domingo, 31 de outubro de 2021

LUGAR DESERTO

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LUGAR DESERTO

E ele lhes disse: Vinde vós aqui, à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco.

Marcos (6:31).

A exortação de Jesus aos companheiros reveste-se de singular importância para os discípulos do Evangelho em todos os tempos.

Indispensável se torna aprender o caminho do “lugar à parte” em que o Mestre aguarda os aprendizes para o repouso construtivo em seu amor.

No precioso símbolo, temos o santuário íntimo do coração sequioso de luz divina.

De modo algum se referia o Senhor tão somente à soledade dos sítios que favorecem a meditação, onde sempre encontramos sugestões vivas da natureza humana. Reportava-se à câmara silenciosa, situada dentro de nós mesmos.

Além disso, não podemos esquecer que o Espírito sedento de união divina, desde o momento em que se imerge nas correntes do idealismo superior, passa a sentir-se desajustado, em profundo insulamento no mundo, embora servindo-o, diariamente, consoante os indefectíveis desígnios do Alto.

No templo secreto da alma, o Cristo espera por nós, a fim de revigorar-nos as forças exaustas.

Os homens iniciaram a procura do “lugar deserto”, recolhendo-se aos mosteiros ou às paisagens agrestes; todavia, o ensinamento do Salvador não se fixa no mundo externo.

Prepara-te para servir ao reino divino, na cidade ou no campo, em qualquer estação, e não procures descanso impensadamente, convicto de que, muita vez, a imobilidade do corpo é tortura da alma. Antes de tudo, busca descobrir, em ti mesmo, o “lugar à parte” onde repousarás em companhia do Mestre.

NOSSA REFLEXÃO

O recolhimento para abastecimento das energias físicas e espirituais é necessário para que possamos enfrentar momentos futuros. Ao nos recolher, conforme Emmanuel nos fala, encontramos “[...] o Cristo (que) espera por nós, a fim de revigorar-nos as forças exaustas”.

O Cristo, mesmo, nos proclamou, em outro momento, quando estava pra nos ensinar a oração “Pai Nosso”: “Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa” (MATEUS, 6: 6). Allan Kardec, sobre isto, nos amplia o entendimento: “Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz Ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto”[1].

Então, apesar do recolhimento social ser necessário pra tanto, mais vale ainda o recolhimento espiritual onde podemos buscar encontrar com o Mestre e a todos que nos querem bem no plano espiritual.

Que possamos no dia a dia, ao seu final, nos recolher em ação de graças, buscando o refazimento físico e espiritual para darmos sequência as atividades habituais ou mesmo imprevistas do dia seguinte, em que devemos nos manter coerentes com o que aprendemos com a Doutrina Espírita.

Que Deus nos ajude.

Domício.

domingo, 24 de outubro de 2021

TRABALHEMOS TAMBÉM

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TRABALHEMOS TAMBÉM

E dizendo: varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões.

(Atos, 14:15).

O grito de Paulo e Barnabé ainda repercute entre os aprendizes fiéis.

A família cristã muita vez desejado perpetuar a ilusão dos habitantes de Listra.

Os missionários da Revelação não possuem privilégio ante o espírito de testemunho pessoal no serviço. As realizações que poderíamos apontar por graça ou prerrogativa especial, nada mais exprimem senão o profundo esforço deles mesmos, no sentido de aprender e aplicar com Jesus.

O Cristo não fundou com a sua doutrina um sistema de deuses e devotos, separados entre si; criou vigoroso organismo de transformação espiritual para o bem supremo, destinado a todos os corações sedentos de luz, amor e verdade.

No Evangelho, vemos Madalena arrastando dolorosos enganos, Paulo perseguindo ideais salvadores, Pedro negando o Divino Amigo, Marcos em luta com as próprias hesitações; entretanto, ainda aí, contemplamos a filha de Magdala, renovada no caminho redentor, o grande perseguidor convertido em arauto da Boa-Nova, o discípulo frágil conduzido à glória espiritual e o companheiro vacilante transformado em evangelista da Humanidade inteira.

O Cristianismo é fonte bendita de restauração da alma para Deus.

O mal de muitos aprendizes procede da idolatria a que se entregam, em derredor dos valorosos expoentes da fé viva, que aceitam no sacrifício a verdadeira fórmula de elevação; imaginam-nos em tronos de fantasia e rojam-se-lhes aos pés, sentindo-se confundidos, inaptos e miseráveis, esquecendo que o Pai concede a todos os filhos as energias necessárias à vitória.

Naturalmente, todos devemos amor e respeito aos grandes vultos do caminho cristão; todavia, por isto mesmo, não podemos olvidar que Paulo e Pedro, como tantos outros, saíram das fraquezas humanas para os dons celestiais e que o planeta terreno é uma escola de iluminação, poder e triunfo, sempre que buscamos entender-lhe a grandiosa missão.

NOSSA REFLEXÃO

Esta mensagem nos traz a reflexão da transformação moral ou reforma íntima. Não cabe, a nós, nos eximir do esforço de nos melhorarmos, sob a desculpa que não somos superiores como o Cristo.

O Cristo veio para os Espíritos encarnados fracos, doentes e imperfeitos[1] e contou com irmãos, já evoluídos, sim, mas ainda apresentando sinais de imperfeições. Por isso, os que o seguiram, depois de algumas situações de provas que passaram, a maioria caiu na fé, ou os que o perseguiram, não entendo a missão de Jesus, seguiu fielmente, e de modo muito contundente e até inflexível, a sua religião, como foi o caso de Saulo de Tarso, um Doutor da Lei mosaica, que depois da sua conversão ao Cristianismo, veio a se chamar de Paulo, o Apóstolo dos Gentios. Outros (as) se renderam ao contato com o Cristo e se transformaram da noite para o dia, como foi o caso de Madalena[2]. E Paulo, no caput desta mensagem, nos lembra que ele e seus companheiros não estavam livres de provas, mas que se esforçavam em não cair.

Então, somos potencialmente modificáveis e o Cristo mostrou acreditar nisto. Para isso precisamos nos esforçar, duramente, para que possamos nos reformar intimamente. Sobre isto, A. Kardec nos estimula e cobra comprometimento com a nossa evolução e nos diz que “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”[3].

Que sejamos resolutos em nossa transformação moral, sabendo que temos muito a aprender e que possivelmente cairemos aqui e ali, como aprendizes que ainda não aprenderam, mas que merecem uma nova avaliação.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo”. (Mateus, 11:28 a 30). Segundo A. Kardec, “Seu jugo é a observância dessa lei; mas esse jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, Item 2).
[2] Vide mensagem de Emmanuel, intitulada Madalena, seguida de nossa reflexão.
[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4 (Os bons espíritas).

domingo, 17 de outubro de 2021

CADÁVERES

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CADÁVERES

Pois onde estiver o cadáver, ai se ajuntarão as águias.

Mateus (24:28).

Apresentando a imagem do cadáver e das águias, referia-se o Mestre à necessidade dos homens penitentes, que precisam recursos de combate à extinção das sombras em que se mergulham.

Não se elimina o pântano, atirando-lhe flores.

Os corpos apodrecidos no campo atraem corvos que os devoram.

Essa figura, de alta significação simbológica, é dos mais fortes apelos do Senhor, conclamando os servidores do Evangelho aos movimentos do trabalho santificante.

Em vários círculos do Cristianismo renascente surgem os que se queixam, desalentados, da ação de perseguidores, obsessores e verdugos visíveis e invisíveis. Alguns aprendizes se declaram atados à influência deles e confessam-se incapazes de atender aos desígnios de Jesus.

Conviria, porém, muita ponderação, antes de afirmativas desse jaez, que apenas acusam os próprios autores.

É imprescindível lembrar sempre que as aves impiedosas se ajuntarão em torno de cadáveres ao abandono.

Os corvos se aninham noutras regiões, quando se alimpa o campo em que permaneciam.

Um homem que se afirma invariavelmente infeliz fornece a impressão de que respira num sepulcro; todavia, quando procura renovar o próprio caminho, as aves escuras da tristeza negativa se afastam para mais longe.

Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel, inspirado na exortação do Mestre, traduz como o seu ensinamento se configura em nossa vida. Usando uma figura de linguagem, lembra o processo de aproximação das águias a um animal morto, e que isto acontece quando o cadáver não é velado ou está abandonado.

Nós temos um mundo íntimo. Conforme Emmanuel, temos que cuidar para que ele esteja sempre limpo ou com nada morto, se expressando assim: “Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição”.

Devemos, então, manter nosso campo íntimo, mental, sempre limpo e resguardado de aproximação de pensamentos infelizes, pois, do contrário, atrairemos o pior para as nossas vidas. Este pensamento de Emmanuel é corroborados pelos Espíritos Superiores da Codificação espírita, pois, conforme eles, respondendo à questão de nº 469, formulada por Allan Kardec[1], sobre como nos proteger das influências dos maus Espíritos,

Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejem ter sobre vós. Guardai-vos de atender às sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos ensinou a dizer: ‘Senhor! não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal’.”

Então, devemos evitar de sermos sepulcros ou campos abandonados, evitando, assim, a aproximação de pensamentos tristes ou maldosos que nos afetam a saúde mental e física, e que podem nos levar a atos infelizes ou à prostração física.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Cap. IX.

sábado, 9 de outubro de 2021

TRABALHO SUSPENSO

 Olá, caríssimos (as) leitores(as)!!

Hoje, por motivo de trabalho acadêmico, não poderei fazer a nossa reflexão domingueira, respeitando o horário de sempre.

Então, adiamos para o próximo domingo.

Muita paz, saúde e alegrias!!

Domício.

domingo, 3 de outubro de 2021

COM CARIDADE

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COM CARIDADE

Todas as vossas coisas sejam feitas com caridade.

Paulo (I CORÍNTIOS, 16:14).

Ainda existe muita gente que não entende outra caridade, além daquela que se veste de trajes humildes aos sábados ou domingos para repartir algum pão com os desfavorecidos da sorte, que aguarda calamidades públicas para manifestar-­se ou que lança apelos comovedores nos cartazes da imprensa.

Não podemos discutir as intenções louváveis desse ou daquele grupo de pessoas; contudo, cabe­-nos reconhecer que o dom sublime é de sublime extensão.

Paulo indica que a caridade, expressando amor cristão, deve abranger todas as manifestações de nossa vida.

Estender a mão e distribuir reconforto é iniciar a execução da virtude excelsa. Todas as potências do espírito, no entanto, devem ajustar­-se ao preceito divino, porque há caridade em falar e ouvir, impedir e favorecer, esquecer  e recordar. Tempo virá em que a boca, os ouvidos e os pés serão aliados das mãos fraternas nos serviços do bem supremo.

Cada pessoa, como cada coisa, necessita da contribuição da bondade, de modo particular. Homens que dirigem ou que obedecem reclamam­-lhe o concurso santo, a fim de que sejam esclarecidos no departamento da Casa de Deus, em que se encontram. Sem amor sublimado, haverá sempre obscuridade, gerando complicações.

Desempenha tuas mínimas tarefas com caridade, desde agora. Se não encontras retribuição espiritual, no domínio do entendimento, em sentido imediato, sabes que o Pai acompanha todos os filhos devotadamente.

Há pedras e espinheiros? Fixa-­te em Jesus e passa.

NOSSA REFLEXÃO

A Caridade é a temática desta mensagem de Emmanuel. Envolvendo-nos com uma casa religiosa, sempre teremos atividades sociais para contribuir, seja com a contribuição de gêneros alimentícios ou roupas, ou mesmo com a organização delas. Se nos informam de uma catástrofe envolvendo uma comunidade, temos a oportunidade de ajudar enviando recursos que a ajudem a passar pelo momento desolador. Fome é o que não falta em muitas comunidades pelo mundo a fora. Organizações não governamentais realizam campanhas para atender os necessitados. Então, tudo isto representa um louvável tipo de caridade, denominada caridade material.[1] Contudo, há alguns infortúnios que não chegam ao conhecimento da massa caridosa. A. Kardec nos lembra que

Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. No entanto, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.[2]

A intenção desta ação vai além de uma caridade material, pois a ação de se dirigir a um necessitado, sem ele pedir, evitando que o mesmo se humilhe, se constitui outro tipo de caridade, como A. Kardec nos ensina:

A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola (grifos nossos).[3]

Mas, em essência, o que significa a caridade moral na relação com o nosso semelhante, segundo o Espírito Irmã Rosália?

A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.[4]

Então, que possamos, iluminados por Cristo, cujo pensamento foi interpretado pelos Espíritos citados acima, e como diz Emmanuel nesta mensagem, baseando-se em Paulo, praticar a caridade, como aquela que, “[...], expressando amor cristão, deve abranger todas as manifestações de nossa vida”.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide Itens 9-16 do Cap. XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[2] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 4.
[3] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 3.
[4] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 9.