domingo, 25 de abril de 2021

PENSASTE NISSO?

12

PENSASTE NISSO?

Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, segundo o que também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado.

                II Pedro (1:14).

Se muitas vezes grandes vozes do Cristianismo se referiram a supostos crimes da carne, é necessário mencionar as fraquezas do “eu”, as inferioridades do próprio espírito, sem concentrar falsas acusações ao corpo, como se este representasse o papel de verdugo implacável, separado da alma, que lhe seria, então, prisioneira e vítima.

Reparamos que Pedro denominava o organismo, como sendo o seu tabernáculo.

O corpo humano é um conjunto de células aglutinadas ou de fluidos terrestres que se reúnem, sob as leis planetárias, oferecendo ao Espírito a santa oportunidade de aprender, valorizar, reformar e engrandecer a vida.

Frequentemente o homem, qual operário ocioso ou perverso, imputa ao instrumento útil as más qualidades de que se acha acometido. O corpo é concessão da Misericórdia Divina para que a alma se prepare ante o glorioso porvir.

Longe da indébita acusação à carne, reflitamos nos milênios despendidos na formação desse tabernáculo sagrado no campo evolutivo.

Já pensaste que és um Espírito imortal, dispondo, na Terra, por algum tempo, de valiosas potências concedidas por Deus às tuas exigências de trabalho?

Tais potências formam-te o corpo.

Que fazes de teus pés, de tuas mãos, de teus olhos, de teu cérebro? Sabes que esses poderes te foram confiados para honrar o Senhor iluminando a ti mesmo? Medita nestas interrogações e santifica teu corpo, nele encontrando o templo divino.

NOSSA REFLEXÃO

Historicamente, do ponto de vista da fé religiosa, o tabernáculo era uma caixa ou arca onde era depositado algo considerado sagrado e que só os sarcedotes tinham acesso, podendo ser um cômodo onde se guardava a arca com algo considerado sagrado. Então, era um lugar íntimo que poucas pessoas tinham acesso.

Pedro comparou o corpo com o tabernáculo, considerando o quão sagrada é a alma que deve ser guardada. O corpo seria o depósito que também deveria ser cuidado pelo fim a que se presta.

Esta discussão está no contexto da bem-aventurança aos mansos e pacíficos. Pois há um pensamento equivocado de que uma atitude colérica é proveniente do corpo que dá força ao Espírito. Contrapondo-se a esta ideia, o Espírito Hahnemann discorre:

Segundo a ideia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados. É assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo [...]. O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade?[1]

Contudo, pela importância do corpo em nossa vida, pois sem ele não evoluiríamos, a Doutrina Espírita traz-nos uma reflexão sobre a relação dele com o Espírito que se aperfeiçoa fazendo uso dele. Deste modo, George, Espírito protetor nos aconselha:

Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a Lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre-arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo mal dirigido, pelos acidentes que causa.[2] 

Cuidemos, então, do nosso tabernáculo, como pensou Pedro e refletiu Emmanuel e todos os Espíritos Superiores da Codificação Espírita, organizada por Allan Kardec.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide a mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, Item 10.
[2] Vide a mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 11. 

domingo, 18 de abril de 2021

O BEM É INCANSÁVEL

 11
O BEM É INCANSÁVEL

E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.”

Paulo (II TESSALONICENSES, 3:13).

É muito comum encontrarmos pessoas que se declaram cansadas de praticar o bem. Estejamos, contudo, convictos de que semelhantes alegações não procedem de fonte pura.

Somente aqueles que visam determinadas vantagens aos interesses particularistas, na zona do imediatismo, adquirem o tédio vizinho da desesperação, quando não podem atender a propósitos egoísticos.

É indispensável muita prudência quando essa ou aquela circunstância nos induz a refletir nos males que nos assaltam, depois do bem que julgamos haver semeado ou nutrido.

O aprendiz sincero não ignora que Jesus exerce o seu ministério de amor sem exaurir-se, desde o princípio da organização planetária. Relativamente aos nossos casos pessoais, muita vez terá o Mestre sentido o espinho de  nossa ingratidão, identificando-nos o recuo aos trabalhos da nossa própria iluminação; todavia, nem mesmo verificando-nos os desvios voluntários e criminosos, jamais se esgotou a paciência do Cristo que nos corrige, amando, e tolera, edificando, abrindo-nos misericordiosos braços para a atividade renovadora.

Se Ele nos tem suportado e esperado através de tantos séculos, por que não poderemos experimentar de ânimo firme algumas pequenas decepções durante alguns dias?

A observação de Paulo aos tessalonicenses, portanto, é muito justa. Se nos entediarmos na prática do bem, semelhante desastre expressará em verdade que ainda nos não foi possível a emersão do mal de nós mesmos.

NOSSA REFLEXÃO

A nossa vida é cheia de altos e baixos porque não vivemos isolados dos outros. Nem tudo que fazemos depende tão somente de nós, mas em geral, depende, também, dos outros.

Nossos desejos e aspirações devem ser sempre contextualizados. Isto é, nunca devemos esquecer que vivemos num contexto social e produzimos a partir de nossas disposições e conhecimentos, como também das colaborações de terceiros, numa relação social.

De certo que teremos muitas contrariedades e decepções e deveremos recuar em algumas metas ou alterá-las para atingirmos o mais próximo possível dos nossos objetivos.

Nossa vontade não deve ser soberana, pois soberana só a vontade de Deus. Essa consciência será tão sentida, quanto mais próximos estivermos Dele.

Além disto, saibamos compreender a real relação que devemos para com o Pai, como tão bem descreveu Jesus Cristo. E ao oramos a Ele, lembremos que Ele é soberanamente justo e rendemos a Ele o Pai Nosso com a consciência que Jesus no ensinou.[1]

Mas se mesmo orando, todos os dias, e nem tudo obedece aos nosso desejos, nem sempre somos premiados com a gratidão, lembremos o que Emmanuel ressalta nesta mensagem, quando nos lembra de Jesus: “Se Ele nos tem suportado e esperado através de tantos séculos, por que não poderemos experimentar de ânimo firme algumas pequenas decepções durante alguns dias?”

 Então, não devemos pensar que fazer o bem é um trabalho que merece salário justo imediato. Saber ser compreensivo com as dificuldades dos outros em nos atender de imediato, também faz parte do nosso processo evolutivo. Além disto, lembremos quem nem sempre fomos imediatos em atender aos nossos semelhantes, causando-lhe decepções.

Os Espíritos Superiores, em resposta à A. Kardec sobre a ingratidão a um bem cometido, responderam: “Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus”[2].

Que sejamos gratos à Deus pelas oportunidades de fazer o bem, mesmo que não tenhamos a vida plena de saúde, de sucessos em todos os projetos ou seja demorado para alcançá-los.

Sigamos em paz, sempre prontos para fazer o bem, incondicionalmente.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide reflexão do Espírito Emmanuel e a nossa subsequente em Pai-Nosso.
[2] Vide resposta na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 19.

domingo, 11 de abril de 2021

SENTIMENTOS FRATERNOS

 10
SENTIMENTOS FRATERNOS

Quanto, porém, à caridade fraternal, não necessitais de que vos escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis uns aos outros.

Paulo (I TESSALONICENSES, 4:9).

Forte contrassenso que desorganiza a contribuição humana, no divino edifício do Cristianismo, é o impulso sectário que atormenta enormes fileiras de seus seguidores.

Mais reflexão, mais ouvidos ao ensinamento de Jesus e essas batalhas injustificáveis estariam para sempre apagadas.

Ainda hoje, com as manifestações do plano espiritual na renovação do mundo, a cada momento surgem grupos e personalidades, solicitando fórmulas do Além para que se integrem no campo da fraternidade pura.

Que esperam, entretanto, os companheiros esclarecidos para serem efetivamente irmãos uns dos outros?

Muita gente se esquece de que a solidariedade legítima escasseia nos ambientes onde é reduzido o espírito de serviço e onde sobra a preocupação de criticar. Instituições notáveis são conduzidas à perturbação e ao extermínio, em vista da ausência do auxílio mútuo, no terreno da compreensão, do trabalho e da boa-vontade.

Falta de assistência? Não.

Toda obra honesta e generosa repercute nos planos mais altos, conquistando cooperadores abnegados.

Quando se verifique a invasão da desarmonia nos institutos do bem, que os agentes humanos acusem a si mesmos pela defecção nos compromissos assumidos ou pela indiferença ao ato de servir. E que ninguém peça ao Céu determinadas receitas de fraternidade, porque a fórmula sagrada e imutável permanece conosco no “amai-vos uns aos outros”.

NOSSA REFLEXÃO

Emmanuel toca uma questão muito significativa para o movimento religioso, e, sendo um orientador das lides espíritas, esta mensagem, possivelmente, foi direcionada ao movimento espírita da época em que ele escreveu esta mensagem. A pergunta que surge à mente é: vale para a atualidade? Compreendendo esta mensagem e aquela que está gravada em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX – Os obreiros do Senhor[1], sim.

Destacamos a necessidade de calarmos as dissensões nas casas espíritas e no movimento espirita em geral, visando um consenso mínimo sobre o estudo, reuniões e práticas que devem ser desenvolvidas em uma Casa Espírita.

Neste sentido, na primeira metade do século XX, um movimento intenso, com a participação de vários confrades ilustres do movimento espírita, resultou na assinatura do Pacto Áureo, em 1949[2]. Este pacto se baseou fortemente, como indica seu objetivo maior, na Unificação espírita.

Então, que tenhamos nas nossas hostes espíritas um sentimento integrador, fraterno, cristão. E lembremos, como Emmanuel nos faz lembrar: “E que ninguém peça ao Céu determinadas receitas de fraternidade, porque a fórmula sagrada e imutável permanece conosco no ’amai-vos uns aos outros’”.

Que Deus nos ajude.

Domício.

[1]Item 5 - “Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra! (O Espírito de Verdade)
[2] Leopoldo Cirne (1870-1941); Carlos Imbassahy (1883-1969); Guillon Ribeiro (1875-1943 -maranhense); Wantuil de Freitas (1895-1974); Cairbar de Souza Schutel (1868-1938); e Bezerra de Menezes (1831-1900), para citar alguns. Vide artigo de Célia da Graça Arribas (Espíritas de todo o Brasil, uni-vos! Meandros da unificação espírita na primeira metade do século XX), disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-85872017000300150#B15. Acesso em 11 abr. 2021.

domingo, 4 de abril de 2021

HOMENS DE FÉ

 9
HOMENS DE FÉ

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.

Jesus (MATEUS, 7:24).

Os grandes pregadores do Evangelho sempre foram interpretados à conta de expressões máximas do Cristianismo, na galeria dos tipos veneráveis da fé; entretanto, isso somente aconteceu quando os instrumentos da verdade, efetivamente, não olvidaram a vigilância indispensável ao justo testemunho.

É interessante verificar que o Mestre destaca, entre todos os discípulos, aquele que lhe ouve os ensinamentos e os pratica. Daí se conclui que os homens de fé não são aqueles apenas palavrosos e entusiastas, mas os que são portadores igualmente da atenção e da boa-vontade, perante as lições de Jesus, examinando-lhes o conteúdo espiritual para o trabalho de aplicação no esforço diário.

Reconforta-nos assinalar que todas as criaturas em serviço no campo evangélico seguirão para as maravilhas interiores da fé. Todavia, cabe-nos salientar, em todos os tempos, o subido valor dos homens moderados que, registrando os ensinos e avisos da Boa Nova, cuidam, desvelados, da solução de todos os problemas do dia ou da ocasião, sem permitir que suas edificações individuais se processem longe das bases cristãs imprescindíveis.

Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e indispensável, mas aprendiz algum deverá esquecer o sublime valor do silêncio, a seu tempo, na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a ponderação se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos.

NOSSA REFLEXÃO

Há uma diferença entre aquele que acredita e o que mostra que segue o que acredita. Somos convidados a nos transformar diariamente, dado que, se somos estudiosos da Doutrina Cristã espírita, devemos internalizá-la no dia a dia através de nossos pensamentos e ações.

Somos identificados e avaliados socialmente, não só pelo que mostramos saber, mas, muito mais, pelo  que mostramos fazer. Se temos a fácil palavra, somos convidados a falar. É nesse momento que as nossas responsabilidades aumentam.

Sabemos, também, que o estudo é um passo para evoluir moralmente, pois senão não teríamos evoluções na sistematização da implantação do Evangelho na Terra.

Até hoje, conhecemos, da Doutrina Cristã, três revelações: duas identificadas numa personalidade – Moisés e Jesus; e uma terceira, sem personalização, pois é atribuída aos Espíritos Superiores sob a égide de Jesus Cristo – A Doutrina Espírita ou o Espiritismo[1].

O problema do ser humano, particularmente os que demonstram saber, é que nem sempre demonstram ser o que mostram entender. Somos desafiados, a todo instante, a mostrar que sabemos. Infelizmente, falhamos muito quando somos provados em nossa fé. Passamos por uma iniciação diariamente e o embate entre o que sabemos e o que sentimos é muito grande. É quando, às vezes, traímos a nossa fé, ao relevar o que sentimos inferiormente.

Ou seja, devemos ter cuidado conosco no dia a dia para que não nos transformemos em falsos profetas (MATEUS, 7:21)[2].

Ou ainda, como Emmanuel nos adverte: “É interessante verificar que o Mestre destaca, entre todos os discípulos, aquele que lhe ouve os ensinamentos e os pratica.”

É uma luta que, com perseverança e fé, nós venceremos.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Vide as características de cada uma em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I – Não vim destruir a Lei.
[2] “Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas aquele que realiza a vontade de meu Pai que está nos céus”. Vide interpretação espírita em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXI – Haverá falsos cristos e falsos profetas.