domingo, 29 de setembro de 2024

LEI DO USO

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LEI DO USO

E quando estavam saciados, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.

João (6:12).

Observada a lei do uso, a miséria fugirá do caminho humano.

Contra o desperdício e a avareza é imperioso o trabalho de cada um, porque, identificado o equilíbrio, o serviço da justiça econômica estará completo, desde que a boa-vontade habite com todos.

A passagem evangélica que descreve o trabalho de alimento à multidão assinala significativas palavras do Senhor, quanto às sobras de pão, transmitindo ensinamento de profunda importância aos discípulos.

Geralmente, o aprendiz sincero, nos primeiros deslumbramentos da fé reveladora, deseja desfazer-se nas atividades de benemerência, sem base  na harmonia real.

Aí temos, indiscutivelmente, louvável impulso, mas, ainda mesmo na distribuição dos bens materiais, é indispensável evitar o descontrole e o excesso.

O Pai não suprime o inverno, porque alguns dos seus filhos se queixam do frio, mas equilibra a situação, dando-lhes coberturas.

A caridade reclama entusiasmo, entretanto, exige também discernimento generoso, que não incline o coração à secura.

Na grande assembléia de necessitados do monte, por certo, não faltariam preguiçosos e perdulários, prontos a inutilizar a parte restante de pão, sem necessidade justa. Jesus, porém, antes que os levianos se manifestassem, recomendou claramente: – “Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.” É que, em todas as coisas, o homem deverá reconhecer que o uso é compreensível na Lei, desprezando o abuso que é veneno mortal nas fontes da vida.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, a partir da passagem de João (6:12) ressalta a necessidade de valorizarmos o que temos ou recebemos de Deus, seja diretamente ou indiretamente. Desperdício, nem pensar. A passagem faz alusão a uma atividade de benemerência, mas podemos pensar nas atividades particulares de cada um, seja em casa ou na convivência social.

O Espírito Fénelon nos alertas sobre o emprego da riqueza: “Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja Ele dado, em virtude do seu livre-arbítrio.”[1]

De outro modo, o Espírito Larcordaire, nos ilumina sobre o esbanjamento da riqueza:

Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de os confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, frequentemente, uma modalidade do egoísmo.[2]

Então, de modo econômico, mas sem avareza e prodigalidade, podemos empregar o que possuímos, seja em favor de nós mesmo ou do próximo.

Que não sejamos avarentos. Que não sejamos pródigos, como um dos filhos do pai da parábola do filho pródigo.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), Item 13 (Emprego da riqueza).
[2] Vide mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo
, Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon), Item 14 (Desprendimento dos bens terrenos).

domingo, 15 de setembro de 2024

SUSPENSÃO DA NOSSA REFLEXÃO

Bom dia!

Por motivo de viagem a trabalho, não poderei fazer a reflexão de hoje e nem a do próximo domingo.

Retorno dia 29/09/2024.

Paz e alegrias!!


POR QUE UM PONTO FINAL?
L. Angel

Por que um ponto final?
Garantias de que a vida não continua?
A dor, o revés, não têm um fim, afinal?
 
Com que fim, chegamos até um ponto?
Sabemos que a vida física extenua...
Mas a vida não é um conto.
 
Nascer, viver, renascer para a vida,
Eis o fim de uma existência.
Provas, expiações, estar em constante lida,
Está gravado em nossa consciência.
 
Valorizar a vida, que é contínua,
Em qualquer circunstância,
Não é uma ideia ingênua.
É dar sentido à toda sua pujança.


Compreender esse sentido,
Mesmo nos momentos de suprema dor,
Lembra-nos que não somos desassistidos,


Pois passamos a viver cogitando,
Que por trás da Vida tem o Amor,
E toda parada será sempre um ponto continuando.


Se precisar, peça ajuda.

domingo, 8 de setembro de 2024

A LÍNGUA

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A LÍNGUA

               A língua também é um fogo.

TIAGO (3: 6).

A desídia das criaturas justifica as amargas considerações de Tiago, em sua epístola aos companheiros.

O início de todas as hecatombes no planeta localiza-se, quase sempre, no mau uso da língua.

Ela está posta, entre os membros, qual leme de embarcação poderosa, segundo lembra o grande apóstolo de Jerusalém.

Em sua potencialidade, permanecem sagrados recursos de criar, tanto quanto o leme de proporções reduzidas foi instalado para conduzir.

A língua detém a centelha divina do verbo, mas o homem, de modo geral, costuma desviá-la de sua função edificante, situando-a no pântano de cogitações subalternas e, por isto mesmo, vemo-la à frente de quase todos os desvarios da humanidade sofredora, cristalizada em propósitos mesquinhos, à míngua de humildade e amor.

Nasce a guerra da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos. As grandes tragédias sociais se originam, em muitas ocasiões, da conversação dos sentimentos inferiores.

Poucas vezes a língua do homem há consolado e edificado os seus irmãos; reconheçamos, porém, que a sua disposição é sempre ativa para excitar, disputar, deprimir, enxovalhar, acusar e ferir desapiedadamente.

O discípulo sincero encontra nos apontamentos de Tiago uma tese brilhante para todas as suas experiências. E, quando chegue a noite de cada dia, é justo interrogue a si mesmo: – “Terei hoje utilizado a minha língua, como Jesus utilizou a dele?”

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos oferece uma reflexão sobre o modo como nos comportamos em sociedade e/ou em família. A nossa fala, fazendo uso da língua, pode ou não causar problemas no seio de uma comunidade, com prejuízo para nós e para quem nos houve.

Muitas vezes, o que ocorre é que não refletimos sobre o que provém do nosso pensamento, de qualidade má, e em geral cala fundo em nosso corações porque nos identificamos com eles.

Quantas vezes a “língua” provocou a ira de outras pessoas ou emoções degradantes, levando até ao suicídio a pessoa que nos ouviu?

Então, de fato, o que Tiago escreveu nos alerta sobre a pureza do coração. Faz-nos lembrar da bem-aventurança Bem-aventurados os que têm puro o coração:

Se algum escandalizar a um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós que um asno faz girar e que o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas ai do homem por quem o escândalo venha. Tende muito cuidado em não desprezar um destes pequenos. Declaro-vos que seus anjos no céu veem incessantemente a face de meu Pai que está nos céus, porquanto o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido. Se a vossa mão ou o vosso pé vos é objeto de escândalo, cortai-os e lançai-os longe de vós; melhor será para vós que entreis na vida tendo um só pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo eterno. Se o vosso olho vos é objeto de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; melhor para vós será que entreis na vida tendo um só olho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno. (Mateus,5:29 e 30; 18:6 a 11).

Então, o Cristo se reporta a alguns de nossos órgãos, como a mão, pé e olho, para nos alertar que, por causa dos escândalos, que são necessário que venham nesse mundo de provas e expiações, melhor é nascermos sem um deles do que sermos “[...] precipitados no fogo do inferno.”

A necessidade dos escândalos não significa que temos que nos candidatar a provocá-los, mas sim, que a Terra é um mundo muito propício deles acontecerem, dado a natureza imperfeita de seus habitantes. Allan Kardec nos esclarece a respeito:

É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus, porque, imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar o mal, e porque, árvores más, só maus frutos dão. Deve-se, pois, entender por essas palavras que o mal é uma consequência da imperfeição dos homens, e não que haja, para estes, a obrigação de praticá-lo.[1]

Nesse sentido, Emmanuel, sempre sintonizado com a equipe a qual se integrou para a codificação da Doutrina Espírita, nos faz lembrar de Santo Agostinho, quando nos orienta que “o discípulo sincero encontra nos apontamentos de Tiago uma tese brilhante para todas as suas experiências. E, quando chegue a noite de cada dia, é justo interrogue a si mesmo: – “Terei hoje utilizado a minha língua, como Jesus utilizou a dele?”.

Nessa direção, Santo Agostinho nos falou sobre o conhecimento de si mesmo, como medida certa para nos afastar de nossos atos e pensamento inferiores.

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: ‘Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’.[2]

Então, devemos nos vigiar, refletir sobre nossos atos, falas e pensamentos, constantemente, em particular ao final do dia, para que o próximo dia seja menos palco de escândalos provocados por nós, pelo simples ato de usarmos a nossa língua, que é só uma..., mas pode fazer muitos estragos em nossa vida e na do nosso semelhante.

Que Deus nos ajude nesse esforço de cada vez mais sejamos dignos de sermos chamados Filhos Dele.

Domício.


[1] Vide dissertação em sua íntegra em O Evangelho Segundo o Espíritismo, Cap. VIII, Item 13.
[2]
Vide dissertação em sua íntegra em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira – Capítulo XII, Da perfeição moral, Questão 919.

domingo, 1 de setembro de 2024

OLHOS

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OLHOS

Eles têm os olhos cheios de adultério.

II Pedro (2:14).

“Olhos cheios de adultério” constituem rebelde enfermidade em nossas lutas evolutivas.

Raros homens se utilizam dos olhos por lâmpadas abençoadas e poucos os empregam como instrumentos vivos de trabalho santificante na vigília necessária.

A maioria das criaturas trata de aproveitá-­los, à frente de quaisquer paisagens, na identificação do que possuem de pior.

Homens comuns, habitualmente, pousam os olhos em determinada situação apenas para fixarem os ângulos mais apreciáveis aos interesses inferiores que lhes dizem respeito. Se atravessam um campo, não lhe anotam a função benemérita nos quadros da vida coletiva e sim a possibilidade de lucros pessoais e imediatos que lhes possa oferecer. Se enxergam a irmã afetuosa de jornada humana, que segue não longe deles, premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos. Se encontram companheiros nos lugares em que atendem a objetivos inferiores, não os reconhecem como possíveis portadores de ideias elevadas, porém como  concorrentes aos seus propósitos menos felizes.

Ouçamos o brado de alarme de Simão Pedro, esquecendo o hábito de analisar com o mal.

Olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.

Ninguém invoque a necessidade de vigilância para justificar as manifestações de malícia. O homem cristianizado e prudente sabe contemplar os problemas de si mesmo, contudo, nunca enxerga o mal onde o mal ainda não existe.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos apresenta conceitos de malícia ou identificação com o mal presentes na palavra adultério que, comumente, nos leva a pensar na traição amorosa.

Mas é muito mais que isso.

O adultério, nessa perspectiva, no leva a pensar nas diversas tentações que tisnam nossa alma acostumada com pensamentos inferiores.

Mas, precisamos nos purificar, enquanto Espíritos em evolução. Precisamos exercer a pureza de coração. O Cristo bem nos lembrou da bem-aventurança dos puros de coração: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus” (Mateus, 5:8).

Allan Kardec nos explica a relação da pureza de coração com a humidade e simplicidade que nos afasta do orgulho e egoísmo: “A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho”.[1]

Mas o Cristo a identificou com as crianças que estão recém-chegadas no plano físico. A pureza das crianças é um ótimo exemplo, apesar de sabermos que se tratam de Espíritos ainda a mostrar suas imperfeições.

Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que Ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é para os que se lhes assemelham. Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, nele não entrará.” — E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos (Marcos, 10:13 a 16).

Allan Kardec nos explica lembrando que “[...] Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade”.[2] Faz-se necessário ressaltar o destaque do pertencimento ao Reino dos Céus aos que se assemelham às crianças e não as próprias, enquanto Espíritos, em geral, imperfeitos.

Quanto à palavra adultério, é importante entender que ela não se vincula a tão somente àquela da traição matrimonial. Sobre isso, Allan Kardec nos explica:

A palavra adultério não deve absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, todo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: “Porquanto se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do Homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai” (Marcos, 8:38.)[3].

Então, o adultério é próprio de quem é imperfeito. Porém, devemos ter clara a necessidade de limitar os pensamentos inferiores que nos assaltam diariamente.

Desse modo, todo pensamento mau é oportunidade de elevação, pois para uma alma, de acordo com o seu desejo de evoluir, um “[...] mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia” (Allan Kardec[4]) Devemos contê-lo, então, e redimensioná-lo para a esfera que lhe é própria.

Que sejamos puros de pensamento quando abrirmos a janela de nossa alma, os olhos, e nos deixemos ver tão somente o que é bom em qualquer situação, sem julgar ninguém e sempre encontrando uma oportunidade de prestar um serviço caridoso, pois como Emmanuel nos destaca nessa mensagem, “olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.”

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps.: Compartilho uma poesia de L. Angel (meu pseudônimo) sobre a bem-aventurança da pureza de coração.

BEM AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITOS
L. ANGEL                                                  25/07/2011
Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus (Mateus, 5:8).

Ser pobre de espírito,
Eis uma santa recomendação.
Prestai atenção ao que está escrito,
Nas bem-aventuranças, essa lição.


Não é fácil ser pobre de espírito,
Pois o orgulho em nós impera,
Sempre contrariando o sábio escrito.
Assim, não teremos o reino de Deus, nessa era.


Feliz o que crê em Deus,
Em mente e coração,
Pois é humilde e já cresceu.


Ser feliz, antes de tudo,
É ter humildade como ação,
Aproximando-se de Deus em respeito mudo.


[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII (Bem-aventurados os que têm puro o coração), Item 3.
[2] Idem.
[3] Idem. Item 6 (Pecados por pensamentos).
[4]
Idem, Item 7 (Pecado por pensamentos).