domingo, 4 de dezembro de 2022

PONDERA SEMPRE

 

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PONDERA SEMPRE

E o que de mim, diante de muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem a outros.

Paulo (II TIMÓTEO, 2:2).

Os discípulos do Evangelho, no Espiritismo cristão, muitas vezes evidenciam insofreável entusiasmo, ansiosos de estender a fé renovada, contagiosa e ardente. No entanto, semelhante movimentação mental exige grande cuidado, não só porque assombro e admiração não significam elevação interior, como também porque é indispensável conhecer a qualidade do terreno espiritual a que se vai transmitir o poder do conhecimento.

Claro que não nos reportamos aqui ao ato de semeadura geral da verdade reveladora, nem à manifestação da bondade fraterna, que traduzem nossas obrigações naturais na ação do bem. Encarecemos, sim, a necessidade de cada irmão governar o patrimônio de dádivas espirituais recebidas do plano superior, a fim de não relegar valores celestes ao menosprezo da maldade e da ignorância.

Distribuamos a luz do amor com os nossos companheiros de jornada; todavia, defendamos o nosso íntimo santuário contra as arremetidas das trevas.

Lembremo-nos de que o próprio Mestre reservava lições diferentes para as massas populares e para a pequena comunidade dos aprendizes; não se fez acompanhar por todos os discípulos na transfiguração do Tabor; na última ceia, aguarda a ausência de Judas para comentar as angústias que sobreviriam.

É necessário atentarmos para essas atitudes do Cristo, compreendendo que nem tudo está destinado a todos. Os espíritos enobrecidos que se comunicam na esfera carnal adotam sempre o critério seletivo, buscando criaturas idôneas e fiéis, habilitadas a ensinar aos outros. Se eles, que já podem identificar os problemas com a visão iluminada, agem com prudência, nesse sentido, como não deverá vigiar o discípulo que apenas dispõe dos olhos corporais? Trabalhemos em benefício de todos, estendamos os laços fraternais, compreendendo, porém, que cada criatura tem o seu degrau na infinita escala da vida.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel nos traz uma reflexão sobre o que e com quem conversar sobre verdades já concebidas por nós. Há que não tenhamos arroubos de sair pregando como a entender que simplesmente nossa fala vai ser produtiva ouvida com respeito.

Devemos planejar atividades como essas, pensando em quem nos convidou a falar e pra quem vamos falar, tendo em mente que devemos falar pra quem está dispostos a nos ouvir, com espírito de esclarecimento.

Paulo nos recomenda que aquilo que receberam dele seja confiados a “[...] a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem a outros” (II TIMÓTEO, 2:2).

Emmanuel, então, nos diz que nos preocupemos com as assistências maliciosas, que foi o cuidado que Paulo teve em escrever para Timóteo e companheiros e companheiras.

Jesus, sim, como diz Emmanuel, tinha cuidado em falar de modo especial segundo a plateia de ouvintes: se era a massa popular, falava de modo metafórico, por parábolas; se era o conjunto de discípulos, falava profundamente, por que confiava que eles então transmitiriam, fielmente, suas palavras, como se deu com nos Evangelhos, escritos depois.

A. Kardec nos explicou porque Jesus nos falou por parábolas. O Mestre procedia

[... ] com o povo, como se faz com crianças cujas ideias ainda se não desenvolveram. Desse modo, indica o verdadeiro sentido da sentença: “Não se deve pôr a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entrem a possam ver.” Tal sentença não significa que se deva revelar inconsideradamente todas as coisas. Todo ensinamento deve ser proporcionado à inteligência daquele a quem se queira instruir, porquanto há pessoas a quem uma luz por demais viva deslumbraria, sem as esclarecer. (grifos nossos).[1]

 

Tempos se passaram, séculos, mais precisamente, e aquilo que Jesus falou por parábolas já podia ser apresentado de modo mais claro, dado a Ciência que a Humanidade adquiriu. E foi no Séc. XIX, no ano de 1857, que isso se deu, com a apresentação do Ensino dos Espíritos, através de A. Kardec como Codificador da Doutrina Espírita.

A. Kardec fez a seguinte indagação aos Espiritos Superiores: Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras Leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos ensinar mais alguma coisa?

Os Espíritos Superiores, então responderam:

Jesus empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se torne inteligível para todo mundo. [... ] O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a Lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.[2]

 

Tudo tem sua hora e lugar para ser debatido. A aprendizagem humana se dá da infância à fase adulta. Aos poucos os conhecimentos e procedimentos são administrados para não violentar a fase de aprendizagem de cada pessoa.

Então, não exijamos que todos e todas aceitem nosso conhecimento se uns e outras não estão preparados para nos ouvir.

Que saibamos ser um bom Mestre, primeiro para nós mesmos e em seguida para as pessoas que nos procuram ou são convidadas a nos escutar em um movimento espírita, seja comunitário (eventos espíritas em geral), seja na Casa Espírita.

Que Deus nos ajude a sermos fiéis com suas leis, como Ele é.

Domício.


[1] Vide interpretação de A. Kardec, na íntegra, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, Item 4.
[2]
Em O Livro dos Espíritos, Questão nº 627.

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