domingo, 19 de setembro de 2021

CONVENÇÕES

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CONVENÇÕES

E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.

(Marcos, 2:27).

O sábado, nesta passagem evangélica, simboliza as convenções organizadas para o serviço humano. Há criaturas que por elas sacrificam todas as possibilidades de elevação espiritual. Quais certos encarregados dos serviços públicos que adiam indefinidamente determinadas providências de interesse coletivo, em virtude da ausência de um selo minúsculo, pessoas existem que, por bagatelas, abandonam grandes oportunidades de união com a esfera superior.

Ninguém ignora o lado útil das convenções. Se fossem totalmente imprestáveis, o Pai não lhes permitiria a existência no jogo das circunstâncias. São tabelas para a classificação dos esforços de cada um, tábuas que designam o tempo adequado a esse ou àquele mister; todavia, transformá-las em preceito inexpugnável ou em obstáculo intransponível, constitui grave dano à tranquilidade comum.

A maioria das pessoas atende-as, antes da própria obediência a Deus; entretanto, o Altíssimo dispôs todas as organizações da vida para que ajudem a evolução e o aprimoramento dos filhos.

O próprio planeta foi edificado por causa do homem.

Se o Criador foi a esse extremo de solicitude em favor das criaturas, por  que deixarmos de satisfazer-lhe os divinos desígnios, prendendo-nos às preocupações inferiores da atividade terrestre?

As convenções definem, catalogam, especificam e enumeram, mas não devem tiranizar a existência. Lembra-te de que foram dispostas no caminho a fim de te servirem. Respeita-as, na feição justa e construtiva; contudo, não as convertas em cárcere.

NOSSA REFLEXÃO

Esta mensagem de Emmanuel cala fundo em nossos íntimos, quando nos lembramos de todas as convenções burocráticas e ainda as religiosas, que às vezes se transformam em um impeditivo inflexível para se fazer algo pelo semelhante ou por si, mesmo.

O contexto da afirmativa de Jesus se deu em um momento de trabalho de seus discípulos, que ocorreu num sábado, sendo eles questionados pelos fariseus. Jesus acrescenta ao versículo de Marcos citado no caput desta mensagem de Emmanuel: “De modo que o filho do homem é senhor também do sábado” (Marcos, 2, 28).[1]

As convenções, atingindo ao máximo, relativizam as relações de trabalho (que devem ser fundamentas em Lei) e geram preconceitos. No que tange aos rituais religiosos, estes devem ser respeitados, mas ainda assim, relativizados se for para o bem do crente.

O que não podemos é ser radicais em detrimento da pureza do coração[2] e da ajuda pessoal a quem precisa urgentemente, por exemplo, de ajuda que requer um trabalho particular no sábado.

Mas Emmanuel, transcende a questão do sábado para as mais diversas radicalizações, por causa de uma rotina, uma burocracia que é estabelecida no conjunto de atividades trabalhistas vinculadas à uma empresa ou mesmo pessoal. Toda regra deve ter uma exceção, se o motivo for justo. Para Emmanuel, toda convenção é respeitável, pois nascem da relações humanas, mas, segundo ele, “[...] transformá-las em preceito inexpugnável ou em obstáculo intransponível, constitui grave dano à tranquilidade comum”.

Lembremos, toda citação bíblica ou evangélica deve ser analisada a luz do contexto e do tempo em que ocorreram e qual a intenção de quem a proferiu. Isto não é negar o que está escrito, mas fazer da leitura uma via libertadora do Espírito. A Doutrina Espírita não se prende a palavras, mas ao significado delas no contexto em que foram dita ou escritas. Recorremos à A. Kardec, sobre isto, quando dissertou sobre a polêmica do pagamento de tributos pelos judeus aos romanos, em que Jesus afirmou: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mateus, 22:15 a 22; Marcos, 12:13 a 17):

Esta sentença: “Dai a César o que é de César”, não deve, entretanto, ser entendida de modo restritivo e absoluto. Como em todos os ensinos de Jesus, há nela um princípio geral, resumido sob forma prática e usual e deduzido de uma circunstância particular.[3]

 

Assim, que tenhamos em mente que, para além das convenções, estão o nosso progresso espiritual e a necessidade do semelhante.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] O Novo Testamento. Trad. de Haroldo Dutra Dias. 1. ed.  2. imp. Brasília: FEB, 2013.
[2] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII – Bem-aventurados os que têm puro o coração.
[3] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, Item 7. Isto nos faz lembrar uma assertiva de Paulo, o Apóstolo: “A palavra mata, mas o Espírito vivifica” (PAULO, II CORÍNTIOS, 3: 6).

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