar e ferir desapiedadamente.

O discípulo sincero encontra nos apontamentos de Tiago uma tese brilhante para todas as suas experiências. E, quando chegue a noite de cada dia, é justo interrogue a si mesmo: – “Terei hoje utilizado a minha língua, como Jesus utilizou a dele?”

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos oferece uma reflexão sobre o modo como nos comportamos em sociedade e/ou em família. A nossa fala, fazendo uso da língua, pode ou não causar problemas no seio de uma comunidade, com prejuízo para nós e para quem nos houve.

Muitas vezes, o que ocorre é que não refletimos sobre o que provém do nosso pensamento, de qualidade má, e em geral cala fundo em nosso corações porque nos identificamos com eles.

Quantas vezes a “língua” provocou a ira de outras pessoas ou emoções degradantes, levando até ao suicídio a pessoa que nos ouviu?

Então, de fato, o que Tiago escreveu nos alerta sobre a pureza do coração. Faz-nos lembrar da bem-aventurança Bem-aventurados os que têm puro o coração:

Se algum escandalizar a um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós que um asno faz girar e que o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas ai do homem por quem o escândalo venha. Tende muito cuidado em não desprezar um destes pequenos. Declaro-vos que seus anjos no céu veem incessantemente a face de meu Pai que está nos céus, porquanto o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido. Se a vossa mão ou o vosso pé vos é objeto de escândalo, cortai-os e lançai-os longe de vós; melhor será para vós que entreis na vida tendo um só pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo eterno. Se o vosso olho vos é objeto de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; melhor para vós será que entreis na vida tendo um só olho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno. (Mateus,5:29 e 30; 18:6 a 11).

Então, o Cristo se reporta a alguns de nossos órgãos, como a mão, pé e olho, para nos alertar que, por causa dos escândalos, que são necessário que venham nesse mundo de provas e expiações, melhor é nascermos sem um deles do que sermos “[...] precipitados no fogo do inferno.”

A necessidade dos escândalos não significa que temos que nos candidatar a provocá-los, mas sim, que a Terra é um mundo muito propício deles acontecerem, dado a natureza imperfeita de seus habitantes. Allan Kardec nos esclarece a respeito:

É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus, porque, imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar o mal, e porque, árvores más, só maus frutos dão. Deve-se, pois, entender por essas palavras que o mal é uma consequência da imperfeição dos homens, e não que haja, para estes, a obrigação de praticá-lo.[1]

Nesse sentido, Emmanuel, sempre sintonizado com a equipe a qual se integrou para a codificação da Doutrina Espírita, nos faz lembrar de Santo Agostinho, quando nos orienta que “o discípulo sincero encontra nos apontamentos de Tiago uma tese brilhante para todas as suas experiências. E, quando chegue a noite de cada dia, é justo interrogue a si mesmo: – “Terei hoje utilizado a minha língua, como Jesus utilizou a dele?”.

Nessa direção, Santo Agostinho nos falou sobre o conhecimento de si mesmo, como medida certa para nos afastar de nossos atos e pensamento inferiores.

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: ‘Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’.[2]

Então, devemos nos vigiar, refletir sobre nossos atos, falas e pensamentos, constantemente, em particular ao final do dia, para que o próximo dia seja menos palco de escândalos provocados por nós, pelo simples ato de usarmos a nossa língua, que é só uma..., mas pode fazer muitos estragos em nossa vida e na do nosso semelhante.

Que Deus nos ajude nesse esforço de cada vez mais sejamos dignos de sermos chamados Filhos Dele.

Domício.


[1] Vide dissertação em sua íntegra em O Evangelho Segundo o Espíritismo, Cap. VIII, Item 13.
[2]
Vide dissertação em sua íntegra em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira – Capítulo XII, Da perfeição moral, Questão 919.

Nenhum comentário:

Postar um comentário