domingo, 28 de novembro de 2021

CONTA PARTICULAR

 38
CONTA PARTICULAR

Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence!

Jesus (LUCAS, 19:42).

A exclamação de Jesus, junto de Jerusalém, aplica-se muito mais ao coração do homem – templo vivo do Senhor – que à cidade de ordem material, destinada à ruína e à desagregação nos setores da experiência.

Imaginemos o que seria o mundo, se cada criatura conhecesse o que lhe pertence à paz íntima.

Em virtude da quase geral desatenção a esse imperativo da vida, é que os homens se empenham em dolorosos atritos, assumindo escabrosos débitos.

Atentemos para a assertiva do Mestre – “ao menos neste teu dia”.

Estas palavras convidam-nos a pensar na oportunidade de serviço de que dispomos presentemente e a refletir nos séculos que perdemos; compelem-nos a meditar quanto ao ensejo de trabalho, sempre aberto aos espíritos diligentes.

O homem encarnado dispõe dum tempo glorioso que é provisoriamente dele, que lhe foi proporcionado pelo Altíssimo em favor de sua própria renovação.

Necessário é que cada um conheça o que lhe toca à tranquilidade individual. Guarde cada homem digna atitude de compreensão dos deveres próprios e os fantasmas da inquietude estarão afastados. Cuide cada pessoa do que se lhe refira à conta particular e dois terços dos problemas sociais do mundo surgirão naturalmente resolvidos.

Repara as pequeninas exigências de teu círculo e atende-as, em favor de ti mesmo.

Não caminharás entre as estrelas, antes de trilhares as sendas humildes que te competem.

NOSSAS REFLEXÕES

A sensação de paz, em nós, surge quando nos sentimos realizados em relação aos nossos deveres. O que seria, então, o dever? Para o Espírito Lázaro, “dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados”[1]. Em se tratando do dever moral, ele continua: “O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós”

Então, na ordem das relações humanas, devemos seguir o Cristo, com a compreensão de quem já passou inúmeras vezes pelos processo de se indagar em relação à pergunta à Sua pergunta, inspiração do Espírito Emmanuel para escrever esta página.

Paz implica em mansuetude e humildade. Elementos chave das bem-aventuranças sobre “os que são brandos e pacíficos” (MATEUS, 5:5 e 9)  e “os pobres de espíritos” (MATEUS, 5:3), respectivamente.[2]

Então, em todas as nossas atividades na sociedade pedem que estejamos com o Espírito desarmado, mesmo em situações que nos pedem uma posição mais enérgica perante uma injustiça, uma violência ou exploração do homem pelo homem, às quais devemos nos posicionar contra, pois o Cristo não nos ensinou a ser cúmplices da falta de empatia com os nossos semelhantes. Ele mostrou uma atenção especial para com os pobres e estropiados, bem como para com as criancinhas. Seres que podem estar em profunda vulnerabilidade social. Mas o envolvimento de cada um e de cada uma, nesse processo, não necessariamente deve ser do mesmo modo. Cada um e cada uma deve agir conforme a sua consciência.

Mas de todo modo, se lutarmos contra, que lutemos com esperança, pacificamente, contra as injustiças sociais, sem afetar, moral e fisicamente, aqueles que cometem injustiças e violências.

Que saibamos pensar como o Cristo nos lembrou em relação à nossa paz, em qualquer momento de nossas vidas.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[1] Vide mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo Espiritismo, Cap. XVII, item 7.
[2]
Vide os capítulos VII e IX de O Evangelho Segundo Espiritismo sobre a temática.

domingo, 21 de novembro de 2021

SERIA INÚTIL

 37
SERIA INÚTIL

Respondeu-lhes: Já vo-lo disse e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir?

(JOÃO, 9:27).

É muito frequente a preocupação de muitos religiosos, no sentido de transformarem os amigos compulsoriamente, conclamando-os às suas convicções particularistas. Quase sempre se empenham em longas e fastidiosas discussões, em contínuos jogos de palavras, sem uma realização sadia ou edificante.

O coração sinceramente renovado na fé, entretanto, jamais procede assim.

É indispensável diluir o prurido de superioridade que infesta o sentimento de grande parte dos aprendizes, tão logo se deixam conduzir a novos portos de conhecimento, nas revelações gradativas da sabedoria divina, porque os discutidores de más inclinações se incumbem de interceptar-lhes a marcha.

A resposta do cego de nascença aos judeus argutos e inquiridores é padrão ativo para os discípulos sinceros.

Lógico que o seguidor de Jesus não negará um esclarecimento acerca do Mestre, mas se já explicou o assunto, se já tentou beneficiar o irmão mais próximo com os valores que o felicitam, sem atingir o alheio entendimento, para que discutir? Se um homem ouviu a verdade e não a compreendeu, fornece evidentes sinais de paralisia espiritual. Ser-lhe-á inútil, portanto, escutar repetições imediatas, porque ninguém enganará o tempo, e o sábio que desafiasse o ignorante rebaixar-se-ia ao título de insensato.

Não percas, pois, as tuas horas através de elucidações minuciosas e repetidas para quem não as pode entender, antes que lhe sobrevenham no caminho o sol e a chuva, o fogo e a água da experiência.

Tens mil recursos de trabalhar em favor de teu amigo, sem provocá-lo ao teu modo de ser e à tua fé.

NOSSA REFLEXÃO

Eis uma mensagem de Emmanuel muito oportuna, como todas. Ele nos orienta a não sermos proselitistas. Ou, seja, que não nos preocupemos em convencer o máximo possível de pessoas de que o que acreditamos é o que está certo.

É louvável que tenhamos a vontade de esclarecer as pessoas sobre o que o Espiritismo nos esclareceu. Contudo, uma informação só se torna conhecimento quando o que tem acesso à ela tem interesse por ela. Então, faz-se desnecessário nos tornarmos uma pessoa desagradável ao querer convencer quem não tem interesse sobre o que acreditamos ser uma verdade. Cada um no seu tempo para absorver algumas verdades.

Sobre isto, Allan Kardec nos disserta:

O Espiritismo, hoje, projeta luz sobre uma imensidade de pontos obscuros; não a lança, porém, inconsideradamente. Com admirável prudência se conduzem os Espíritos, ao darem suas instruções. Só gradual e sucessivamente consideraram as diversas partes já conhecidas da Doutrina, deixando as outras partes para serem reveladas à medida que se for tornando oportuno fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o primeiro momento, somente a reduzido número de pessoas se teria ela mostrado acessível; houvera mesmo assustado as que não se achassem preparadas para recebê-la, do que resultaria ficar prejudicada a sua propagação.[1]

 

Então, em vez de queremos convencer a todos e a todas que o Espiritismo é a verdade, que nós sejamos exemplos vivos que a Doutrina Espírita é benéfica em nossas vidas e tem poder transformador, como Emmanuel nos convida em sua mensagem Candeia Viva do livro Fonte Viva.

Que, sem o intuito de convencer ninguém, possamos nos convencer, cada vez mais, de que o Espiritismo é uma ótima via para a nossa reforma íntima. Que nos coloquemos à disposição de quem queira ouvir uma explanação sobre algo de seu interesse. Assim, seremos mais úteis às pessoas no contexto religioso.

Como Emmanuel nos chama à atenção, nesta mensagem: “Lógico que o seguidor de Jesus não negará um esclarecimento acerca do Mestre, mas se já explicou o assunto, se já tentou beneficiar o irmão mais próximo com os valores que o felicitam, sem atingir o alheio entendimento, para que discutir?”

Que Deus nos ajude.

            Domício.


[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, Item 7.

domingo, 14 de novembro de 2021

ATÉ O FIM

 36
ATÉ O FIM

Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.

Jesus (MATEUS, 24:13).

Aqui não vemos Jesus referir-se a um fim que simbolize término e, sim, à finalidade, ao alvo, ao objetivo.

O Evangelho será pregado aos povos para que as criaturas compreendam e alcancem os fins superiores da vida.

Eis por que apenas conseguem quebrar o casulo da condição de animalidade aqueles Espíritos encarnados que sabem perseverar.

Quando o Mestre louvou a persistência, evidenciava a tarefa árdua dos que procuram as excelências do caminho espiritual.

É necessário apagar as falsas noções de favores gratuitos da Divindade.

Ninguém se furtará, impune, à percentagem de esforço que lhe cabe na obra de aperfeiçoamento próprio.

As portas do Céu permanecem abertas. Nunca foram cerradas. Todavia, para que o homem se eleve até lá, precisa asas de amor e sabedoria. Para isto, concede o supremo Senhor extensa cópia do material de misericórdia a todas as criaturas, conferindo, entretanto, a cada um o dever de talhá-las. Semelhante tarefa, porém, demanda enorme esforço. A fim de concluí-la, recruta-se a contribuição dos dias e das existências. Muita gente se desanima e prefere estacionar, séculos a fio, nos labirintos da inferioridade; todavia, os bons trabalhadores sabem perseverar, até atingirem as finalidades divinas do caminho terrestre, continuando em trajetória sublime para a perfeição.

NOSSA REFLEXÃO

Perseverar em atitudes otimistas é o que nos move, é o que nos tira da estagnação moral. Somos resultado de nós mesmos. Daí, muitas vezes, o empecilho em avançar na caminhada está em nós mesmos. Então, apesar que devemos contar com a assistência de nossos bons amigos espirituais, temos que fazer nossa parte para que vençamos a nós mesmos. Como Emmanuel nos diz, nesta mensagem, “ninguém se furtará, impune, à percentagem de esforço que lhe cabe na obra de aperfeiçoamento próprio”.

Emmanuel, também, nos motiva com a mensagem “Varonilmente”, em Fonte Viva, quando lembra Paulo (I CORÍNTIOS, 16:13) e o interpreta. Temos que ser fortes na luta pelo aperfeiçoamento moral. Isto até o fim, como esta mensagem propõe.

Temos um dever para com Deus, para com os semelhantes e para conosco mesmos. Em se referindo ao dever, o Espírito Lázaro nos amplia a visão sobre ele:

O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria.[1]

Então, sejamos tal qual aquele que, sabendo onde quer chegar, faz tudo para alcançar seu objetivo.

Que Deus nos ajude.

Domício.

PS. Compartilho com os leitores e as leitoras uma poesia de L. Angel sobre esta temática.

VENCER É UM ATRIBUTO DO ESPÍRITO

L. Angel               23/02/2020

As maiores conquistas,

Nesse mundo de meu Deus,

Nos dão verdadeiras pistas

De que somos filhos Seus.

Todos podem,

Todos conseguem,

Não duvidem

E caminhem.

Somos perfectíveis.

Porém, ninguém dá saltos sozinho.

A solidariedade faz parte de todos os níveis.

Andaremos sempre juntos, em qualquer caminho.

Sejamos intertutores, vivendo em comunhão.

A vida é o resultado de muita luta

E a mão é a extensão do coração.

Dar é melhor que receber.

Quem dá é beneficiado por uma permuta,

Por atender um princípio do maior Ser.

Na vida, o que desejamos pra nós,

Pensando no que, pra vencer, é necessário,

Faz-nos apertar, dos laços de união, os nós.

Que a vitória, resultado de um evoluir,

Nos tornem mais mansos e solidários,

Pois esse é o objetivo de um existir.



[1] Vide a mensagem na íntegra em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 7.

domingo, 7 de novembro de 2021

O CRISTO OPERANTE

 35
O CRISTO OPERANTE

Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios.

Paulo (GÁLATAS, 2:8).

A vaidade humana sempre guardou a pretensão de manter o Cristo nos círculos do sectarismo religioso, mas Jesus prossegue operando em toda parte onde medre o princípio do bem.

Dentro de todas as linhas de evolução terrestre, entre santuários e academias, movimentam-se os adventícios inquietos, os falsos crentes e os fanáticos infelizes que acendem a fogueira da opinião e sustentam-na. Entre eles, todavia, surgem os homens da fé viva, que se convertem nos sagrados veículos do Cristo operante.

Simão Pedro centralizou todos os trabalhos do Evangelho nascente, reajustando aspirações do povo escolhido.

Paulo de Tarso foi poderoso ímã para a renovação da gentilidade.

Através de ambos expressava-se o mesmo Mestre, com um só objetivo – o aperfeiçoamento do homem para o reino divino.

É tempo de reconhecer-se a luz dessas eternas verdades.

Jesus permanece trabalhando e sua bondade infinita se revela em todos os setores em que o amor esteja erguido à conta de supremo ideal.

Ninguém se prenda ao domínio das queixas injustas, encarando os discípulos sinceros e devotados por detentores de privilégios divinos. Cada aprendiz se esforce por criar no coração a atmosfera propícia às manifestações do Senhor e de seus emissários.

Trabalha, estuda, serve e ajuda sempre, em busca das esferas superiores, e sentirás o Cristo operante ao teu lado, nas relações de cada dia.

NOSSA REFLEXÃO

O Cristo nos disse que, como o Pai, ele trabalha sem cessar. E Emmanuel, ressalta isto: “Jesus permanece trabalhando e sua bondade infinita se revela em todos os setores em que o amor esteja erguido à conta de supremo ideal”. Ele também nos lembra Pedro e Paulo. O primeiro ficou encarregado de conduzir o povo escolhido e o segundo, os gentios. Ambos trabalharam incansavelmente, sofrendo por isso, para dar conta do recado.

Nenhum dos dois foi privilegiado, como Emmanuel nos diz nesta mensagem. Que cada um carregue a sua cruz e siga, como o Cristo nos orientou.[1]

Então, que tenhamos coragem para seguir frente às dificuldades íntimas e àquelas exteriores para que não venhamos a perder as oportunidades de elevação.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[1] Chamando para perto de si o povo e os discípulos, disse-lhes: “Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; porquanto, aquele que se quiser salvar a si mesmo, perder-se-á; e aquele que se perder por amor de mim e do Evangelho se salvará.” — Com efeito, de que serviria a um homem ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo? (Marcos, 8:34 a 36; Lucas, 9:23 a 25; Mateus, 10:38 e 39; João, 12:25 e 26). Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, Item 19.