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PONDERA SEMPRE
E o que de mim, diante de muitas testemunhas,
ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem a outros.
Paulo (II TIMÓTEO, 2:2).
Os discípulos do Evangelho, no
Espiritismo cristão, muitas vezes evidenciam insofreável entusiasmo, ansiosos
de estender a fé renovada, contagiosa e ardente. No entanto, semelhante
movimentação mental exige grande cuidado, não só porque assombro e admiração
não significam elevação interior, como também porque é indispensável conhecer a
qualidade do terreno espiritual a que se vai transmitir o poder do conhecimento.
Claro que não nos reportamos aqui ao
ato de semeadura geral da verdade reveladora, nem à manifestação da bondade
fraterna, que traduzem nossas obrigações naturais na ação do bem. Encarecemos,
sim, a necessidade de cada irmão governar o patrimônio de dádivas espirituais
recebidas do plano superior, a fim de não relegar valores celestes ao
menosprezo da maldade e da ignorância.
Distribuamos a luz do amor com os
nossos companheiros de jornada; todavia, defendamos o nosso íntimo santuário
contra as arremetidas das trevas.
Lembremo-nos de que o próprio Mestre
reservava lições diferentes para as massas populares e para a pequena
comunidade dos aprendizes; não se fez acompanhar por todos os discípulos na
transfiguração do Tabor; na última ceia, aguarda a ausência de Judas para
comentar as angústias que sobreviriam.
É necessário atentarmos para essas
atitudes do Cristo, compreendendo que nem tudo está destinado a todos. Os
espíritos enobrecidos que se comunicam na esfera carnal adotam sempre o
critério seletivo, buscando criaturas idôneas e fiéis, habilitadas a ensinar
aos outros. Se eles, que já podem identificar os problemas com a visão
iluminada, agem com prudência, nesse sentido, como não deverá vigiar o
discípulo que apenas dispõe dos olhos corporais? Trabalhemos em benefício de
todos, estendamos os laços fraternais, compreendendo, porém, que cada criatura
tem o seu degrau na infinita escala da vida.
NOSSA REFLEXÃO
Emmanuel
nos traz uma reflexão sobre o que e com quem conversar sobre verdades já concebidas
por nós. Há que não tenhamos arroubos de sair pregando como a entender que simplesmente
nossa fala vai ser produtiva ouvida com respeito.
Devemos
planejar atividades como essas, pensando em quem nos convidou a falar e pra
quem vamos falar, tendo em mente que devemos falar pra quem está dispostos a
nos ouvir, com espírito de esclarecimento.
Paulo
nos recomenda que aquilo que receberam dele seja confiados a “[...] a homens fiéis, que sejam idôneos para
também ensinarem a outros” (II TIMÓTEO, 2:2).
Emmanuel, então, nos diz que nos preocupemos
com as assistências maliciosas, que foi o cuidado que Paulo teve em escrever
para Timóteo e companheiros e companheiras.
Jesus, sim, como diz Emmanuel, tinha
cuidado em falar de modo especial segundo a plateia de ouvintes: se era a massa
popular, falava de modo metafórico, por parábolas; se era o conjunto de discípulos,
falava profundamente, por que confiava que eles então transmitiriam, fielmente,
suas palavras, como se deu com nos Evangelhos, escritos depois.
A. Kardec nos explicou porque Jesus
nos falou por parábolas. O Mestre procedia
[... ] com
o povo, como se faz com crianças cujas ideias ainda se não desenvolveram. Desse
modo, indica o verdadeiro sentido da sentença: “Não se deve pôr a candeia
debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entrem a
possam ver.” Tal sentença não significa que se deva revelar inconsideradamente
todas as coisas. Todo ensinamento deve ser proporcionado à inteligência
daquele a quem se queira instruir, porquanto há pessoas a quem uma luz por
demais viva deslumbraria, sem as esclarecer. (grifos nossos).[1]
Tempos se passaram, séculos, mais
precisamente, e aquilo que Jesus falou por parábolas já podia ser apresentado
de modo mais claro, dado a Ciência que a Humanidade adquiriu. E foi no Séc. XIX,
no ano de 1857, que isso se deu, com a apresentação do Ensino dos Espíritos,
através de A. Kardec como Codificador da Doutrina Espírita.
A. Kardec fez a seguinte indagação
aos Espiritos Superiores: Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras
Leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos
ensinar mais alguma coisa?
Os Espíritos Superiores, então responderam:
Jesus
empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de
conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se
torne inteligível para todo mundo. [... ] O ensino dos Espíritos tem que ser
claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que
todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o
reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja
possível interpretar a Lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o
sentido de uma lei toda de amor e de caridade.[2]
Tudo tem sua hora e lugar para ser
debatido. A aprendizagem humana se dá da infância à fase adulta. Aos poucos os
conhecimentos e procedimentos são administrados para não violentar a fase de
aprendizagem de cada pessoa.
Então, não exijamos que todos e
todas aceitem nosso conhecimento se uns e outras não estão preparados para nos
ouvir.
Que saibamos ser um bom Mestre,
primeiro para nós mesmos e em seguida para as pessoas que nos procuram ou são
convidadas a nos escutar em um movimento espírita, seja comunitário (eventos
espíritas em geral), seja na Casa Espírita.
Que Deus nos ajude a sermos fiéis
com suas leis, como Ele é.
Domício.
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