domingo, 18 de agosto de 2024

DE MADRUGADA

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DE MADRUGADA

E no primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro, de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra removida do sepulcro.

JOÃO (20:1).

Não devemos esquecer a circunstância em que Maria de Magdala recebe a primeira mensagem da ressurreição do Mestre.

No seio de perturbações e desalentos da pequena comunidade, a grande convertida não perde tempo em lamentações estéreis nem procura o sono do esquecimento.

Os companheiros haviam quebrado o padrão de confiança. Entre o remorso da própria defecção e a amargura pelo sacrifício do Salvador, cuja lição sublime ainda não conseguiam apreender, confundiam-se em atitudes negativas. Pensamentos contraditórios e angustiados azorragavam-lhes os corações.

Madalena, contudo, rompe o véu de emoções dolorosas que lhe embarga os passos. É imprescindível não sucumbir sob os fardos, transformando-os, acima de tudo, em elemento básico na construção espiritual, e Maria resolve não se acovardar, ante a dor. Porque o Cristo fora imolado na cruz, não seria lícito condenar-lhe a memória bem-amada ao olvido ou à indiferença.

Vigilante, atenta a si mesma, antes de qualquer satisfação a velhos convencionalismos, vai ao encontro do grande obstáculo que se constituía do sepulcro, muito cedo, precedendo o despertar dos próprios amigos e encontra a radiante resposta da Vida Eterna.

Rememorando esse acontecimento simbólico, recordemos nossas antigas quedas, por havermos esquecido o “primeiro dia da semana”, trocando, em todas as ocasiões, o “mais cedo” pelo “mais tarde”.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, mais uma vez, ressalta a importância do ato de Madalena, tanto por ter se convertido à Boa Nova, depois de tantos anos de vida sob o julgo de obsessores, como a primeira a procurar o Mestre[1]. Por isso, também foi a primeira a ter contato com Ele.

A vida continua e Madalena, fervorosa de que não tinha perdido o Mestre, em vez de ficar em lamúrias, perdida em confabulações entristecidas, partiu ao encontro do Mestre.

Allan Kardec nos amplia os horizontes sobre o fenômeno do luto, pós-morte de um familiar, ao interpretar Lucas (9: 59 e 60)[2]:

O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como relíquias. Era isso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lho ensina, dizendo: “Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vai ensinar o Reino de Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra, mas o céu, porquanto somente lá transcorre a verdadeira vida.[3]

Maria não esquecera que o Cristo prometeu ressuscitar, mostrando verdadeira sintonia com o Mestre. Nesse caso, como Emmanuel diz nessa mensagem ela não deixou pra depois, ficando a se lamentar, a continuidade do trabalho de melhoria própria e fidelidade ao Mestre.

Que tenhamos também essa consciência quando pensarmos em desistir de nosso compromisso com Ele, nessa existência.

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps.: Compartilho um fragmento poético de L. Angel em homenagem à Madalena.

Maria de Magdala, exemplo dificilmente imitável,

Renunciou aos seus desatinos que não quis mais viver.

O encontro com o Mestre foi revolucionário – que admirável!

Por isso foi a premiada para vê-Lo no Seu primeiro reaparecer.

L. Angel



[1] Em Caminho, Verdade e Vida (FEB), temos na mensagem intitulada MADALENA uma avaliação muito positiva de Emmanuel sobre Madalena: “Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo, para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala”. Vide NOSSA REFLEXÃO.
[2] . “Disse a outro: ‘Segue-me’; e o outro respondeu: ‘Senhor, consente que, primeiro, eu vá enterrar meu pai.’ — Jesus lhe retrucou: ‘Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.’” (Lucas, 9:59 e 60.)
[3]
Vide dissertação na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII (Estranha moral), Item 8 (Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos).

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