domingo, 4 de agosto de 2024

CURA DO ÓDIO

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CURA DO ÓDIO

Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.

Paulo (ROMANOS, 12:20).

O homem, geralmente, quando decidido ao serviço do bem, encontra fileiras de adversários gratuitos por onde passe, qual ocorre à claridade invariavelmente assediada pelo antagonismo das sombras.

Às vezes, porém, seja por equívocos do passado ou por incompreensões do presente, é defrontado por inimigos mais fortes que se transformam em constante ameaça à sua tranqüilidade. Contar com inimigo desse jaez é padecer dolorosa enfermidade no íntimo, quando a criatura ainda não se afeiçoou a experiências vivas no Evangelho.

Quase sempre, o aprendiz de boa-vontade desenvolve o máximo das próprias forças a favor da reconciliação; no entanto, o mais amplo esforço parece baldado. A impenetrabilidade caracteriza o coração do outro e os melhores gestos de amor passam por ele despercebidos.

Contra essa situação, todavia, o Livro divino oferece receita salutar. Não convém agravar atritos, desenvolver discussões e muito menos desfazer-se a criatura bem-intencionada em gestos bajulatórios. Espere-se pela oportunidade de manifestar o bem.

Desde o minuto em que o ofendido esquece a dissensão e volta ao amor, o serviço de Jesus é reatado; entretanto, a visão do ofensor é mais tardia e, em muitas ocasiões, somente compreende a nova luz, quando essa se lhe converte em vantagem ao círculo pessoal.

Um discípulo sincero do Cristo liberta-se facilmente dos laços inferiores, mas o antagonista de ontem pode persistir muito tempo, no endurecimento do coração. Eis o motivo pelo qual dar-lhe todo o bem, no momento oportuno, é amontoar o fogo renovador sobre a sua cabeça, curando-lhe o ódio, cheio de expressões infernais.

NOSSA REFLEXÃO

Em matéria de perdão, devemos nos lembrar que Deus nos perdoa incessantemente, desde que nos criou, pois respeita o nível evolutivo de cada filho.

Na relação com um inimigo ou com quem não nos damos bem, o recado de Paulo é cirúrgico, pois trata do mal pela raiz. Ao responder com Amor uma manifestação de ódio, incompreensão ou desprezo, faz com que quem nos afeta, assim, se sinta desestimulado com o que faz. Até que se sinta um tanto cansado e bobo por tentar fazer o que é impossível: afetar uma pessoa a quem quer mal ou mesmo quem nos faz mal sem intenção pessoal de fazer.

Devemos nos reaproximar de quem tratamos mal, ou vice-versa, para que haja perdão recíproco. O Mestre nos ensinou a nos reconciliar o mais depressa possível com os adversários (MATEUS, 5: 25 e 26). A. Kardec nos esclarece a respeito:

Na prática do perdão, como, em geral, na do bem, não há somente um efeito moral: há também um efeito material. [...] Importa, conseguintemente, do ponto de vista da tranquilidade futura, que cada um repare, quanto antes, os agravos que haja causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos, a fim de que, antes que a morte lhe chegue, esteja apagado qualquer motivo de dissensão, toda causa fundada de ulterior animosidade. [...] Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, da prisão, enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não houverdes satisfeito completamente a Justiça de Deus.[1]

Sendo Espíritos, se não nos reconciliarmos, teremos sempre o desconforto pela eternidade de que temos alguém que afetamos ou fomos afetados. E prisão é renascer com esse problema, indefinidamente, enquanto a reconciliação não se der. Isso é uma prisão moral, também. Isso é sofrimento evitável.

O não perdão é um dos impedimentos, que podemos assim dizer, que Emmanuel trata em sua mensagem intitulada Impedimentos[2], do livro Fonte Viva (FEB). Impedimento pra uma carreira gloriosa a que devemos nos desafiar, tendo em vista a perfeição espiritual, em que a medalha de ouro é nos tornar Espíritos Puros[3].

Que Deus nos ajude e Jesus Cristo, nosso Anjo da Guarda e Espíritos familiares digam: assim, seja!

Domício.

Compartilho uma poesia de L. Angel, sobre o tema Perdão.

PERDOA-ME?      PERDOO–TE!!
L. Angel

Perdoar é um ato de amor.
Primeiro a si mesmo, porque liberta.
Liberta a vítima e o que gerou a dor.
É a caridade na medida certa.

Perdoar é doar-se por completo.
Por isso, setenta vezes sete.
Não há um teto.
Perdoando, a ofensa menos se repete.

Algoz e vítima, vítima e algoz,
Cada um, a justiça clama
Sem perdoar, sem desatar os nós.

Perdoe-me! Mas perdoar não é esquecer.
É lembrar com a mente de quem ama.
É a caridade viver.

Perdoo–te! Em paz quero viver!
Libertar-me do ódio, eis minha cura!
Odiar é morrer.
Amar é viver a caridade pura!


[1] Vide esclarecimentos sobre essa passagem evangélica de Mateus em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X (Bem-aventurados os que são misericordiosos), Item 6 (Reconciliação com os adversários).
[2] Vide essa mensagem, seguida de Nossa Reflexão, em Impedimentos.
[3]
Vida a Escala Espírita (carreira?) em O Livro dos Espíritos, Cap I (Dos Espíritos), Questões/itens (96 – 113).

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