domingo, 8 de janeiro de 2023

DEUS NÃO DESAMPARA

 

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DEUS NÃO DESAMPARA

E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição e não se arrependeu.

(APOCALIPSE, 2:21).

Se o Apocalipse está repleto de símbolos profundos, isso não impede venhamos a examinar-lhe as expressões, compatíveis com o nosso entendimento, extraindo as lições suscetíveis de ampliar-nos o progresso espiritual.

O versículo mencionado proporciona uma idéia da longanimidade do Altíssimo, na consideração das falhas e defecções dos filhos transgressores.

Muita gente insiste pela rigidez e irrevogabilidade das determinações de origem divina, entretanto, compete-nos reconhecer que os corações inclinados a semelhante interpretação ainda não conseguem analisar a essência sublime do amor que apaga dívidas escuras e faz nascer novo dia nos horizontes da alma.

Se entre juízes terrestres existem providências fraternas, qual seja a da liberdade sob condição, seria o tribunal celeste constituído por inteligências mais duras e inflexíveis?

A Casa do Pai é muito mais generosa que qualquer figuração de magnanimidade apresentada, até agora, no mundo, pelo pensamento religioso. Em seus celeiros abundantes, há empréstimos e moratórias, concessões de tempo e recursos que a mais vigorosa imaginação humana jamais calculará.

O Altíssimo fornece dádivas a todos e, na atualidade, é aconselhável medite o homem terreno nos recursos que lhe foram concedidos pelo Céu, para arrependimento, buscando renovar-se nos rumos do bem.

Os prisioneiros da concepção de justiça implacável ignoram os poderosos auxílios do Todo-Poderoso, que se manifestam através de mil modos diferentes; contudo, os que procuram a própria iluminação pelo amor universal sabem que Deus dá sempre e que é necessário aprender a receber.

NOSSA REFLEXÃO

Esta mensagem trada da Misericórdia de Deus que é infinita e única. Suas Leis são eternas e imutáveis. Porém, somo seres em evolução. Desse modo, o erro é reconsiderado em circunstâncias futuras, quando o Espírito, pelo arrependimento, repara uma falta e passa a agir de modo diferente.

Não podemos esperar que um erro impeça que um filho de Deus evolua ou permaneça “encarcerado” em regiões espirituais de dor e isolamento, eternamente. A. Kardec reflete sobre isso: “Ora, a alma progride ou não? Eis a questão: Se progride, a eternidade das penas é impossível.”[1]

Assim, pelo contrário, devemos crer que a Misericóridia de Deus alcança a todo Espírito que deseja modificar-se. Como Emmanuel nos fala nesta mensagem, “se entre juízes terrestres existem providências fraternas, qual seja a da liberdade sob condição, seria o tribunal celeste constituído por inteligências mais duras e inflexíveis?” De fato, as leis humanas diminui o tempo de prisão pelo bom comportamento. Se os homens assim, o fazem, que podemos de dizer de Deus em relação aos transgressores de suas Leis?

Mas é necessário o arrependimento sincero e a mudança de comportamento. Quantos de nós sabedores de atos infelizes em outras vidas, ainda cometemos, nessa, quando as tentações se mostram mais significativas que a nossa vontade de mudança? Os Espíritos Superiores, codificadores da Doutrina Espírita, responderam à questão 999, de O Livro dos Espíritos, sobre a importância do arrependimento: “O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”[2]

A Kardec aprofunda a questão e pergunta sobre a duração das penas e o Espírito São Luís responde:

Poderiam, se ele pudesse ser eternamente mau, isto é, se jamais se arrependesse e melhorasse, sofreria eternamente. Deus, porém, não criou seres tendo por destino permanecerem votados perpetuamente ao mal. Apenas os criou a todos simples e ignorantes, tendo todos, no entanto, que progredir em tempo mais ou menos longo, conforme decorrer da vontade de cada um. Mais ou menos tardia pode ser a vontade, do mesmo modo que há crianças mais ou menos precoces, porém, cedo ou tarde, ela aparece, por efeito da irresistível necessidade que o Espírito sente de sair da inferioridade e de se tornar feliz. Eminentemente sábia e magnânima é, pois, a lei que rege a duração das penas, porquanto subordina essa duração aos esforços do Espírito. Jamais o priva do seu livre-arbítrio: se deste faz ele mau uso, sofre as consequências.[3]

Assim, é muito importante que oremos pelos Espíritos desencarnados e sofredores, pois é importante crer que possam melhorar e passar do estado em que se encontram para um melhor, pois como A. Kardec nos esclarece, tratando deste tema:

O homem sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à Lei de Deus que fique sem a correspondente punição. “A severidade do castigo é proporcionada à gravidade da falta. “Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno à senda do bem; a pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se perpétua fosse a obstinação; dura pouco, se pronto é o arrependimento. [...] Assim, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo: a Lei de Deus estabelece a condição em que se lhe torna possível fazê-lo. O que as mais das vezes lhe falta é a vontade, a força, a coragem. Se, por nossas preces, lhe inspiramos essa vontade, se o amparamos e animamos; se, pelos nossos conselhos, lhe damos as luzes de que carece, em lugar de pedirmos a Deus que derrogue a sua lei, tornamo-nos instrumentos da execução de outra lei, também sua, a de amor e de caridade, execução em que, desse modo, Ele nos permite participar, dando nós mesmos, com isso, uma prova de caridade.[4]

Assim, que creiamos na infinita misericórdia de Deus, que sempre oportuniza infinitas oportunidades de arrependimento e reparação das faltas que o homem comete, tornando-o “[...] árbitro de sua própria sorte” [...]. Desse modo, “[...] pertence-lhe abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem.”[5]

Que Deus nos ajude a nos ajudar e a ajudar quem é semelhante a nós.

Domício.


[1] Vide dissertação, na íntegra, em O Céu e o Inferno, Primeira Parte, Cap. VI, Item 18 (Impossibilidade material das penas eternas).
[2] Questão 999 - Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus? O Livro dos Espíritos, Parte Quarta – Capítulo II (Das penas e gozos futuros)
[3] Questão 1006. Poderão durar eternamente os sofrimentos do Espírito? O Livro dos Espíritos, Parte Quarta – Capítulo II (Das penas e gozoso futuros)
[4] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII (Pedi e obtereis - Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores), Item 21.
[5]
Idem, Item 21.

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