domingo, 18 de fevereiro de 2024

CEIFEIROS

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CEIFEIROS

Então disse aos seus discípulos: a seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros.

Mateus (9:37).

O ensinamento aqui não se refere à colheita espiritual dos grandes períodos de renovação no tempo, mas sim à seara de consolações que o Evangelho envolve em si mesmo.

Naquela hora permanecia em torno do Mestre a turba de corações desalentados e errantes que, segundo a narrativa de Mateus, se assemelhava a rebanho sem pastor. Eram fisionomias acabrunhadas e olhos súplices em penoso abatimento.

Foi então que Jesus ergueu o símbolo da seara realmente grande, ladeada porém de raros ceifeiros.

É que o Evangelho permanece no mundo por bendita messe celestial destinada a enriquecer o espírito humano; entretanto, a percentagem de criaturas dispostas ao trabalho da ceifa é muito reduzida. A maioria aguarda o trigo beneficiado ou o pão completo para a alimentação própria. Raríssimos são aqueles que enfrentam os temporais, o rigor do trabalho e as perigosas surpresas que o esforço de colher reclama do trabalhador devotado e fiel.

Em razão disto, a multidão dos desesperados e desiludidos continua passando no mundo, em fileira crescente, através dos séculos.

Os abnegados operários do Cristo prosseguem onerados em virtude de tantos famintos que cercam a seara, sem a precisa coragem de buscarem por si o alimento da vida eterna. E esse quadro persistirá na Terra, até que os bons consumidores aprendam a ser também bons ceifeiros.

NOSSA REFLEXÃO

Trabalho, eis uma atividade útil. Segundo os Espíritos superiores da codificação espírita, “toda ocupação útil é trabalho”.[1]

É a partir do trabalho que nós Espíritos, seja encarnado ou desencarnado, evoluímos. O trabalho e os problemas que advém dele nos cobra o exercício da inteligência e da prática da caridade. Não devemos nos furtar de algum trabalho que possa, de algum modo, nos ajudar, pessoalmente e no exercício de ajudar o que se encontram em nosso caminho.

Emmanuel faz uma relação entre o consumo e o trabalho. Precisamos trabalhar pelo que nos alimenta (material ou espiritualmente) antes do consumo. Até quando ganhamos um prêmio, devemos saber gastá-lo de modo a produzir mais em nosso benefício e de outra pessoas, estimulando-as ao trabalho, mesmo que para isso, elas por uma necessidade extrema, precisem se alimentar do pão material, primeiro. O Cristo fez assim, já próximo da páscoa ou do seu martírio (JOÃO, 6: 1 a 15).

De outro modo, a Parábola dos Talentos nos traz o ensinamento da produtividade, quando recebemos algo, que deve ser devolvido multiplicado (MATEUS, 25:14 a 30). Sobre isso, A. Kardec nos explica,quando trata da desigualdade das riquezas:

A riqueza é um meio de o experimentar moralmente, mas como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela (grifos do autor).[2]

Então, temos que ser bons trabalhadores tanto para ajudar nosso progresso, como o da humanidade. Há muitos sem trabalho, na atualidade, em toda parte do mundo. O certo é que todos procurem uma atividade útil e remunerativa para suprir suas necessidades, como de sua família. Contudo, não há trabalho para todos e, por isso, muitos passam fome e são chamados de desalentados, que devem ser acolhidos pela sociedade, via poder público, inclusive criando emprego e formação, como pela sociedade, não os desprezando ao avistar os desempregados, moradores de rua, espalhados por todo canto do planeta. É um problema social, é de todos nós.

Que saibamos fazer jus ao salário por estar sempre disponível para trabalho[3] e o multipliquemos na medida do possível, de forma construtiva e social e não, meramente, façamos o usufruto de condições melhores de vida. Pois, caso contrário, podemos experimentar o que tanto passam hoje em dia.

Que saibamos ser bons ceifeiros (material e moralmente) e não meros consumidores.

Que Deus nos ajude.

Domício.

Ps.: Compartilho um poema de L. Angel sobre o tema.

A LEI DO TRABALHO

L. Angel

Quem cumpre seu dever

É digno de novos serviços.

Eis o prêmio de um viver

Pautado no respeito aos compromissos.

Consciente é o bom trabalhador

Que está sempre pronto,

Pois logo surge o labor

Que é honrado ponto a ponto.

Feliz daquele que é empregado

E cumpre seu horário incansável,

Pois está sempre ocupado

Por se mostrar confiável.

A Lei do Trabalho

É uma lei moral

Que todos devem cumprir sem atalho,

Evitando, assim, todo mal.



[1] O Livro dos Espíritos, Parte terceira (Das leis morais), Cap. III (Da lei do trabalho), Questão nº 675.
[2] Vide dissertação de A. Kardec, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Item
[3]
Vide a parábola do trabalhador da última hora e sua interpretação kardequiana, bem como as intruções dos Espíritos a respeito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX.

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